Folha de S. Paulo
Bolsonaristas começam a rezar para evitar o
impeachment
Há um cheiro
de Collor no ar. Tão forte que é possível imaginar, nos protestos
deste sábado (3), a presença de caras-pintadas. Ou de manifestantes vestidos de
preto, como no histórico Domingo Negro em agosto de 1992. Para completar o déjà
vu é capaz de a TV Globo reprisar em horário nobre a série “Anos Rebeldes”. E a
canção “Alegria, Alegria”, de Caetano Veloso, figurar entre as mais baixadas.
Era preferível que o movimento de hoje não fosse uma espécie de vale a pena protestar de novo. Tivesse uma estética diferente; sobretudo fortificasse alianças e indicasse soluções para o país. Mas o objetivo —agora e no passado— é o mesmo: mudar uma estrutura de poder disfuncional. Para isso, é preciso afastar Bolsonaro e seus asseclas.
O superpedido
de impeachment, protocolado pela oposição e pelos movimentos
sociais, tem um caminho complicado até conseguir o apoio da maioria na Câmara
dos Deputados. Mas é uma novidade e tanto, inimaginável três meses atrás,
reunindo num único palco políticos tão díspares como Gleise Hoffmann e Kim
Kataguiri. O problema é o que pode sair desse saco de gatos.
Com as seguidas denúncias de corrupção em contratos
de vacinas envolvendo o Ministério da Saúde, o Planalto se esforça para manter
o presidente longe da lama dos escândalos. Tarefa impossível. Nem a horda
bolsonarista aguenta mais engolir “narrativas”. Depois de dizer que Bolsonaro
não rouba nem deixa roubar, a deputada
Carla Zambelli mudou o discurso no dia seguinte: “Na época do
mensalão, centenas de deputados recebiam. A proporção agora é completamente
diferente”. Eis um belo conceito, o da corrupção proporcional.
Zambelli perdeu a pose de ruiva malévola e
surgiu chorosa num vídeo pedindo orações para salvar o governo. O conselho é
começar pela Oração de Adeus (João 17:1-26), proferida após a Última Ceia. Leva
a vantagem de ser a mais longa do Evangelho.
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