Ao
apresentar seu primeiro indicado ao Supremo, Jair Bolsonaro avisou à praça que
passaria a contar com um escudeiro de toga. O capitão estava tão animado que
chegou a antecipar votos do futuro ministro. “Ele está 100% alinhado comigo”,
sentenciou. Cinco meses depois, parece impossível contestar a afirmação.
Desde
que foi nomeado, Kassio Nunes Marques se comporta como um ministro de estimação
do presidente. Seus votos sempre coincidem com os interesses do governo.
Na
Páscoa, Kassio deu mais uma prova de fidelidade. A pedido da Associação
Nacional dos Juristas Evangélicos, derrubou os decretos que suspendiam a
realização de cultos presenciais na pandemia. A liminar foi festejada pelo
Planalto e pelos pastores que apoiam o capitão.
“O mérito não é do ministro, é de Deus”, celebrou Valdemiro Santiago, líder da Igreja Mundial do Poder de Deus. No ano passado, o pastor anunciou por R$ 1 mil sementes de feijão que teriam o poder de curar a Covid-19. O Ministério Público Federal apontou indícios de estelionato e “deboche da boa-fé” dos fiéis.
Kassio
não vende milagres, mas endossa a conversa dos pastores. No julgamento de
ontem, ele também imitou a retórica de Bolsonaro. Ao criticar as medidas de
isolamento, distorceu declarações da chanceler alemã, Angela Merkel, e do
diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom.
O
ministro alegou que a suspensão temporária dos cultos ofenderia a liberdade
religiosa. “Parece que algumas pessoas não conseguem entender o momento
gravíssimo desta pandemia”, reagiu Alexandre de Moraes, que apontou “total
falta de razoabilidade” na derrubada dos decretos.
Moraes
lembrou o papa Clemente VI (1291-1352), que mandou fechar igrejas e conventos
para salvar vidas durante a Peste Negra. O pontífice ficaria corado se ouvisse
a pregação de André Mendonça na quarta-feira.
Em
campanha para ser o próximo ministro de estimação do presidente, o
advogado-geral da União disse que os cristãos estariam “dispostos a morrer”
para garantir a “liberdade de culto” no Brasil de 2021.
Pelo que se ouviu nos últimos dias, os juristas de Bolsonaro ainda não chegaram à Idade Média.
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