O
governo federal foi lento e confuso nas respostas à pandemia
A essa altura dos acontecimentos, devemos ponderar sobre os erros que nos levaram a mais de 340 000 mortos pela Covid-19. Sem alarde nem radicalismos. A coleção de erros é enorme. Começa com erros estratégicos, por parte de todos os atores públicos e privados, e chega a erros táticos. Nesse rol se inclui a sociedade, que teima em não se conscientizar dos riscos. O ponto inicial reside no fato de que o mundo inteligente já sabia da gravidade do problema em janeiro de 2020. O mundo político brasileiro, porém, só reconheceu a gravidade do tema em março.
O
segundo erro estratégico foi cometido pelo governo federal, ao não coordenar
uma ação conjunta com governadores, prefeitos, Judiciário e Legislativo.
Prevaleceram o conflito, as egotrips e, sobretudo, a descrença de que o
problema era muito sério.
O terceiro erro estratégico foi não optar pela compra das várias vacinas que estavam em desenvolvimento. O governo federal apostou apenas na AstraZeneca, cujo processo de produção é insuficiente para nossos desafios. Fica a questão: por que a Fiocruz, berço do partido sanitarista, não propôs uma compra abrangente de vacinas de várias procedências até que o Brasil dominasse a produção?
“A
compra maciça de vacinas é a melhor política para a retomada da economia”
Obviamente,
terminamos dependendo da rejeitada CoronaVac, do Instituto Butantan, e da
escassa, até agora, vacina da AstraZeneca. Se hoje, em pleno abril de 2021,
ainda estamos decidindo se compramos ou não a vacina russa, imaginem se o
governo de São Paulo não tivesse tomado a decisão de negociar e produzir vacina
no ano passado? E as mortes prosseguem.
No
campo da narrativa, o governo federal se mostrou confuso. Lento nas respostas e
descrente das consequências da “gripezinha”. Não houve palavras de liderança.
Os sucessivos comandos do Ministério da Saúde foram, cada um a seu tempo,
espetaculosos, erráticos e com um processo deliberativo lento. Deveriam ter
imposto uma ação abrangente de pré-compra de vacinas e, em coordenação com a
Anvisa, uma liberação expedita das doses. Em janeiro, a Anvisa fez um
espetáculo midiático para autorizar o uso emergencial de vacinas. Àquela
altura, o Brasil já deveria estar vacinando, e não fazendo midiatismo em torno
da obrigação de fazer de forma correta o que estava fazendo errado.
Governadores
e prefeitos demoraram a reagir quanto à imposição do distanciamento social.
O exemplo trágico do Amazonas resultou no caos da saúde pública no estado.
Também desmontaram hospitais de campanha país afora sem um horizonte claro do
fim da pandemia e não se preparam para o pior, quando o pior já se apresentava,
no fim do ano passado. Politicamente, Bolsonaro cometeu um grave erro ao não
assumir a liderança no combate à pandemia. O Brasil deseja um líder que
Bolsonaro ainda não quer ser.
Se
tivesse comprado milhões de vacinas, o Brasil poderia ter vacinado o dobro ou o
triplo do que vacinou até o início deste mês. Gastos com a compra em massa de
vacinas seriam uma pequena parcela do que será despendido com o auxílio
emergencial. A aquisição maciça de vacinas é a melhor política para a retomada
da economia. Estamos chegando tarde e a conta em vidas está aumentando.
Publicado em VEJA de 14 de abril de 2021, edição nº 2733
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