Folha de S. Paulo
Respeito a costumes de culturas diversas
não é argumento para solapar direitos humanos
A Copa no Qatar gerou uma intensa discussão sobre os direitos humanos, pois o regime teocrático do país reprime de forma dura, pela lei, comportamentos que vão do consumo de álcool à homossexualidade.
Durante o evento, foram proibidas manifestações de apoio à causa LGBTQIA+, como
as bandeiras com as cores do arco-íris. Nem mesmo jogadores puderam usar
braçadeiras com o símbolo.
Reacionários, tanto no Brasil como no exterior, justificaram a ação com o argumento de que se deve respeitar a cultura de outros países.
Trata-se do chamado relativismo cultural,
uma perspectiva analítica antropológica importante que permite a aceitação das
diferenças entre os povos e aponta os abusos imperialistas.
Mas relativismo cultural não é relativismo
ético. Na verdade, a ética, para a filosofia, não é relativa, ao contrário da
moral —um conjunto de hábitos e costumes regido por normas em determinado lugar
e tempo específicos (a lei contra homossexuais do Qatar aí se enquadra).
Já a ética avalia os fundamentos da ação
moral para justificá-la ou rechaçá-la, questiona quais são os bons e os maus
valores que regem as relações humanas e pode ser resumida na pergunta:
"Como devemos agir?"
Assim, prender um indivíduo que tem
relações com alguém do mesmo sexo é moralmente aceitável no Qatar, mas não em
termo éticos, já que oprime pessoas que não causaram dano a ninguém. Os
direitos humanos partem, entre outros, desse princípio universal.
Não são apenas reacionários que cometem o
erro. Progressistas saudaram a retirada das tropas americanas do Afeganistão
mesmo sabendo que um grupo terrorista teocrático, o Talibã, voltaria a fazer da
vida das afegãs um inferno.
Não podemos deixar que uma ideia suplante pessoas, seja ela de cunho religioso (a homossexualidade como pecado) ou político (antiamericanismo). Ao longo da história, esse sempre foi o mecanismo usado para solapar os direitos humanos.
Um comentário:
Artigo excelente.
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