Roteiro
da pior qualidade
Na
noite em que o filme americano “Os 7 de Chicago” concorreu ao prêmio Globo de
Ouro em cinco categorias e ganhou a de melhor roteiro, sete homens posaram para
uma foto encostados a uma parede de livros do Palácio da Alvorada – cinco deles
de braços cruzados, um com os braços estendidos ao longo do corpo e o outro com
as mãos nos bolsos.
O
filme foi baseado no caso real do julgamento de um grupo de ativistas políticos
acusados pelo governo americano de conspiração e incitação à revolta durante os
protestos contra a guerra do Vietnã que marcaram em 1968 a convenção do Partido
Democrata em Chicago. Seis deles foram condenados na primeira instância da
justiça e absolvidos na segunda.
A
foto registrou o final do encontro de “Os 7 do Alvorada” que discutiram por
mais de uma hora o que fazer com o agravamento da pandemia da Covid que ontem,
pelo segundo dia consecutivo, bateu um novo recorde de mortes. Já são 39 dias
seguidos com média móvel acima de mil mortos. Se no futuro “Os 7 do Alvorada”
serão julgados ou não, ainda é cedo para prever.
Deles,
três são militares (generais Braga Neto, chefe da Casa Civil, Luiz Eduardo
Ramos, da Secretaria do Governo, e Eduardo Pazuello, ministro da Saúde). Um é
ex-capitão (Bolsonaro, afastado do Exército por planejar atentados a bomba a
quartéis, e presidente da República). E três são civis (o ministro da
Economia e os presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado).
Bolsonaro começou o domingo afrontando de novo os governadores que adotaram medidas severas de isolamento. Compartilhou vídeo onde manifestantes, muitos sem máscaras, sitiam a casa do governador Ibaneis Rocha, em Brasília. À tarde, soube que a ministra Rosa Weber, do Supremo Tribunal, mandou que pagasse por leito de UTI em São Paulo, Maranhão e Bahia.
Cada
um ao seu modo, “Os 7 do Alvorada” estão bem encrencados. O principal deles,
parceiro do vírus que devasta o Brasil, foi contestado em nota assinada por 46
entidades médicas que reforçaram a necessidade do uso de máscara como
instrumento de combate à doença. Será que os médicos daqui e a Organização
Mundial de Saúde estão errados e apenas Bolsonaro está certo?
Pazuello
terá que explicar à justiça por que disse em vídeo que soubera da falta de
oxigênio em Manaus em determinada data, por que a Advocacia Geral da União
confirmou que ele estava certo, e por que, agora, ele mudou a data. Mudou para
eximir-se da responsabilidade de não ter agido a tempo. Sua cabeça está a
prêmio para que Bolsonaro possa tentar salvar a dele.
O
ministro Paulo Guedes ganhou um lugar na foto porque ele negocia com os
presidentes da Câmara e do Senado o pagamento por mais três ou quatro meses do
auxílio emergencial. A coisa está feia para seu lado. Por mais que Arthur Lira
(PP-AL) e Rodrigo Pacheco (DEM-MG) tenham boa vontade com um governo que os
ajudou a se eleger, deputados e senadores não têm tanto assim.
A
eleição do ano que vem é o que interessa a todos eles. Sob a pressão dos
eleitores, querem mais dinheiro para que sobrevivam melhor os brasileiros mais
carentes. Não importa se há dinheiro suficiente para isso, nem se o rombo nas
contas públicas ficará maior. Os governadores dos seus Estados se queixam do
descaso do poder central com a pandemia. E isso é verdade.
Além
do auxílio, onde estão as vacinas prometidas? O governo Bolsonaro, por meio de
Pazuello, não havia dito que não faltariam vacinas? Disse até que metade dos
brasileiros estaria vacinada em julho, não foi? O ritmo da vacinação em massa
caiu à metade nas últimas semanas. Todo dia Pazuello anuncia que as vacinas
estão chegando e elas não chegam em grandes quantidades.
Enquanto
isso, o chefe de “Os 7 do Alvorada” viaja pelo país em visita a pequenas
cidades para repor os votos que perde nas cidades de grande e médio porte. Só
enxerga a reeleição. O resto pode esperar.
Deixa
o vírus em paz para contaminar quem quiser
Livre
trânsito para a Covid
O
que os governadores chamam de lockdown (fechamento total) não tem
passado de toque de recolher, e na maioria das vezes tímido. Reconhecem que
deveriam adotar medidas mais duras, mas cadê coragem? E cobram do Ministério da
Saúde uma medida única para o país poder frear o avanço da Covid-19.
O
Ministério nega-se a oferecer uma medida a ser adotada em todo o país. Por quê?
Simplesmente porque o presidente Jair Bolsonaro é contra, até por uma questão
de coerência. Sugerir um plano nacional para barrar o avanço da doença não está
de acordo com a política de livre trânsito do vírus bancada por Bolsonaro.
Não, definitivamente não contem com ele para isso.
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