sexta-feira, 9 de agosto de 2024

César Felício - Eleitor vê prefeitos como coadjuvantes na Segurança Pública

Valor Econômico

A campanha para as eleições municipais começa com o alerta que não se deve subestimar o eleitor. É fato que a desinformação grassa no Brasil , mas se o eleitorado não sabe ao certo o que corresponde a um prefeito fazer e o que deve esperar de sua gestão, desconfia.

Febraban encomendou do Ipespe no começo de julho uma pesquisa telefônica com 3 mil entrevistas sobre o tema. Somente um em cada quatro afirmou saber bem qual a divisão de atribuições entre prefeitura, governo estadual e presidência, ao passo que 29% disseram desconhecer totalmente o que cabe a cada um e 43% afirmaram "conhecer mais ou menos". Há uma certa modéstia do eleitor, mostra o levantamento. Sabe-se o essencial.

De acordo com a pesquisa, que tem margem de erro de 1,8 ponto percentual, há dois temas imensamente preocupantes para a população em que o protagonismo dos prefeitos não é esperado: Segurança Pública e Custo de Vida ou Inflação.

Em relação à violência urbana, 40% dizem que seu controle cabe ao governo estadual, o que é correto. Outros 28% dizem ser tema municipal e 11% de responsabilidade do Palácio do Planalto. O tema, contudo, vem ganhando espaço no debate eleitoral, em função da tentativa dos aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro de nacionalizar as disputas.

Em São Paulo, por exemplo, o bolsonarismo exigiu a presença de um coronel da ROTA, Ricardo Mello de Araújo, como candidato a vice pelo PL na chapa do prefeito Ricardo Nunes (MDB). Os delegados da Polícia Federal Alexandre Ramagem e da Polícia Civil Eder Mauro , ambos deputados, foram lançados pelo PL para as prefeituras do Rio e de Belém. A pesquisa sugere que esse movimento pode estar mais relacionado com uma demanda da política em si do que do eleitorado.

A tradição histórica reforça essa hipótese. Por mais que a Segurança Pública tenha cimentado a eleição de deputados estaduais, federais, um senador ( Major Olímpio) e até um governador em São Paulo ( Luiz Antônio Fleury Filho), o tema nunca teve centralidade na campanha municipal. No Rio o retrospecto de eleições locais também não é favorável para candidatos com essa agenda.

No caso da Economia, 48% consideram ser tarefa do presidente da República controlar a Inflação e o Custo de Vida e não mais do que 10% entendem que os governos municipais devem atuar nesse tema.

O resultado permite também inferir que a melhora da percepção da situação econômica é crucial para a popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e pode ter sido a razão para o crescimento de sua aprovação registrado por diversos institutos no mês passado. A pesquisa ainda indica que crises na Segurança Pública tendem a impactar diretamente a avaliação de governadores presidenciáveis, como o de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos) e o de Goiás, Ronaldo Caiado ( União Brasil).

A maior expectativa do eleitorado, de acordo com o Ipespe, é que o prefeito apresente respostas para a Saúde ( 37%), Educação (30%) e Emprego (30%). Saúde e Educação são zonas cinzentas, em que há alguma superposição de atuação de governos municipais e estaduais, além de grande influência do governo federal como ordenador e financiador. Mas ainda assim cabe fundamentalmente ao município a pré-escola, o primeiro ciclo do ensino fundamental e a atenção básica à Saúde.

No caso da geração de emprego, o protagonismo esperado dos prefeitos cresce nos municípios acima de 500 mil habitantes (36%) e nos da região centro-oeste (44%), em relação ao que se espera dos governos estaduais e do governo federal. A expectativa nessa questão é que o prefeito seja capaz de atrair investimentos que gerem emprego e renda.

A pesquisa da Ipespe encomendada pela Febraban indica ainda que é maior a parcela dos eleitores que dizem que definirão seu voto em função dos debates entre os candidatos do que pelo acompanhamento do notíciário que chega por redes sociais ou mídia tradicional: 22%, ante respectivamente 16% e 14%. O espaço para "outsiders" está longe de ser irrelevante: 24% dos pesquisados dizem aceitar votar em um candidato de fora da política, percentual equivalente aos 25% que indicam preferir alguém que tenha experiência administrativa.

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