O ex-diretor-geral do
Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) Luiz Antônio
Pagot suspeita que assessores do Palácio no Planalto aturaram para derrubá-lo
durante a crise no Ministério dos Transportes, relata o repórter Fábio Fabrini.
Pagot disse ter sido informado de que assessores repassaram à imprensa dados da
reunião sigilosa com a presidente Dilma Rousseff em junho de 2011. O ex-diretor
alega que, no Dnit, afetou interesses da Delta Construções, o que teria gerado
a retaliação do grupo de Carlos Cachoeira
Ex-diretor do Dnit,
Pagot acusa assessores do Planalto de complô
Segundo ele, subchefe da Secretaria de Relações Institucionais e porta-voz
da Presidência atuaram para derrubá-lo
BRASÍLIA - Afastado do cargo na esteira da "faxina" no Ministério
dos Transportes, o ex-diretor-geral do Departamento Nacional de Infraestrutura
de Transportes (Dnit) Luiz Antônio Pagot lançou ontem a suspeita de que
assessores do Palácio do Planalto atuaram para derrubá-lo durante a crise na
pasta, deixando vazar informações de interesse da organização do contraventor
Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira. Em entrevista ao Estado, Pagot
afirma que o subchefe de Assuntos Federativos da Secretaria de Relações
Institucionais, Olavo Noleto, e o porta-voz da Presidência e do Palácio no Planalto,
Thomas Traumann, repassaram dados de reunião sigilosa da presidente Dilma
Rousseff com a cúpula dos Transportes, em 5 de junho de 2011, cujos detalhes e
frases foram reproduzidos pela revista Veja.
Pagot alega que, como diretorgeral do Dnit, afetou interesses da Delta
Construções, o que teria motivado retaliação do grupo de Cachoeira. Ele cita,
por exemplo, processo administrativo aberto contra a empreiteira no Dnit por
irregularidades em obra da BR-116 no Ceará. O inquérito da Operação Monte Carlo
da Polícia Federal, que motivou a criação da CPI do Cachoeira no Congresso,
indica que Noleto tem ligações com o grupo do contraventor, acusado de comandar
uma rede de jogos ilegais no País. Cachoeira está preso desde 29 de fevereiro.
Noleto admite ter conversado com Wladimir Garcez, ex-presidente da Câmara de
Goiânia e apontado como um dos principais aliados de Cachoeira, o qual teria
conhecido entre 2001 e 2002, quando trabalhava na Prefeitura de Goiânia.
Faxina. A reportagem da Veja desencadeou a chamada faxina no Ministério dos
Transportes, com o afastamento e exoneração da cúpula da pasta devido a uma
série de denúncias de corrupção. Pagot e demais dirigentes da área deixaram os
respectivos cargos. Quase um ano depois, grampos da Polícia Federal, obtidos na
Operação Monte Carlo, mostram Cachoeira e o ex-diretor da Delta Construções
Cláudio Abreu conversando sobre o vazamento das informações ao jornalista
Policarpo Júnior, da Veja. "Enfiei t udo no r... do Pagot", declarou
Cachoeira, em grampo que consta no inquérito da PF. "Se vazaram
(informações detalhadas da reunião para a revista), tinha duas pessoas que
tinham trânsito com o Policarpo. Uma se chamava Thomas Traumann, que tinha
trabalhado junto (com o jornalista)na Veja e trocava in- formações. A outra
pessoa era Olavo Noleto, que circulava com desenvoltura e participou dessa
reunião", afirmou Pagot.
O ex-diretor se disse surpreso com a divulgação das recentes gravações, que
revelaram uma "negociata" para derrubá-lo. Questionado sobre as
razões dos assessores do Planalto para tirá-lo do Dnit, foi evasivo: "O
por- quê (dos vazamentos) não sei: se fizeram isso de caso pensado, se fizeram
sob o comando do gover-no, se estavam fazendo como aloprados do PT, não
sei", afirmou, ponderando não ter provas. Pagot disse que Noleto, que é de
Goiás, seria amigo de Cachoeira e Abreu, frequentando festas na casa do
ex-diretor da empreiteira. "Essa figura (Noleto) é uma figura singela, um
gordinho amigo, mas é tido nos bastidores como "pau de dar em doido",
"pau para toda obra". É um cara partidário e que está sempre a fim de
fazer alguma esparrela. Lembra do caso dos aloprados? Sempre tem um cara do PT
a fim de fazer alguma sacanagem", comentou. Assim que apareceu nas
gravações da Monte Carlo, Noleto alegou que negociou com o ex-vereador Wladimir
Garcez apoio do senador Demóstenes Torres (sem partido, ex-DEM) à candidatura
da presidente Dilma em 2010, o que não se concretizou. Pagot afirmou que as
investigações da Polícia Federal e da CPI do Cachoeira vão revelar sob encomenda
de quem agiram Cachoeira e Abreu. E, também, se houve ordem do Planalto na
suposta operação para prejudicá-lo. Segundo ele, o governo se pautou por uma
reportagem "mentirosa" ao desencadear a "faxina" nos
Transportes. "O Planalto se aproveitou para exonerar o PR e o Pagot. Fui
leal ao governo", reclama. / F.F.
FONTE: O ESTADO DE S. PAULO
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