O Globo
Não foram políticos que concordavam com os
assassinatos praticados nos porões militares
Difícil não culpar Lula e
sua retórica (e prática) pela calamidade Bolsonaro. Em 2002, ele derrotou José
Serra, candidato de centro-esquerda que terminou no córner à direita. Já no
cargo, cunhou o acusação da “herança maldita” dos governos do PSDB/PFL, naquele
seu redundante trololó deficiente em pronomes. Como suas ideias não
correspondem aos fatos, ao fazer uma administração centrista e populista (até
Muhammad Yunus lamentou a fórmula petista do Bolsa Família),
apareceu com a clivagem do “nós e eles”.
Deixa eu contar: no “eles”, não estava
incluída a direita, mas apenas seu despeito e ciúme da figura pública do
ex-presidente FH. E da administração que exterminara a inflação — isso, sim, um
programa econômico inclusivo — e, pelas mãos de Ruth Cardoso e Vilmar Faria,
desenhara diversos e consequentes programas sociais. A ex-primeira-dama nunca
precisou ressignificar sua posição. Sempre teve história independente do
marido.
Não sei se Lula , ou a própria Janja, conhecem a figura de Carl Schmitt. O jurista alemão, um dos principais teóricos do nazismo, ajudou na construção da clivagem do “nós e eles”, do “amigo e inimigo”. Suas ideias deram subsídios ao regime hitlerista na perseguição e morte dos judeus ainda antes do início da Segunda Guerra Mundial. Schmitt formulou a substituição do adversário pelo inimigo na luta política. Ao mudar o ângulo, deu justificativa teórica à intolerância e aos assassinatos, como ainda à disseminação do ódio sempre repisado nos discursos para as massas sedentas de emoção (sangue?). A filósofa Susan Neiman defende que o modismo das guerras culturais se escora nos conceitos nazistas de Carl Schmitt. Assim, a conversa fiada do identitarismo (Hitler gostava do viés de raça!) não seria de esquerda.
Desviando um pouco, vale ler as críticas de
Bernie Sanders à campanha de Kamala Harris.
Para o senador democrata, ícone da esquerda americana contemporânea, Harris
perdeu-se ao ficar falando de apoio à mudança de sexo, e não em demandas
econômicas de toda a sociedade.
Na assunção da figura nefasta de Jair
Bolsonaro encontra-se o DNA do “nós e eles” lulista ou do “amigo e inimigo” de
Carl Schmitt. (Em defesa de Lula: é importante saber que você não precisa ler
um livro para ser influenciado pelas ideias do autor. Os conceitos fluem pela
sociedade, muitas vezes adaptados ao interesse pessoal de cada um. A Bíblia e
“O manifesto comunista” são bons exemplos nesse caso.) O discurso de Lula de
ódio às elites reanimou um lado historicamente incivilizado das nossas gentes,
notado na escravidão, no golpismo atávico dos militares, no desrespeito às
regras constitucionais — quase sempre em nome da tríade mussolinista: “Deus,
pátria e família”. Tá.
Assim como as guerras identitárias não podem
ser vistas como movimento de esquerda, o bolsonarismo não é de direita, ao
contrário do que seus seguidores-raiz defendem nos posts. Isso é fake news. Os
adeptos de Bolsonaro estão na extrema direita, aparentados da incivilidade
política. O golpismo de seus discursos e os diálogos com seus generais escandem
as credenciais. São viúvas do general Sylvio Frota demitido por Ernesto
Geisel depois de vários assassinatos no DOI-Codi. Nota: à
época, o agora amuado Augusto
Heleno escovava os sapatos de Sylvio Frota.
Como as redes sociais deram voz aos “imbecis”
(Umberto Eco), a conversa desinformada de botequim ganhou status de opinião
pública. Isso é normal, o processo civilizatório experimenta momentos de
retrocesso. Não que todos serão leitores de Shakespeare, mas um dia chegará
quando a maioria partilhará suas repulsas (otimismo?).
A extrema direita não pode ser confundida com
personagens da direita clássica, como Petrônio Portella ou Marco Maciel, ambos
personagens civis junto ao regime de 1964. Ou mesmo Delfim Netto,
que assinou o AI-5. Não foram políticos que concordavam com os assassinatos
praticados nos porões militares. Ou Roberto Campos, que sempre reclamou do
capitalismo brasileiro de compadrio e patrimonialista (olha a Gleisi aí).
Eram tipos de direita, alguns com perfil liberal, como Marco Maciel, depois vice-presidente de FH. Maciel auxiliou na transição do regime autoritário à democracia. Como homem de direita, ficaria horrorizado ao ouvir a prosódia miserável, sinônimo de fraca cognição, do general Mário Fernandes. Lamentaria o baixo nível da educação brasileira. A começar pela militar.
7 comentários:
Caramba parece que esse jornalista vive num num outro planeta Falar de direita clássica , que conversa é essa ?
Vivemos um país em que a esquerda autoritária ignorante e mentirosa está no poder pela quarta vez Cada vez deixando destroços pelo caminho do brasileiro
É muito interessante ouvir esse jornalistas militantes
O Lula e a esquerda sempre foram secretários, Nós contra eles , amigo e inimigo e assim eles tratam a política é só olhar a quem o Alexandre de Moraes persegue , prende e cassa com a sua Voracidade autoritária, só à direita !
nunca atacou ninguém com viés de esquerda
Vocês fazem a narrativa falsa acho que a sabem que é falsa mesmo assim colocam pra ver se cola
Tem que ficar bem com o PT e a patota
Artigo este excelente, disse tudo e o começo até chegarmos nesta situação vexatória que nos encontramos perante o mundo civilizado, foi o nefasto “Nós contra eles” . Resumiu toda a nossa história até chegarmos onde chegamos agora.
Você corrobora a tese do articulista, evidenciando na sua insistência (sem capacidade de argumentar de forma articulada) o baixo nível da educação brasileira.
Concordo. Acabamos nesta polarização em que os dois segmentos cultuam populistas-oportunistas.
Você deve ganhar uma mesada gorda pra ficar fiscalizando erro ortográfico e pontuação , nunca da sua opinião digna fica só de papo furado e ofensas a quem emite a opinião divergente nessa coluna
Vocês tentam intimidar as pessoas que pensam diferente, comigo não cola censor
O movimento estudantil de esquerda fazia comícios nas portas de fábricas do ABC e ninguém ligava. Precisaram de um animador de auditório, acharam um nordestino, falastrão, curso de torneiro mecânico no Senai cujo currículo era propagar que era filho de mãe que “nasceu analfabeta e sem dentes” como se alguém nasce…. Este falastrão mostrou-se excelente animador de auditório e o resto é a estória que estamos vivendo. O falastrão acabou gerando um outro falastrão, expulso de seu cargo público e chamado de mal funcionário público e agora cabe-nos aguentar até piada de argentino.
“Esquecer a História é condenar-se a repeti-la”
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