segunda-feira, 1 de março de 2021

Ricardo Noblat - “Os 7 do Alvorada” discutem o que fazer à falta de vacinas

- Blog do Noblat / Veja

Roteiro da pior qualidade

Na noite em que o filme americano “Os 7 de Chicago” concorreu ao prêmio Globo de Ouro em cinco categorias e ganhou a de melhor roteiro, sete homens posaram para uma foto encostados a uma parede de livros do Palácio da Alvorada – cinco deles de braços cruzados, um com os braços estendidos ao longo do corpo e o outro com as mãos nos bolsos.

O filme foi baseado no caso real do julgamento de um grupo de ativistas políticos acusados pelo governo americano de conspiração e incitação à revolta durante os protestos contra a guerra do Vietnã que marcaram em 1968 a convenção do Partido Democrata em Chicago. Seis deles foram condenados na primeira instância da justiça e absolvidos na segunda.

A foto registrou o final do encontro de “Os 7 do Alvorada” que discutiram por mais de uma hora o que fazer com o agravamento da pandemia da Covid que ontem, pelo segundo dia consecutivo, bateu um novo recorde de mortes. Já são 39 dias seguidos com média móvel acima de mil mortos. Se no futuro “Os 7 do Alvorada” serão julgados ou não, ainda é cedo para prever.

Deles, três são militares (generais Braga Neto, chefe da Casa Civil, Luiz Eduardo Ramos, da Secretaria do Governo, e Eduardo Pazuello, ministro da Saúde). Um é ex-capitão (Bolsonaro, afastado do Exército por planejar atentados a bomba a quartéis, e presidente da República). E três são civis (o ministro da Economia e os presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado).

Bolsonaro começou o domingo afrontando de novo os governadores que adotaram medidas severas de isolamento. Compartilhou vídeo onde manifestantes, muitos sem máscaras, sitiam a casa do governador Ibaneis Rocha, em Brasília. À tarde, soube que a ministra Rosa Weber, do Supremo Tribunal, mandou que pagasse por leito de UTI em São Paulo, Maranhão e Bahia.

Cada um ao seu modo, “Os 7 do Alvorada” estão bem encrencados. O principal deles, parceiro do vírus que devasta o Brasil, foi contestado em nota assinada por 46 entidades médicas que reforçaram a necessidade do uso de máscara como instrumento de combate à doença. Será que os médicos daqui e a Organização Mundial de Saúde estão errados e apenas Bolsonaro está certo?

Pazuello terá que explicar à justiça por que disse em vídeo que soubera da falta de oxigênio em Manaus em determinada data, por que a Advocacia Geral da União confirmou que ele estava certo, e por que, agora, ele mudou a data. Mudou para eximir-se da responsabilidade de não ter agido a tempo. Sua cabeça está a prêmio para que Bolsonaro possa tentar salvar a dele.

O ministro Paulo Guedes ganhou um lugar na foto porque ele negocia com os presidentes da Câmara e do Senado o pagamento por mais três ou quatro meses do auxílio emergencial. A coisa está feia para seu lado. Por mais que Arthur Lira (PP-AL) e Rodrigo Pacheco (DEM-MG) tenham boa vontade com um governo que os ajudou a se eleger, deputados e senadores não têm tanto assim.

A eleição do ano que vem é o que interessa a todos eles. Sob a pressão dos eleitores, querem mais dinheiro para que sobrevivam melhor os brasileiros mais carentes. Não importa se há dinheiro suficiente para isso, nem se o rombo nas contas públicas ficará maior. Os governadores dos seus Estados se queixam do descaso do poder central com a pandemia. E isso é verdade.

Além do auxílio, onde estão as vacinas prometidas? O governo Bolsonaro, por meio de Pazuello, não havia dito que não faltariam vacinas? Disse até que metade dos brasileiros estaria vacinada em julho, não foi? O ritmo da vacinação em massa caiu à metade nas últimas semanas. Todo dia Pazuello anuncia que as vacinas estão chegando e elas não chegam em grandes quantidades.

Enquanto isso, o chefe de “Os 7 do Alvorada” viaja pelo país em visita a pequenas cidades para repor os votos que perde nas cidades de grande e médio porte. Só enxerga a reeleição. O resto pode esperar.

Deixa o vírus em paz para contaminar quem quiser

Livre trânsito para a Covid

O que os governadores chamam de lockdown (fechamento total) não tem passado de toque de recolher, e na maioria das vezes tímido. Reconhecem que deveriam adotar medidas mais duras, mas cadê coragem? E cobram do Ministério da Saúde uma medida única para o país poder frear o avanço da Covid-19.

O Ministério nega-se a oferecer uma medida a ser adotada em todo o país. Por quê? Simplesmente porque o presidente Jair Bolsonaro é contra, até por uma questão de coerência. Sugerir um plano nacional para barrar o avanço da doença não está de acordo com a política de livre trânsito do vírus bancada por Bolsonaro.

Não, definitivamente não contem com ele para isso.

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