O governo federal já não acredita em que os juros altos no Brasil sejam os
principais fatores de atração de capitais e de valorização do real, responsáveis,
por sua vez, pela perda de competitividade do setor produtivo.
A presidente Dilma, por exemplo, insiste em que o principal fator é o
tsunami monetário provocado pelos grandes bancos centrais ao emitir volumes
colossais de moeda, situação de farta liquidez que acaba desembarcando por
aqui. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, se refere ao fenômeno com outro
termo: guerra cambial.
Não está ao alcance do governo brasileiro impedir emissões de moeda dos
grandes bancos centrais, essenciais para estancar os efeitos da crise global.
As reclamações da presidente Dilma e do ministro Mantega não passam de
esperneio.
Seria, por sua vez, tiro no pé tentar bloquear a entrada de capitais quando
o País precisa atrair poupança externa para ajudar a cobrir o rombo crescente
nas contas externas. E há mais do que simples dúvidas de que a atuação do Banco
Central na compra de moeda estrangeira esteja atingindo o objetivo pretendido.
Ao contrário, há razões para crer em que esteja acirrando o efeito oposto.
O Banco Central abandonou seu compromisso anterior de comprar moeda
estrangeira só para evitar excessiva volatilidade (comprar apenas
"sobras"). Passou a atuar para provocar um rali nas cotações do dólar
no câmbio interno. Somente nos 16 dias úteis de abril (até ontem), a alta do
dólar foi de 2,5%. Com isso, as reservas externas saltaram de US$ 352 bilhões,
ao final de dezembro, para US$ 371 bilhões, até dia 19 - crescimento de 5,4%.
Paradoxalmente, o aumento da agressividade do Banco Central na compra de
dólares, com o objetivo de provocar desvalorização do real - e não mais de
impedir a volatilidade das cotações -, tende a atrair mais capitais, à medida
que acentua a percepção de solidez da economia. Trata-se de uma operação enxuga
gelo, com aumento do gelo a ser enxugado. Em certo aspecto, isso também passou
a ser reconhecido pelo secretário Nelson Barbosa.
Enfim, as providências tomadas pelo governo nos últimos 12 meses para devolver
competitividade à indústria esbarram em enormes limitações e mesmo em gols
contra, como a produzida pela exuberância das reservas externas. Dirigentes da
indústria, grande beneficiária dos favores oficiais, reclamam do seu baixo
alcance prático, de sua transitoriedade e de sua extensão a apenas um punhado
de eleitos.
O fortalecimento da indústria brasileira em pleno processo de esvaziamento
depende da intensificação de dois fatores: das reformas destinadas a baixar os
custos de produção e de mais investimentos em infraestrutura. E ambos dependem
do forte aumento da poupança interna.
Na prática, o fortalecimento do setor produtivo exige guinada importante no
modelo de política econômica, que hoje privilegia o consumo e não o
investimento.
Mais extintores. Embora os Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e
África do Sul) não tenham avançado o volume de sua nova contribuição para o
Fundo Monetário Internacional, sua diretora-gerente, Christine Lagarde, disse
nesta sexta-feira que, com todos os recursos já apalavrados, conta com US$ 1
trilhão para suas linhas de socorro. É um reforço em extintores, mas que não
elimina o risco de grande incêndio na área do euro.
FONTE: O ESTADO DE S. PAULO
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