Desta vez é o Irã. Só em fevereiro, os preços do petróleo medidos tanto pelo tipo Brent, formados em Londres, quanto pelo West Texas Intermediate (WTI), definidos em Nova York, subiram perto de 11% (veja o gráfico).
O puxador imediato das cotações é a ameaça de ataque aliado ao complexo nuclear do Irã, conjugada com a decisão, já tomada, de um boicote da União Europeia ao comércio iraniano, a partir de 1.º de julho.
O Irã produz 3,5 milhões de barris de óleo cru por dia e exporta 2,5 milhões. O mercado também teme pelo fechamento do estreito de Ormuz à navegação, por onde escoa quase 40% do petróleo produzido no mundo.
No momento, os consumidores estão reforçando os estoques, fator que puxa os preços para cima. Em tempos normais, a partir de agora se fecham os contratos de fornecimento de petróleo destinados a enfrentar o aumento de consumo da temporada de verão no Hemisfério Norte, quando dispara a procura por gasolina e por combustíveis para as centrais de ar-condicionado.
Não deixa de ser paradoxal que essa alta aconteça em meio à queda da atividade econômica na Europa ou de baixo crescimento em várias outras economias do mundo. Como é o responsável por mais de 30% da matriz energética global, o petróleo continua sendo produto de alta importância estratégica. Seu consumo em escala mundial está hoje perto dos 90 milhões de barris diários, conforme relatórios da Agência Internacional de Energia e, nesta época de recessão, cresce a quase 1% ao ano. Em contrapartida, a produção tende a cair a longo prazo, por falta de reposição de reservas produtivas diante do esgotamento das atuais.
Os analistas não contam com rápida solução para o conflito com o Irã. As únicas atenuantes para uma disparada mais acentuada dos preços seriam a liberação das atuais reservas estratégicas dos Estados Unidos, de 331,2 milhões de barris, e o aumento da oferta pela Arábia Saudita, hoje de 9,8 milhões de barris diários.
A alta do petróleo exerce pressão adicional sobre o governo Dilma. Ainda na quinta-feira, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, avisou que, neste ano, perseguirá um crescimento de 4,5%. No ano passado, com um avanço do PIB de apenas 2,6%, o consumo de gasolina aumentou 3%. Também neste ano, não se espera aumento de produção de etanol, dados os insuficientes investimentos na cultura de cana-de-açúcar. São fatores que aumentarão ainda mais o consumo de gasolina e diesel, os dois derivados que a Petrobrás está sendo obrigada a importar a preços cada vez mais altos para vendê-los internamente a preços subsidiados.
Como já avisou a presidente recém-empossada da Petrobrás, Graça Foster, mais cedo ou mais tarde será necessário reajustar os preços ao consumidor. Como este é um ano eleitoral, a hora de dar esse passo é agora. Com isso, a menos que o governo Dilma opte por uma redução de impostos, parece inevitável um puxão no custo de vida que, por sua vez, pode embaçar o projeto do Banco Central de derrubar ainda mais os juros.
A arrecadação do governo federal em janeiro foi recorde (R$ 102,6 bilhões). Cresceu 6,04% (em termos reais, descontada a inflação) sobre janeiro de 2011 e 5,57% sobre dezembro. O principal fator desse aumento foi a antecipação do recolhimento do Imposto de Renda e da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido das empresas. O aumento da massa salarial (de 15,47% em dezembro sobre dezembro do ano anterior) também contribuiu para isso. Um bom comportamento da arrecadação é fator importante para cumprimento da meta do superávit primário de 3,1% do PIB.
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