Murillo Camarotto
RECIFE - O governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), nunca teve fama de ecologista, mas sua aliança com uma notória ativista da causa, a ex-senadora Marina Silva (PSB), suscitou interesse acerca da aptidão do presidenciável ao tema. Apesar de a nova aliada ter chegado exigindo tintas verdes no amarelo e vermelho do PSB, Campos - que vai deixar o cargo em abril para concorrer ao Planalto - já vinha reforçando a política ambiental de seu governo, cujos resultados ele quer apresentar na campanha eleitoral que se avizinha.
Fiel ao seu estilo, o governador vai inundar a propaganda com números e gráficos sobre seu desempenho na área. Um dos destaques vai ser a parceria público-privada (PPP) que promete universalizar o saneamento básico nos 14 municípios da Região Metropolitana do Recife - onde frequentemente falta água. O leilão de energia solar realizado no ano passado, a expansão de áreas verdes protegidas e um projeto de engorda da praia em Jaboatão dos Guararapes também terão espaço.
A "conversão" à causa verde começou em meados de 2011, poucos meses após Campos ser reeleito governador. Durante a campanha, a pouca importância dada ao meio ambiente foi criticada pelo jornalista Sérgio Xavier, então candidato do PV ao Executivo estadual. Amigo e aliado de Marina, Xavier alertava para "o elevado risco de colapso ambiental em Pernambuco". Seu alvo principal era a devastação do bioma na região do Porto de Suape, epicentro do avanço econômico do Estado, onde estão mais de cem empresas, entre elas a Refinaria Abreu e Lima.
Passada a eleição, Campos criou uma Secretaria de Meio Ambiente e convidou Xavier para ajudar a resolver os problemas que este apontara durante a campanha. "Mesmo sendo reeleito com mais de 80% dos votos, o governador sabia da necessidade de fortalecer sua política ambiental e nos procurou", lembra Xavier, para quem o risco de colapso já foi sensivelmente reduzido.
Números da secretaria comandada por ele apontam um avanço de 92% na área protegida de Mata Atlântica entre 2010 e 2013. Também foram criadas áreas de proteção da caatinga e uma rede de monitoramento da qualidade do ar. Em Suape, houve expansão de 48% para 59% da área protegida, além da recuperação e preservação de 9,6 mil hectares de mangue. "Em dois anos, fizemos mais do que nos 33 anos de existência do complexo de Suape", registra Xavier, que também destaca o crescimento no orçamento anual da pasta, que passou de R$ 28 milhões em 2010 para R$ 92 milhões em 2014.
Assinada no ano passado com a Odebrecht, a PPP do saneamento foi contestada durante a última eleição para a Prefeitura do Recife, que foi o embrião do rompimento do PSB com o PT. Candidato a prefeito, o senador Humberto Costa (PT-PE) acusou Campos de privatizar a empresa estadual de água e esgoto. O governador teve que ir a público no horário eleitoral para explicar o projeto, orçado em R$ 4,5 bilhões.
Realizado em dezembro, o leilão de energia solar promovido pelo governo de Pernambuco resultou na contratação de 122,8 MW, que demandarão investimentos de R$ 592 milhões.
Segundo Xavier, a política ambiental adotada nos últimos anos está credenciada para ser replicada em nível nacional. Ele informou que o programa de governo para o setor vai propor, entre outras coisas, incentivos fiscais para a migração "dos velhos eixos de alto impacto ambiental para os novos eixos da economia verde e inclusiva, de baixo carbono".
Quando aceitou o convite para assumir a secretaria, Xavier acabou expulsando do PV o deputado estadual Daniel Coelho, que veio a se tornar a principal voz de oposição a Campos no Estado. Também militante da causa ecológica, Coelho não aceitou a adesão e rumou ao PSDB, partido pelo qual ganhou projeção após ficar em segundo lugar na eleição municipal do Recife.
O carma de Campos, no entanto, voltou a cruzar seu caminho recentemente, quando o PSDB aderiu ao governo. Ainda assim, Coelho garante que vai manter o tom crítico. Coincidentemente, ele foi escalado para a equipe que está preparando as propostas do presidenciável tucano Aécio Neves para a área ambiental. A seu ver, a segunda gestão de Campos deu início a algumas políticas após o "descaso completo" do primeiro mandato. Ainda assim, o tucano avalia que a política ambiental do governador é mais voltada para a propaganda do que para ações efetivas.
O deputado - que está deixando a liderança da oposição na Assembleia Legislativa - lembrou que Campos enviou à Casa uma série de projetos que previam desmatamento. "Há uma diferença clara na politica de licenciamento ambiental das obras públicas para as privadas", acrescenta Coelho, ao mencionar a maior dificuldade para a liberação dos investimentos privados.
As iniciativas recentes em geração de energia limpa, complementa o deputado, só vieram após a derrubada de um projeto bilionário - defendido pelo governo - de construção de uma usina térmica movida a óleo combustível. "O nosso polo de produção de gesso, que é o maior do país, ainda é movido à base de queima de madeira nativa. Onde está a sustentabilidade?", indagou Coelho.
Fonte: Valor Econômico
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