O Banco Central (BC) foi duplamente ousado, cortando os juros e indicando novos cortes em breve, mas falta saber se isso ajudará a mover a emperrada economia nacional. Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e Itaú também anunciaram na quarta-feira uma redução de taxas. Crédito mais barato é sempre bem-vindo pelas empresas e pelos clientes pessoas físicas, mas o custo do dinheiro é hoje apenas um dos entraves ao crescimento econômico.
Provavelmente está longe de ser o principal. Por enquanto, só é possível apontar com segurança alguns beneficiários da política monetária mais frouxa. Um deles é o Tesouro Nacional. Com a redução da Selic, a taxa básica, a dívida pública ficará mais barata e muitos bilhões serão economizados em um ano. Clientes endividados e empresas com necessidade urgente de um reforço financeiro também poderão comemorar. Investidores do mercado de capitais poderão lucrar com a valorização de ações. E como ficará o conjunto da economia?
Redução de juros pode facilitar o investimento produtivo e elevar o potencial de crescimento econômico. Mas dificilmente um dirigente de empresa comprará máquinas e equipamentos só porque o dinheiro ficou mais barato. Poderá comprar, como tem ocorrido, para substituir material muito depreciado ou desatualizado além da conta. Fora desse caso, será muito cauteloso, principalmente se a sua empresa estiver funcionando com ampla capacidade ociosa. É essa a condição de grande parte da indústria brasileira.
Além disso, quem se disporá a investir na produção, ou mesmo na formação de estoques, enquanto o consumo for muito fraco e os mercados de fora, especialmente o argentino, estiverem deprimidos? O péssimo desempenho da indústria, com novo recuo de 0,6% em junho e queda de 0,8% em 12 meses, reflete a fraquíssima demanda, principalmente interna, e a persistência de condições de emprego muito ruins.
Apesar de algum efeito positivo, juros mais baixos pouco afetarão, no curto prazo, a situação dos 25,1 milhões de desocupados, subempregados e desalentados e, é claro, de seus familiares. Se algum impulso movimentar o consumo, será provocado, muito mais provavelmente, pela liberação de recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e do PIS/Pasep. Mas essa liberação só deverá ocorrer a partir de setembro e em volumes muito limitados.
O efeito será ampliado, quase certamente, se o comércio entrar no jogo com promoções especiais, preços atraentes e alguma redução de margem por unidade vendida. Nesse caso, um impulso mais forte será repassado à indústria de bens de consumo. Então, haverá um papel mais importante para o financiamento mais barato – de capital de giro e de recursos para investimento produtivo.
Para produzir bons efeitos, será preciso combinar esses fatores com um aumento de confiança de consumidores e empresários. Isso dependerá em boa parte da capacidade política do governo e da tramitação, sem grandes problemas, da reforma da Previdência. Novas medidas de ajuste das contas públicas poderão ajudar. O presidente Jair Bolsonaro dará uma importante contribuição se cuidar mais de suas palavras e atitudes. Se continuar agindo como até agora, poderá criar, em algum momento, uma encrenca política bastante grave para travar as medidas econômicas e comprometer a recuperação da atividade.
Ao anunciar a redução dos juros básicos de 6,50% para 6%, o Copom, Comitê de Política Monetária do BC, emitiu uma nota excepcionalmente otimista. Mencionou, como de costume, a inflação moderada, a importância da pauta de reformas e o balanço de riscos internos e externos. Mas omitiu qualquer referência às incertezas, tema constante, há meses, nos documentos do comitê.
Houve quem criticasse como excessivamente otimista a referência a um cenário externo benigno, como se as grandes tensões comerciais estivessem resolvidas. O dado externo realmente benigno é o corte de juros americanos, combinado com a política frouxa na zona do euro. Mas nada parece tão estranho quanto a omissão das incertezas internas. Terá sido apenas uma distração?
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