Propaganda de apoio do PIB nacional com jantar em São Paulo foi tiro que saiu pela culatra
Se
o jantar oferecido pelo dono da empresa de segurança Gocil, Washington Cinel,
ao presidente da República tinha por objetivo propagandear o apoio desfrutado
por Jair Bolsonaro no meio empresarial, o tiro saiu pela culatra. Grupos de
WhatsApp de grandes empresários e investidores amanheceram indignados com a
percepção vigente sobre o encontro. A avaliação é de que o Palácio do Planalto
foi bem sucedido em passar a percepção, que asseguram equivocada, de que
Bolsonaro tem apoio na elite econômica do país. A reunião, dizem, limitou-se a
um punhado de empresários e banqueiros que responde a um dos critérios ou a
ambos: são do núcleo duro raiz do bolsonarismo e estão sempre a assediar o
presidente de plantão. A casa que sediou o jantar é um reflexo simbólico desta
percepção. Vizinha do ex-deputado Paulo Maluf, nos Jardins, em São Paulo, a
casa um dia pertenceu a um dos grandes industriais do país, José Ermírio de
Moraes, e hoje é do empresário da segurança privada, ramo que cresceu junto com
violência decorrente da falta de rumos do país.
A posição do grande empresariado e da grande finança estaria bem mais refletida, na visão deste interlocutor, em iniciativas como a Coalizão Brasil e a Concertação pela Amazônia, motivadas pelos equívocos da política ambiental brasileira, ou mesmo o apoio ao manifesto dos economistas por saídas para a pandemia. Essas mobilizações reúnem CEOs de grupos como Itaú, Klabin, Gerdau, Amaggi, Natura, Ambev, Gávea e Marfrig. Jantares do gênero são comuns em momentos de descrença sobre o apoio empresarial a um presidente em crise, mas a baixa representatividade do encontro de quarta-feira saltou aos olhos. A política dos “campeões nacionais” e a fartura do BNDES poupou a ex-presidente Dilma Rousseff de quóruns tão pouco representativos, o que não a impediu de cair.
A
tentativa do presidente da República de ressuscitar o antipetismo para fisgar
de volta o apoio empresarial perdido, diz este interlocutor, tampouco surtirá
efeito. Entre aqueles que, de fato, ditam os rumos da economia nacional, este
discurso não adiciona um único voto para o presidente da República em 2022. Uma
parte deles reconhece que se o PT estivesse no poder o país não teria afundado
tanto e a grande maioria recebe esse discurso do presidente da República como
um estímulo redobrado para a busca por uma terceira via. A presença do ministro
Paulo Guedes tampouco sensibilizou os empresários que ficaram de fora do
jantar. Se o ministro da Economia já não empresta prestígio ao presidente da
República, a recíproca também é verdadeira. Guedes hoje é visto como ministro
de um país imaginário onde todos gostariam de viver, mas que, infelizmente,
ninguém acredita existir senão em seus devaneios.
Apesar
do incômodo gerado pelo jantar, cuja divulgação teve o empenho pessoal de
ministros palacianos, não haverá mobilizações adicionais para mostrar o azedume
com este governo. E o principal motivo é a pandemia. Os CEOs críticos ao
bolsonarismo estão recolhidos em suas casas porque temem aquilo que o
presidente despreza, a agressividade da covid-19. Cresce, porém, neste grupo, a
percepção de que Bolsonaro, no limite, chegará a 2022.
O
cerco da imprensa internacional a Bolsonaro reflete-se no comportamento dos
parceiros internacionais desses empresários. Edições das duas principais
publicações financeiras do mundo, “The Economist” e “Financial Times”,
mostraram que o dano à imagem internacional do presidente é irreversível. A
revista trouxe uma charge contestando que a resposta brasileira à pandemia seja
conduzida por um cabeça-oca, mas sim por um “ignorante, teimoso e arrogante”.
Já o jornal da City londrina trouxe uma reportagem sob o título “Bolsonaro mais
isolado do que nunca” em que uma dirigente da Organização Pan-Americana de
Saúde reportou preocupação com o espraiamento das variantes brasileiras por 15
vizinhos das Américas. É a percepção do Brasil como ameaça global que cresce no
mundo e preocupa os grandes empresários brasileiros.
Não
há, por outro lado, percepção sobre saídas fáceis à vista. Há empresários deste
meio que se aproximaram do vice-presidente Hamilton Mourão por conta de sua
atuação no Conselho Nacional da Amazônia mas não há qualquer mobilização real
para apear o presidente da República do poder por conta da percepção de que o
Congresso quer mantê-lo no cargo. O artigo do vice-presidente publicado na
terça-feira, 6, no jornal “O Estado de S. Paulo” (“O que os brasileiros esperam
de suas Forças Armadas”) foi lido como uma manifestação clara de que Mourão não
endossou o comportamento de Bolsonaro na recente crise militar e que subscreve
a atuação estritamente constitucional das Forças Armadas em defesa das
instituições nacionais.
Um dos empresários descrentes do bolsonarismo diz ter sido procurado por ministro de origem militar em busca de sua percepção sobre a conjuntura. O constrangimento do ministro ante seu pessimismo lhe deixou a impressão de que os militares deste governo têm a consciência de que estão em nau à deriva. Ante reclamações de que o Supremo Tribunal Federal estica a corda com o presidente, este empresário responde que o limite da tensão, na verdade, foi alargado lá atrás pelo ex-comandante do Exército Eduardo Villas Bôas com o tuíte ameaçador sobre o julgamento do habeas corpus do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e com o beija-mão promovido pelo mesmo general aos pré-candidatos à Presidência da República em 2018. Este empresário não mantém contato com o vice-presidente Hamilton Mourão. Tem a convicção de que, assim como o ex-ministro do TSE Herman Benjamin estava com a razão quando dizia que a chapa Dilma Rousseff-Michel Temer deveria ter sido cassada por excesso de provas, é preferível dois impeachments em cinco anos a um crime de responsabilidade por dia.
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