Blog do Noblat / Metrópoles
No Brasil, tudo pode acontecer, inclusive
nada, dizia Marco Maciel, vice-presidente da República à época do governo
Fernando Henrique
À luz dos fatos que antecederam a abertura
de processos de impeachment contra os ex-presidentes Fernando Collor de Mello
em 1992 e Dilma Rousseff em 2015, a oposição a Jair
Bolsonaro não deveria ter muito do que se queixar.
Ah, mas Bolsonaro conta com o apoio do
Centrão e é por isso que não cairá, dizem muitos. O Centrão apoiava Collor e
Dilma, e os dois caíram. Ah, mas o país nunca esteve tão politicamente
polarizado como hoje, e derrubar Bolsonaro seria um grande risco.
Sempre houve polarização. Em 1961, quando o
presidente Jânio Quadros renunciou com apenas seis meses de mandato, voou para
São Paulo carregando na mala a faixa presidencial. Esperava vesti-la ao voltar
a Brasília nos braços do povo. Não voltou.
Sim, mas os militares estão fechados com Bolsonaro, o que impede o avanço do impeachment. Já estiveram mais fechados. Se Bolsonaro for ao chão, assumirá o vice, um general. Pense na cena do presidente general dando posse ao sucessor civil.
Mas vai que o vice, uma vez empossado,
tenta ser candidato a presidente em 2022. A lei assegura-lhe tal direito.
Ocorre que um processo de impeachment é demorado. Não chegaria ao fim antes de
abril ou maio próximo. Restaria pouco tempo para isso.
A situação econômica do Brasil inspirava
sérios cuidados quando começou o desmanche dos governos Collor e Dilma. Sim,
mas hoje é uma maravilha com quase 15 milhões de desempregados? Sem falar dos
mais de 500 mil mortos pelo coronavírus?
Fernando Henrique elegeu-se e se reelegeu
graças ao Plano Real, e nada há de parecido à vista, e a inflação galopa. Lula
elegeu-se quando o Real havia dado o que tinha de dar, e se reelegeu com a
economia em alta, apesar do escândalo do mensalão do PT.
Bem, mas uma grande parcela dos brasileiros
foi às ruas pedir o impeachment de Collor e de Dilma, e hoje, com a pandemia…
Hoje o quê? Nos últimos 30 dias, multidões foram duas vezes às ruas pedir o
impeachment de Bolsonaro. Hoje, irão de novo.
“No Brasil, tudo pode acontecer, inclusive
nada”, dizia Marco Maciel, ex-vice-presidente, que morreu outro dia. A frase
continua atual e serve para explicar o inesperado ou justificar a paralisia.
Hoje, o nada seria a permanência de Bolsonaro onde está.
Amanhã, quem sabe o que pode acontecer?
Nenhum comentário:
Postar um comentário