sexta-feira, 16 de agosto de 2024

Bernardo Mello Franco - O adeus do Rei e a esquerda do Rio

O Globo

Adesão de Marcelo Freixo a Eduardo Paes deixa Tarcísio Motta à deriva e abre nova crise no campo progressista carioca

A notícia de que Roberto Carlos fará seu último show de Natal mostra que algumas tradições chegam ao fim. Outras, não. Hoje começa oficialmente mais uma eleição municipal. Para a surpresa de ninguém, a esquerda carioca está dividida. O motivo da vez é a decisão de Marcelo Freixo de apoiar Eduardo Paes, seu antigo arquirrival.

O ex-deputado disse ao GLOBO que aderiu ao prefeito para “derrotar a extrema direita”, representada pelo bolsonarista Alexandre Ramagem. A justificativa não convenceu o candidato do PSOL, Tarcísio Motta. “Freixo virou um enigma para seus antigos companheiros. Seu apoio a Paes não surpreende, mas causa tristeza e decepção”, critica o psolista. “Quero fazer uma campanha com coerência. Explicar as nossas bandeiras, e não recuar do que sempre defendi”, alfineta.

Em 2022, Freixo tentou repaginar o discurso, renegou ideias identificadas com a esquerda e formou uma chapa inusitada com o ex-prefeito Cesar Maia para concorrer ao Palácio Guanabara. O novo figurino não empolgou, e ele perdeu no primeiro turno para o bolsonarista Cláudio Castro. Após a derrota, trocou o PSB pelo PT. Sonhou com um ministério no governo Lula, mas terminou na presidência da Embratur. “Freixo errou ao abandonar posições históricas. Além de perder a eleição, perdeu coerência e legitimidade. O eleitor percebe isso”, critica Tarcísio.

Para conter uma debandada em seu próprio campo político, o candidato deve martelar que o prefeito também é apoiado por bolsonaristas de carteirinha, como o dublê de pastor e deputado Otoni de Paula. “Paes não é um voto antifascista. É um neoliberal autoritário, que sempre trai seus aliados em nome de um projeto pessoal”, ataca.

Ontem dissidentes do PT promoveram um ato público para declarar apoio ao candidato do PSOL. A maior parte da sigla deve seguir a orientação de Lula e subir no palanque de Paes. Apesar do desdém, Tarcísio diz que continuará a usar o nome do presidente nos debates. “Vou defender o programa que elegeu Lula em 2022. O Paes não vai”, provoca.

Quando as cortinas se fecharem em dezembro, Roberto Carlos encerrará um ritual de cinco décadas de musicais natalinos. A esquerda carioca deve manter sua tradição: há 36 anos, se engalfinha nas eleições municipais e não consegue chegar à prefeitura.

 

Um comentário:

ADEMAR AMANCIO disse...

Os grandes nomes da nossa música estão se despedindo,em todos os sentidos.