Por Marcos de Moura e Souza
BELO HORIZONTE - O assunto voltou a ocupar conversas de políticos e analistas mineiros. Marcio Lacerda, do PSB, pode deixar o cargo de prefeito de Belo Horizonte para concorrer ao governo de Minas Gerais em 2014.
No partido essa é uma ideia defendida por muitas lideranças. Lacerda é hoje o nome do PSB com mais chances de vitória em Minas. E é também o que teria mais condições de puxar votos no segundo maior colégio eleitoral do país para Eduardo Campos (PSB-PE), pré-candidato à Presidência da República. Minas é o ninho eleitoral do senador Aécio Neves (PSDB-MG), hoje o principal nome da oposição na corrida ao Planalto.
Lacerda é aliado de ambos. E vem declarando que prefere continuar como prefeito, cargo para o qual foi reeleito no ano passado. Mas quem conversa com frequência com ele considera que no último mês ele passou a dedicar mais tempo a avaliar a possibilidade de sair candidato. Na semana passada, em entrevista a um jornal de Belo Horizonte, o Hoje em Dia, o prefeito declarou: "Ser candidato numa aliança PSB-PSDB seria, digamos, algo avaliável. Avaliaria com um pouco mais de possibilidade percentual de concordar."
Neste quinto ano como prefeito, o primeiro de seu segundo mandato, Marcio Lacerda não fez nenhuma grande inauguração nem implementou nenhuma mudança marcante.
Com a economia afetada pelo ritmo da economia brasileira, Belo Horizonte espera fechar o ano com receitas - tributárias, transferências e outras - de 8,022 bilhões, segundo a Secretária de Finanças. A previsão orçamentária era de R$ 9 bilhões. "Nós já tivemos este ano uma frustração de arrecadação este ano de uns R$ 250 milhões porque a economia não cresceu tanto quanto esperávamos. Esse é o grande ponto de interrogação do próximo ano e nos demais", disse Lacerda.
Com menos dinheiro em caixa do que imaginava, o prefeito diz que uma das conquistas de sua equipe este ano foi ter ampliado de 15 mil para 65 mil o número de alunos entre 6 a 14 anos em escolas com dois turnos. Outro destaque na educação: um contrato inédito no país de parceria público privada (PPP) que o município fechou com a construtora Odebrecht para a construção e manutenção de 37 escolas infantis na cidade. Até agora três foram entregues. Somadas às convencionais, serão 13 escolas infantis entregues 2013, segundo a prefeitura. Nos primeiros quatro anos do primeiro mandato, Lacerda entregou 26.
O prefeito diz que a marca mais evidente desse momento da gestão é grande quantidade de obras na cidade. "Estamos falando este ano em R$ 1,2 bilhão em investimentos em obras", disse ele na noite de terça-feira numa festa do partido em Belo Horizonte. São investimentos em infraestrutura em saúde, educação, na área social e em obras viárias, disse.
Mas em 2014, Lacerda espera ter mais a mostrar. O cronograma de obras vai coincidir com o calendário eleitoral. Se decidir que entrará na disputa pelo governo de Minas, o prefeito pode ter à mão ao menos duas novidades de impacto eleitoral. Uma é a entrada em funcionamento do BRT, um sistema de corredores de ônibus replicado em várias cidades pelo mundo, e que é promessa de alívio do trânsito em alguns das principais vias da cidade.
As obras, de R$ 1,5 bilhão, começaram no primeiro mandato atrasaram; eram para ter sido entregues antes da Copa das Confederações. Entre novembro e fevereiro, o projeto passou por uma série de ajustes e o cronograma é que a partir de fevereiro, os primeiros trechos entrem em funcionamento.
Lacerda tem até 4 de abril para sair se a decisão for de disputar o governo. Se tudo sair como a prefeitura espera, até a Copa o BRT estará operando integralmente.
Nas contas de um interlocutor do prefeito, em agosto, que é quando as campanhas eleitorais estarão pegando fogo, Lacerda terá ainda outro resultado a mostrar: a limpeza da Lagoa da Pampulha, uma beldade turística apreciada pelos belorizontinos. A prefeitura conta com um empréstimo de US$ 75 milhões do Banco Mundial para a recuperação da lagoa e da estrutura do entorno.
O caixa do município em 2014 estará reforçado. O prefeito conseguiu aprovar este mês três empréstimos. Um deles, de US$ 200 milhões junto ao Banco Mundial com o objetivo de quitar quase toda dívida da prefeitura com o Tesouro Nacional, hoje em R$ 330 milhões. É trocar uma dívida cara por uma mais barata e dar folga para mais investimentos. Outros dois empréstimos aprovados dias atrás pelo Tesouro e pelo Senado são de US$ 75 milhões com o Banco do Brasil e US$ 55 milhões com o Banco Interamericano de Desenvolvimento.
BRT e Pampulha e o avanço de outros projetos poderão ajudar a dar mais carisma a uma eventual candidatura do prefeito fortalecê-lo na região metropolitana.
Mas o sua candidatura passa pelo desenrolar das conversas entre o governador de Pernambuco e presidente nacional do PSB, Eduardo Campos, e o senador do PSDB por Minas, Aécio Neves.
Os dois têm conversado sobre a possibilidade de um apoio mútuo em seus Estados de origem: em Pernambuco, o PSB teria um candidato ao governo e o PSDB poderia ter um nome na vice ou disputando uma vaga ao Senado na mesma chapa. Em Minas, o PSDB ficaria com a cabeça de chapa e o PSB em uma das outras vagas. Mas esse acordo tem ainda muitas arestas e divide as opiniões de políticos quanto a sua viabilidade.
"Esse é um cenário, não está nada fechado. O outro cenário é o Márcio se candidatar a governador, ajudando a puxar votos para o Eduardo e com chances claras de vitória", diz o deputado federal Júlio Delgado, presidente do PSB de Minas.
Uma aliança entre PSB e PSDB que apoiasse Lacerda - o cenário que mais o agradaria - parece hoje muito pouco provável.
Lacerda disse na terça que já tem uns três meses que não fala com Eduardo Campos. "Pode acontecer muita coisa até as convenções de junho", disse ele sobre o caminho que seu partido tomará em Minas. Inclusive ele tentar o governo? "Acho muito remota essa possibilidade", disse. "Ser lembrado hoje como possível candidato ao governo do Estado é algo me honra muito. Mas eu estou muito focado na questão da cidade." Lacerda acrescentou ainda que "seria uma pena muito grande deixar a gestão municipal para disputar uma eleição."
Lacerda foi eleito e reeleito com o apoio de Aécio. Pesquisa realizada em outubro pela MDA apontou que o nome preferido dos eleitores para as eleições ao governo do Estado em 2014 é o do ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel (PT). Ele apareceu com 31,5% a 42,2% das intenções de voto, dependendo dos cenários. Lacerda apareceu como o segundo em intenções de voto, com 19,9%. O tucano Pimenta da Veiga, nome mais forte hoje no PSDB, com 10,2% a 12,7%.
"Para o grupo de Aécio, seria importante ter um candidato mais competitivo para levar a disputa em Minas para o segundo turno", diz Malco Camargos, professor de Ciências Políticas da PUC-MG. "Nesse sentido, Lacerda seria visto como o nome natural. Mas a questão é que Lacerda poderia acabar tirando votos de Aécio para o Eduardo."
Fonte: Valor Econômico
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