sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Protesto por royalties reúne 150 mil no Centro

Cabral faz apelo para Dilma vetar projeto que tira bilhões do estado. Na Bacia de Campos, novo vazamento

Cerca de 150 mil pessoas tomaram a Avenida Rio Branco, entre a Candelária e a Cinelândia, num protesto contra o projeto de lei aprovado no Senado que retira cerca de R$ 50 bilhões só em royalties do estado e municípios fluminenses até 2020. Somando com ICMS e as regras para distribuição de recursos federais, o estado perderia até R$ 125 bilhões. O protesto, intitulado "Contra a injustiça - em defesa do Rio", mobilizou políticos, empresários, líderes sindicais e artistas no Centro. Funcionários públicos foram liberados para participar do evento, e muitas empresas encerraram o expediente mais cedo. Representantes dos municípios fluminenses chegaram a capital em 650 ônibus. "Hoje é um dia histórico para o Rio. É um dia contra a injustiça. O Rio deu provas de maturidade e união", disse o governador Sérgio Cabral qualificando de "aberração jurídica" o novo marco regulatório do setor. "A presidente Dilma, uma mulher serena, sensível e democrática, vai vetar isso", completou. A atriz Fernanda Montenegro leu um manifesto a favor do Rio. Na Bacia de Campos, houve vazamento de óleo do campo de Frade, operado pela multinacional Chevron.

150 mil pelos royalties

Passeata da Candelária à Cinelândia protesta contra perdas bilionárias do estado

Bruno Rosa, Fabiana Ribeiro, Henrique Gomes Batista, Liana Melo e Ramona Ordonez

Aunião de diversos setores da sociedade marcou ontem o protesto "Contra a Injustiça - Em Defesa do Rio", que mobilizou 150 mil pessoas contra projeto de lei que retira do estado e das prefeituras fluminenses R$48,8 bilhões até 2020 em royalties do petróleo. Passaram, sob sol forte, pela Avenida Rio Branco, da Candelária à Cinelândia, empresários, estudantes, servidores, artistas e sindicalistas - além de inimigos políticos que caminhavam lado a lado. Mais do que um evento da cidade, o ato contou com a participação de moradores de todos os 92 municípios fluminenses, que chegaram à capital em centenas de ônibus. Organizada pelo governo estadual, a manifestação reuniu também eclética seleção de músicas e bandas, dando o tom do protesto.

- Hoje é um dia histórico para o Rio. É um dia contra a injustiça. O Rio deu provas de maturidade e união - disse o governador Sérgio Cabral (PMDB), qualificando de "aberração jurídica" o novo marco regulatório do setor. - A presidente Dilma, uma mulher serena, sensível e democrática, vai vetar isso.

O evento contra as perdas - que, até 2020, podem chegar a R$125 bilhões, se o cálculos incluírem ICMS e Fundo de Participação dos Estados - custou aos cofres do estado R$780 mil com a montagem de palco, estrutura de som e iluminação, aluguel de trios elétricos e contratação de pessoal. Cabral considerou a manifestação um sucesso que deve sensibilizar os parlamentares em Brasília:

- Os parlamentares dos demais estados podem se sensibilizar porque o Rio é a síntese do Brasil e o brasileiro não admite desrespeito à lei.

Manifesto na voz de Fernanda Montenegro

Não houve discursos de políticos durante o evento, nem mesmo de Cabral - que afirmou que isso não se fez necessário, porque o povo do Rio se manifestou no evento.

- Você quer algo mais significativo do que nossa diva Fernanda Montenegro ter lido o nosso manifesto? - disse ele, argumentando que o vazamento de óleo na plataforma da Chevron, na Bacia de Campos, é uma prova de como são importantes os recursos dos royalties para o Rio.

Mais de 30 mil pessoas vieram do interior do Rio em comitivas das prefeituras. A prefeita de Campos, Rosinha Garotinho (PR), que não teve problemas em caminhar ao lado do seu rival político, Cabral, criticou o evento, por não haver discurso no palanque.

- Isso não é para ser um show. O evento não tem um direcionamento político, a população fica sem saber qual é a importância dos royalties. É só vir para a Cinelândia? Qual o direcionamento? Me parece que é só show - indignou-se a ex-governadora.

Mais de 500 sindicalistas marcaram presença na manifestação contra as mudanças na divisão dos royalties do petróleo. Entidades ligadas à Força Sindical levaram cartazes e caravanas de manifestantes para protestar. E empresários de diferentes setores participaram da manifestação, como Roberto Kauffmann, presidente do Sindicato das Indústrias de Construção do estado do Rio (Sinduscon). Ele disse que o setor não aceita que o estado seja punido com as perdas dos royalties:

- Ibsen Pinheiro (autor da proposta de mudança na distribuição de royalties) e (o senador) Vital do Rego (PMDB-PB) criaram exageros que não correspondem à realidade. O que estão fazendo com o Rio é uma covardia.

O presidente da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), Eduardo Eugênio Gouvêa Vieira, disse que a passeata é um movimento sem ligações com partidos políticos e que reúne todos os setores da sociedade.

- O Rio está se movimentando para ser a capital da reflexão do Brasil. Esse movimento não tem a ver com partidos políticos: reúne artistas, jornalistas e cidadãos. É uma manifestação contra uma intervenção da União no Rio.

O deputado Miro Teixeira (PDT-RJ) afirmou que foi à manifestação em defesa dos royalties do Rio em homenagem às pessoas que saíram às ruas para defender esta causa. Entretanto, Miro acredita que um evento como esse terá pouco impacto na disputa política em Brasília.

- Não acredito que algum deputado de outra bancada vai mudar seu voto por conta dessa manifestação - afirmou o pedetista, que acredita que, mesmo que a presidente Dilma Rousseff vete o eventual projeto aprovado que retira recursos do Rio, esse veto tende a cair quando for apreciado pelo Congresso. - A luta política está em Brasília, e a discussão já perdeu toda a base de lógica e racionalidade.

Protesto cai nas redes sociais

O senador Francisco Dornelles (PP-RJ) disse ontem que o Estado do Rio poderá recorrer à Justiça contra a mudança na divisão da receita dos royalties do petróleo.

- É a maior agressão que já se fez a um estado no império da República. Temos que ficar muito unidos para impedir isso. O Rio vai lutar até o último momento pelos seus direitos.

FONTE: O GLOBO

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