Uma correta administração das expectativas é essencial para evitar acidentes de trânsito. Por isso, o motorista deve sinalizar previamente seus próximos movimentos por meio de sinais do pisca-pisca, com gesticulação apropriada e, até mesmo, por redução da velocidade e por seu comportamento ao longo da pista.
Nesse ponto, o Banco Central do presidente Alexandre Tombini vem se mostrando displicente. Não liga muito para os sinais passados antes nem parece se importar com os movimentos reativos dos demais agentes econômicos ao longo da rodovia monetária.
Na ata da reunião do Copom ocorrida em março, ficou dito que "o cenário contempla a taxa Selic se deslocando para patamares ligeiramente acima dos mínimos históricos, e nesses patamares se estabilizando". Como o tal mínimo histórico foram os 8,75% em que a Selic estava entre julho de 2009 e o março de 2010, já havia ficado claro que, em abril, a Selic ficaria nos 9,0% ao ano e por aí permaneceria por certo tempo.
As principais razões para a baixa dos juros haviam sido apontadas pelo Banco Central: a melhora da qualidade da economia tinha derrubado os juros neutros (ou seja, o nível que não produz inflação); a queda relativa da atividade econômica interna; a estabilização das cotações das commodities... e outros fatores mais.
Mas o comunicado ontem divulgado logo após a reunião do Copom já não partia do pressuposto de que os juros cairiam em cumprimento aos sinais anteriormente emitidos. Precisou deixar claro que, "neste momento, permanecem limitados os riscos para a trajetória da inflação" e que os juros caem mais 0,75 ponto porcentual porque "até agora, dada a fragilidade da economia global, a contribuição do setor externo tem sido deflacionária".
As expressões "neste momento" e "até agora" mostram que o Banco Central já não sustenta o aparentemente forte compromisso anterior de manter os juros estabilizados em 9,0% ao ano. A qualquer momento, pode puxá-los novamente para cima ou prosseguir na trajetória baixista.
Além disso, colocou ênfase nas pressões deflacionárias que vêm de fora e não mais na queda do patamar dos juros neutros nem na desaceleração da atividade produtiva econômica, que o próprio Índice da Atividade Produtiva do Banco Central vem confirmando.
Enfim, o problema dos comunicados do Banco Central não está nas mudanças de avaliação e de procedimento – fatos normais numa situação de grave crise internacional como a de agora –, mas em ignorar o teor dos comunicados anteriores e, em seguida, puxar por novas justificativas que, por sua vez, podem ser ignoradas na próxima curva.
Ainda ontem, a diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christiane Lagarde, entendeu que precisava carregar nas tintas: "Pairam nuvens negras sobre a economia global", disse. Talvez buscasse convencer os países-sócios do FMI a reforçar as linhas de socorro à sua disposição. Independentemente das razões práticas, sabemos que o rombo orçamentário (e com ele a dívida pública) dos Estados Unidos segue crescendo; que a encrenca não está resolvida na área do euro; que o sistema bancário da Espanha está vulnerável; e que tudo isso pode gerar ainda mais recessão e desemprego.
Mas do Banco Central do Brasil se espera que seja mais claro não só a respeito do que pretende, mas também do que deixou de pretender.
Aí está a evolução da cotação do dólar no câmbio interno. Apenas nos 15 primeiros dias úteis de abril (até esta quinta-feira), o dólar avançou 3,2%.
Mais reservas. O Banco Central parece determinado a puxar as cotações para a altura de R$ 1,90. Apenas em abril (até dia 18), as reservas aumentaram US$ 4,7 bilhões – passando para US$ 369,9 bilhões. Nem toda essa diferença corresponde a compras de moeda estrangeira pelo Banco Central, porque as reservas podem variar tanto em relação a juros recebidos como em relação à variação do valor do mercado dos títulos que as compõem.
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