Paulo de Tarso Lyra, Erich Decat
Antes mesmo da instalação oficial da CPI mista que investigará as relações
do bicheiro Carlinhos Cachoeira com agentes públicos e privados, governo e
oposição já estão em clima de confronto quanto ao andamento dos trabalhos. O
líder do PSDB na Câmara, Bruno Araújo (PE), quer propor a criação de
sub-relatorias para facilitar os trabalhos de investigação, já que a comissão
nasce com um escopo amplo de envolvidos. Além disso, a medida, se adotada,
evitará um poder excessivo concentrado nas mãos do relator — um petista que
será anunciado na próxima terça-feira."Mas é importante que os relatores e
sub-relatores trabalhem em conjunto", defendeu ao Correio o líder do PSDB
na Câmara, Bruno Aguiar(PE).
Possível integrante da CPI, o senador Jorge Viana (PT-AC) discorda da
proposta feita por Bruno Araújo.Na opinião do petista, a ideia de implementar
sub-relatorias poderá atrapalhar os trabalhos da comissão, pois criará um clima
de disputa entre governo e oposição. "Se isso ( a divisão ) acontecer,
será um desastre. Essa CPI não pode ser um acerto de contas", defendeu
Viana.
Escalado como suplente da CPI na vaga destinada ao bloco de oposição do
Senado, Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) acredita que a divisão do trabalho por
vários parlamentares ajuda nas investigações e evita que a maioria governista
transforme os trabalhos em uma farsa política. "Como não acredito que vão
dar algum espaço para a oposição, não podemos deixar tudo nas mãos apenas de
governistas, porque, senão, a CPI não vai dar em nada", ressaltou o
parlamentar pernambucano.
Para o deputado MiroTeixeira (PDT-RJ), a proposta não significa, de antemão,
que os trabalhos da comissão serão prejudicados. Miro puxou na memória para
exemplificar que o expediente, adotado durante a CPI que levou ao impeachment
do ex-presidente Fernando Collor, surtiu efeito. Curiosamente, Collor é um dos
senadores que farão parte desta CPIdoCachoeira."Mas se alguém está
pensando que, ao ter uma sub-relatoria, passará a ser dono de um pedaço da CPI,
está enganado", alertou Miro.
Mensalão
O expediente de fatiar os trabalhos de investigação também foi adotado na
CPI dos Correios, de 2005, que investigou o escândalo do mensalão e subsidiou o
indiciamento de 40 réus pelo Supremo Tribunal Federal. Foram cinco
sub-relatorias: Fundos de Pensão, sob responsabilidade do deputado Antonio
Carlos Magalhães Neto (DEM-BA); Normas de Combates à Corrupção, sob
responsabilidade do deputado Ônix Lorenzoni (DEM-RS); Instituto de Resseguros
do Brasil(IRB), conduzida pelo ex-deputado Carlos Williams (MG); Movimentaç ã o
Financeira , com Gustavo Fruet (hoje no PDT, na época no PSDB-PR); e Contratos,
elaborada pelo atualministro da Justiça, então deputado pelo PT paulista, José
Eduardo Cardozo (SP).
Todos esses trabalhos foram anexados ao texto final elaborado pelo relator
Osmar Serra gio ( PMDB - PR ) . Para o deputado ACM Neto, atual líder do
partido na Câmara, não existe nenhum problema que a fórmula seja repetida nesta
CPI.Mas ele prefere ser prudente para não antecipar esse tipo de disputa
enquanto o nome do relator não for definido. "A CPI ainda precisa ser
instalada. A partir daí vamos conversar com os demai s integrantes do bloco
para definirmos nossa linha de atuação", disse ele.
Longe da polêmica, o líder do PMDB na Câmara , Henrique Eduardo Alves (RN),
afirma que o objetivo do seu partido é investigar todas as suspeitas levantadas
nas Operações Vegas e Monte Carlo, realizadas pela Polícia Federal. Ele nega
que a escolha dos dois deputados peemedebistas para a CPI tenha o objet ivo de
prejudicar os governos estaduais. Henrique escolheu a deputada Íris Araújo (GO)
e Luiz Pitiman (DF). "Pitiman é um empresário que iniciou a carreira
política e Íris é vice-presidente nacional do PMDB", ressaltou. "O
PMDB não quer politizar nada. Não vai atacar ninguém gratuitamente, mas também
não vamos blindar ninguém", assegurou.
Próximos passos
» Os partidos têm até terça-feira para indicar os nomes que vão compor a CPI.
Ao todo, serão 32 cadeiras divididas entre 16 deputados e 16 senadores, com
igual número de suplentes.
» Em razão da proporcionalidade do tamanho das bancadas, 25 cadeiras ficaram
com integrantes da base aliada. O restante, com a oposição.
» Após a indicação dos nomes, o parlamentar mais velho do colegiado tem até 48
horas para convocar uma sessão em que serão escolhidos o presidente e o vice.
Apesar dessa formalidade, o comando da CPI ficará com o senador Vital do Rêgo
(PMDB-PB). O nome do vice será indicado pela bancada do PT da Câmara, único
partido que até o momento não apresentou nenhum nome para a comissão.
» Na primeira sessão, o presidente escolherá o nome do relator, também acordado
anteriormente com o PT da Câmara. Na mesma audiência será definido o cronograma
inicial das atividades.
» O prazo de duração da CPI é de 180 dias, podendo ser postergado por igual
período. O custo estimado para a realização das atividades é de R$ 200 mil.
Pendências na
indicação dos integrantes
Câmara
PT
Deve decidir em reunião de bancada na próxima terça-feira o
nome do relator, os três titulares e os três suplentes.
PMDB
Deputado Édio Lopes (RR) foi indicado ontem para ocupar
a segunda vaga de suplente do partido
PP
Deputado Gladson Cameli (AC) foi escolhido ontem
para vaga de titular. Suplente indefinido.
Senado
Bloco da Maioria (PMDB/PP/PSC/PMN/PV)
Falta a indicação dos cinco suplentes.
Bloco de apoio ao governo (PT/PDT/PSB/PCdoB/PRB)
Falta a indicação de três suplentes
FONTE: CORREIO BRAZILIENSE
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