Com a explosiva CPI da Covid e um ‘Deus nos acuda’ pelas vacinas, Bolsonaro perde apoios
Além
de demitir o ministro
da Defesa e os comandantes do
Exército, da Marinha e da Aeronáutica, o presidente Jair Bolsonaro trocou mais uma
vez o diretor-geral da
Polícia Federal, que também é uma força armada, com forte
cultura de hierarquia e disciplina. O rastro é de surpresa e de dúvidas: por
que e para quê?
São
dúvidas pertinentes, depois da tensão criada pelo strike no comando militar e
porque a PF foi o pivô da queda do “superministro” Sérgio Moro, que acusou Bolsonaro de
ingerência política num órgão que, por definição, precisa de autonomia. É
exatamente por causa da PF que o presidente é investigado (pelo menos
oficialmente), no Supremo.
Não bastasse, continua sem explicação, e sem mandante, a iniciativa do deputado Major Vitor Hugo, bolsonarista, líder do PSL e frequentador dos palácios presidenciais, de cavar o instrumento da mobilização nacional para tirar dos governadores e dar a Bolsonaro o controle das polícias na pandemia. E com direito de convocação de civis, que vêm sendo sistematicamente mais armados pelo governo – contra, inclusive, a posição do Exército e da PF.
Some-se
a crença de Bolsonaro de que ser presidente é ser dono do governo, das
instituições, do País. Mete a mão nas Forças Armadas e na PF, nos órgãos de
investigação, Coaf, Receita e Abin, nos bancos públicos, Banco do Brasil e
BNDES, e nas estatais, como a Petrobrás. “Um manda, o outro obedece”, “eu
mando, não abro mão da minha autoridade”, versões bolsonaristas de “o Estado
sou eu”.
O
que está em jogo é a institucionalidade, e a Federação Nacional dos Policiais
Federais soltou nota citando o mesmo princípio basilar usado pelo general
Fernando Azevedo e Silva ao cair da Defesa: como as Forças Armadas, a PF também
é “uma instituição de Estado, não de governos”. Poderia ter usado também a
máxima do general Edson Pujol, demitido do Exército: como “não entra nos
quartéis”, a política não deve entrar na PF.
O
novo diretor, delegado federal Paulo Maiurino, tem um bom nome, mas está há
mais de dez anos longe de operações e da PF, em funções no Congresso, no
Supremo, no Ministério da Justiça de Lula e Dilma Rousseff e em São Paulo, com
Alckmin, e no Rio, com Witzel, além do DF.
Foi
no DF que Maiurino conviveu com o novo ministro da Justiça, também delegado
federal Anderson Torres, ex-secretário de Segurança do governo Ibaneis Rocha.
Mas não parece a ninguém que Maiurino tenha sido escolha de Torres, nem direta
de Bolsonaro, nem dos filhos, nem dos generais do Planalto. Logo, quem o
indicou? A pergunta paira em Brasília e a suspeita é de que Maiurino tenha sido
indicado pelo Republicanos, ex-PRB, partido da Igreja Universal e do Centrão.
Com
a explosiva CPI da Covid,
mais de 340 mil mortos e um “Deus nos acuda” pelas vacinas que seu governo não
negociou, Bolsonaro perde apoios e sofre pressões de onde menos queria: o
grande capital, que tem forte influência no Congresso.
A
pandemia não tem a menor importância para ele, mas redes sociais,
empresários, Centrão,
militares, polícias e igrejas, sobretudo as neopentecostais, são, sim, questões
de vida ou morte. Enquanto o Major Vitor Hugo tenta cuidar das polícias, o
presidente troca os comandos militares e da PF, dá o Orçamento de mão beijada
para o Centrão e janta com empresários e banqueiros em São Paulo.
E o trio bolsonarista, o PGR Augusto Aras, o AGU André Mendonça e o ministro do STF Kassio Nunes Marques, ajoelhava e rezava para o Supremo liberar cultos e missas presenciais. Contraria a ciência e aumenta infecções e mortes, mas, segundo Mendonça, os fiéis estão dispostos a morrer pela fé. Pelo visto, a morrer e a matar. E não só pela fé, mas pelo mito.
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