- Folha de S. Paulo
Para autor, ideologia liberal produziu desigualdade e homogeneidade cultural
O liberalismo fracassou e precisamos admitir isso, buscando uma nova forma de organização social e econômica. Essa é, grosso modo, a tese que o cientista político Patrick J. Deneen defende em seu “Why Liberalism Failed”. O livro ganhou agora uma edição lusitana, “Porque Está a Falhar o Liberalismo?”.
Eu não poderia discordar mais da conclusão de Deneen, que é a de que devemos retornar a um mundo comunitário, no qual família, religião e tradição tenham muito mais peso, mas ele levanta questões importantes, que ajudam a explicar o mal-estar democrático que o mundo atravessa.
Para Deneen, o fracasso do liberalismo é consequência de seu sucesso. Sua lógica foi levada a tal extremo que acabou revelando todas as suas contradições. Concebida para trazer mais equidade, pluralismo e liberdade individual, a ideologia liberal produziu na prática desigualdade e homogeneidade cultural.
Os sinais de que algo deu errado estão por toda parte, da política à economia, passando pela educação e pela ciência. Deneen pensa que o sistema não tem conserto. Só o que podemos fazer é resgatar culturas tradicionais, que serviriam como contraponto à lógica do individualismo.
Até concordo que o liberalismo ajudou a promover algumas das mazelas que Deneen aponta, mas como efeito colateral, e não como realização final. No mais, penso que o autor deixa de dar o devido crédito a muitas das conquistas do liberalismo, com destaque para a bonança material de nossa era e a redução das opressões que culturas tradicionais sempre exerceram sobre indivíduos.
Os Amish, que Deneen cita como exemplo de comunidade vigorosa na promoção de valores, são ao mesmo tempo uma demonstração de que o liberalismo não necessariamente mata culturas tradicionais e um caso emblemático de grupo que só se livrou de perseguições na Europa porque migrou para a América liberal.
Dou três semanas de folga ao leitor.
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