sexta-feira, 5 de abril de 2024

André Roncaglia - É imperativo relembrar o golpe de 1964

Folha de S. Paulo

Memória é vacina antigolpe para reforçar a imunidade democrática

O golpe militar-empresarial de 1964 no Brasil completou 60 anos em 31 de março de 2024. Por ser um dos eventos mais significativos da história brasileira, ele precisa ser lembrado, debatido e esmiuçado, sob pena de o vermos repetido.

A instauração do regime militar no Brasil foi o ápice de uma série de tensões políticas, econômicas e sociais que se acumulavam no país. O governo de João Goulart (Jango) foi um período particularmente turbulento, marcado por intensas disputas ideológicas e uma crise econômica que só fez agravar a instabilidade.

Em contexto de crescente polarização política, Jango promovia suas reformas de base, que visavam ajustar as instituições à modernização econômica deflagrada na década anterior, com Vargas e Kubitschek. As reformas agrária, educacional, bancária, urbana e tributária almejavam reduzir as desigualdades socioeconômicas e, portanto, desafiavam as estruturas de poder.

O conflito social se agravou com a abrupta desaceleração da economia em 1963 (0,6% frente a 6,6%, em 1962), combinada com o descontrole das contas públicas e a aceleração da inflação a 80% no ano. A instabilidade inibia o investimento, enquanto a inflação corroía o poder de compra da população e gerava insatisfação de alguns grupos com o governo, que ainda tinha 70% de aprovação.

A combinação desses fatores mobilizou a oposição contra Jango e criou um terreno fértil para a erupção do golpismo, que já assediava nossa jovem democracia desde 1954. O apoio internacional foi assegurado pela lei que limitava remessa de lucros das empresas estrangeiras ao exterior. A tempestade perfeita estava formada.

 

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