Vem
aí a CPI da Covid para acuar o governo
O
fracasso do governo do presidente Jair Bolsonaro no combate à Covid-19 subiu à
cabeça de Marcelo Queiroga, o quarto ministro da Saúde em menos de um ano.
Anthony
Fauci, o mais respeitado imunologista americano e conselheiro do presidente Joe
Biden, disse que o Brasil virou uma “ameaça mundial” porque a pandemia aqui só
faz crescer.
Em
visita a Porto Alegre, perguntado a respeito, Queiroz estufou o peito, imitou a
arrogância do seu chefe, e respondeu assim:
–
Ele [Fauci] deve cuidar dos Estados Unidos. Do Brasil, cuido eu.
Bolsonaro
amou a resposta de Queiroga logo no dia em que o vírus matou no país mais 4.190
pessoas. Foi o segundo dia com mais mortes desde o começo da pandemia.
A
quarta-feira havia sido um dia ameno para Bolsonaro. Ele fez o que mais gosta:
viajar, falar o que lhe vem à cabeça sem ser contestado, e arrancar aplausos
dos seus devotos.
Esteve
em Chapecó, em Santa Catarina, em Iguaçu, no Paraná, e em São Paulo onde jantou
com empresários amigos escolhidos a dedo e que acabaram por ovacioná-lo.
A quinta-feira foi um dia pesado para Bolsonaro. Não pela morte de tanta gente, mas porque ele colheu duas derrotas importantes no Supremo Tribunal Federal.
A
primeira: por 9 votos contra 2, o Supremo decidiu que governadores e prefeitos
podem fechar templos e igrejas enquanto durar a pandemia. Bolsonaro queria o
contrário.
A
segunda derrota: o ministro Luís Roberto Barroso mandou que o presidente do
Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), instale de imediato a CPI da Covid.
Cumpridas
as exigências da Constituição (número mínimo de apoiadores, definição do fato a
ser investigado e prazo de funcionamento), a CPI é direito da minoria
parlamentar.
Todos
os requisitos foram cumpridos desde janeiro último, mas Pacheco, eleito
presidente do Senado com o apoio de Bolsonaro, recusou-se a instalar a CPI para
não criar embaraços ao governo.
Ontem
mesmo, antes de Barroso anunciar sua decisão, Pacheco afirmou:
–
Considero que a CPI da pandemia neste momento vai ser um ponto fora da curva.
Além disso, pode ser o coroamento do insucesso nacional do enfrentamento da
pandemia.
No
seu despacho, Barroso ensinou a respeito de CPIs:
–
Trata-se de garantia que decorre da cláusula do Estado Democrático de Direito e
que viabiliza às minorias parlamentares o exercício da oposição democrática.
Simples
assim. O que levou Pacheco a retrucar que, a seu juízo, e por razões de
conveniência, a CPI não deveria sair da gaveta, mas que decisão da justiça é
para ser cumprida, e ele a cumprirá.
Ora,
era o que faltava. Não cumprir? Agora, resta ao governo escalar a maior e a
mais confiável bancada de senadores aliados seus para se defender na CPI e
atrapalhar seu funcionamento.
Custará
caro. Ninguém trabalha de graça para governo numa CPI. Só o faz em troca de
muito dinheiro, de cargos e de outros favores inconfessáveis. Sempre foi assim
e sempre será.
Bancada
de Bolsonaro no STF aumenta com adesão de Toffoli
A
partir de julho serão três ministros
Era
certo que a bancada de ministros bolsonaristas no Supremo Tribunal Federal se
resumiria a dois ministros até o fim de 2022 – Nunes Marques, que já está por
lá ocupando a vaga aberta com a saída de Celso de Mello, e outro a ser indicado
pelo presidente a partir de julho próximo e que sucederá a Marco Aurélio Mello.
Mas,
não. Descobriu-se, ontem, que Bolsonaro contará com três – um deles, José
Antônio Dias Toffoli, que surpreendeu seus colegas ao votar junto com Nunes
Marques pela abertura de templos e igrejas durante a pandemia da Covid. Toffoli
não justificou seu voto. Limitou-se a dizer que acompanharia Nunes Marques.
Toffoli
sabia que seria derrotado. O placar final foi de 9 a 2. Não se incomodou com
isso. Está com Bolsonaro para o que der e vier. Encantou-se por ele antes mesmo
de Bolsonaro ser candidato a presidente. À época em que foi assessor
parlamentar do PT na Câmara, entre 1995 e 2000, os dois conversavam muito.
Foi
Lula que fez de Toffoli ministro do Supremo em 2009. Toffoli havia passado no
teste de fidelidade ao PT como consultor jurídico da Central Única dos
Trabalhadores (CUT), advogado de três campanhas presidenciais de Lula, subchefe
de assuntos jurídicos da Casa Civil e Advogado-Geral da União.
Sua
recente passagem pela presidência do Supremo coincidiu com os dois primeiros
anos de Bolsonaro presidente. Renasceu e se fortaleceu a amizade entre os dois.
Toffoli virou uma espécie de assessor informal de Bolsonaro dando-lhe conselhos
e, sempre que pôde, facilitou a vida dele dentro do tribunal.
Orgulha-se Toffoli de ter evitado em 2020 uma crise institucional que quase deflagrou um golpe militar. Ele ajudou a salvar o Brasil e a evitar a queda de Bolsonaro. A indicação de Nunes Marques para ministro passou por seu crivo. Foi quando Bolsonaro o visitou em casa, sendo recebido com um caloroso abraço.
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