- Folha de S. Paulo
Mudar lei não ajuda polícia séria, mas estimula quem atira antes e pergunta depois
Jair Bolsonaro lançou oficialmente seu programa de incentivo à carnificina generalizada. Num evento para divulgar a campanha publicitária do pacote de projetos do ministro Sergio Moro, o presidente ignorou quase todas as propostas objetivas e disse, basicamente, que a polícia deveria matar mais.
A ampliação das circunstâncias em que agentes armados podem atirar sem sofrer punição é uma conhecida fixação de Bolsonaro. Além de refletir um desprezo total pela inteligência nas políticas de segurança pública, o discurso ofende vítimas de violência policial, de balas perdidas e de grupos de extermínio.
O presidente falou por dez minutos na cerimônia realizada nesta quinta (3). Gastou 40 segundos com ações efetivas do governo, como a transferência de presos perigosos para regimes de isolamento. No resto do tempo, exaltou o bangue-bangue.
Bolsonaro reclamou da prisão de policiais acusados de excessos em operações. Disse que visitou alguns e concluiu: "Tinha culpado? Tinha, mas também tinha muito inocente".
Seu histórico mostra que ele não sabe fazer essa distinção. No evento, falou com orgulho das homenagens que já fez a agentes de segurança. Um dos agraciados, em 2005, foi o policial Adriano Nóbrega. Ele acabara de ser condenado por assassinar um homem que havia denunciado PMs por extorsão. Hoje, é apontado como chefe do maior grupo de matadores de aluguel do Rio.
O presidente diz que a lei aplicada aos policiais deve ser mais branda para que "seja temida pelos marginais, e não pelo cidadão de bem". Ele poderia dizer como enquadra a menina Ágatha Félix, que levou um tiro nas costas durante uma operação há 13 dias. A revista Veja revelou que PMs tentaram roubar a bala que a matou para evitar punições.
A flexibilização das regras não dá segurança a policiais sérios, pois a lei já protege quem mata em legítima defesa. Por outro lado, a mudança pode amparar quem usa farda para praticar crimes e agentes que atiram primeiro para perguntar depois.
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