- Folha de S. Paulo
Presidente
nunca foi um político particularmente interessado no combate à corrupção
Jair
Bolsonaro extraiu benefícios eleitorais da avalanche produzida pela Lava Jato,
mas nunca foi um político particularmente interessado no combate à corrupção.
Como deputado, não deu atenção ao tema e, na última campanha, só falava da
roubalheira para fustigar seus adversários na disputa.
A
rigor, o presidente
não tem vínculos diretos com a operação. Como circulava no
baixíssimo clero da política, não figurava entre os alvos que operavam nas
estatais investigadas. Depois de chegar ao Planalto, não trabalhou a favor das
forças-tarefas nem lançou uma discussão séria para corrigir seus excessos.
Os
movimentos de Bolsonaro em relação à Lava Jato e ao combate à corrupção, de
maneira geral, seguiram basicamente conveniências particulares e políticas. A
ficha só caiu quando o presidente enxergou investigadores no encalço de seus
parentes e de seus novos aliados.
Depois
de pegar carona no discurso da operação e de aproveitar sua retórica moralista
para eleger um governador no Rio, Flávio Bolsonaro resolveu acordar. Em agosto,
ele celebrou as decisões do procurador-geral Augusto Aras para impor limites à
operação e disse que “os excessos precisam ser investigados”. Se Fabrício
Queiroz não tivesse passado alguns dias na cadeia, talvez o senador
não tivesse percebido nada disso.
A
desenvoltura com que o clã presidencial passou a falar da operação é respaldada
pelos políticos que sobreviveram a ela. O novo líder do governo, Ricardo Barros
(Progressistas), já disse que vê “uma parcialidade na posição da Lava Jato” e
que a operação tirou o ex-presidente Lula da eleição de 2018. “Não precisamos
fazer muito esforço para perceber ativismo político”, declarou.
Acuado por críticas que ligam a indicação de Kassio Nunes para o STF a um acordo para enterrar a Lava Jato, Bolsonaro tentou fazer piada. Nesta quarta (7), ele disse ter acabado com a operação “porque não tem mais corrupção no governo”. A Lava Jato pode até não incomodá-lo, mas seus esforços são inegáveis.
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