sexta-feira, 5 de abril de 2024

Eliane Cantanhêde - A fritura deu certo

O Estado de S. Paulo

Nem Haddad nem Rui Costa nem Alexandre Silveira, quem manda na Petrobras é Lula

O petista Jean Paul Prates deu ao presidente Lula o pretexto que ele esperava não apenas para tirálo da presidência da Petrobras, como para neutralizar a guerra interna entre o chefe da Casa Civil, Rui Costa, e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, com o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, no meio. Nenhum dos nomes propostos por um deles está vingando e o favorito é Aloizio Mercadante, que dispensa padrinhos e tem canal direto com Lula, não é de hoje.

O destino de Prates no governo já estava virtualmente selado, mas ele só cairia no fim do ano, com a reforma ministerial, e antecipou sua saída ao passar a sensação de estar desafiando Lula, quando disse à jornalista Monica Bergamo que pediria uma “conversa definitiva” com Lula sobre sua autonomia na presidência da maior empresa brasileira. O problema dele deixou de ser com Haddad, Costa e Silveira e passou a ser com o presidente, que ficou bravo.

A cabeça de Prates já estava a prêmio, mas é aquela história que qualquer um que conheça os meandros do poder já viu. Com Prates longe, quem tem capacidade de emprenhar o presidente pelos ouvidos são Haddad, claro, Silveira e Costa. E nunca se esqueça da influência de Janja. Detalhe: cada um emprenha os ouvidos de Lula para um lado diferente.

O que está por trás, além das já cansativas disputas no PT, é muito mais grave: o papel do governo e do Planalto na definição de quadros e da política de preços da Petrobras. Lula e Bolsonaro são antagônicos em praticamente tudo, mas dividem algo em comum: a obsessão por controlar preços e usar a Petrobras para dar boas notícias ao eleitorado. Ou alguém esqueceu que, no ano (re)eleitoral, Bolsonaro baixou o preço da gasolina na bomba à custa do equilíbrio das contas estaduais?

E não foram só eles, porque no governo e meio de Dilma, que gerou dois anos seguidos de recessão, a continuação do ataque político à Petrobras não se resumiu à partilha de cargos entre PT e partidos aliados, mas também pela intervenção política e ideológica na definição de preços ao gosto não só do freguês, mas da própria presidente.

O fato é que as últimas pesquisas e as quedas de popularidade mexeram com os brios de Lula, a passividade do governo e o pavor de boa parte da opinião pública com a volta do bolsonarismo, ou até de Bolsonaro.

É assim que, além de botar a ministrada para mostrar serviço e arranjar um jeito de baixar preços de alimentos e combustíveis, Lula está bolando algo bem maior. Por isso se reuniu com o marqueteiro Sidônio Palmeira e a equipe de Paulo Pimenta para discutir uma “ofensiva de opinião pública”. Dizem que Janja também participou. Será?

 

2 comentários:

ADEMAR AMANCIO disse...

Será?

Daniel disse...

"Lula e Bolsonaro são antagônicos em praticamente tudo, mas dividem algo em comum"! - VERDADE VERDADEIRA!