- O Tempo (MG)
Em queda há meses nas pesquisas de intenção de voto para as eleições presidenciais de outubro, a presidente Dilma Rousseff (PT) começa o mês de junho com diversos problemas. O primeiro é a desconfiança crescente entre as bases governistas de que ela não consiga se reeleger. Ainda que os candidatos oposicionistas não cresçam, a queda de Dilma e o aumento do número de indecisos são preocupantes.
O segundo problema se refere à questão econômica. Com o PIB andando de lado e o espectro da inflação rondando o país, Dilma corre risco na única área em que o insucesso será fatal para o seu projeto de reeleição. Se o ambiente econômico continuar piorando, ela chegará ao segundo turno bastante enfraquecida e terá de fazer uma campanha pesada para assegurar o favoritismo.
O que fica patente é que, no campo econômico, Dilma perdeu a confiança dos principais agentes. Mercado e empresários não confiam no governo. E ela nada fez de concreto para recuperar a confiança que mereceu no início de sua gestão.
O terceiro problema é o que o jornalista Josias de Souza indica como deterioração estética do governo. Nesse sentido, vejo que o mais grave é a ausência de uma narrativa própria de Dilma. A ponto de existirem vários “movimentos retrôs”: o “volta, Lula” no mundo petista; o reconhecimento do eleitorado de que Lula é o mais capacitado para fazer mudanças; e a propaganda partidária que sugere a perda de ganhos conquistados pelas classes populares, caso a oposição vença as eleições.
Sem uma narrativa própria, Dilma se vê às voltas com o que ela mesma reconhece como a sua maior ameaça: os movimentos da base governista contra a sua candidatura. O que é irônico é o fato de chegarmos às portas das eleições com uma tônica constante nas eras Lula e Dilma: os maiores obstáculos são causados pelo próprio governo e sua base.
Josias de Souza aponta que o governo acredita que a participação de Lula na campanha é suficiente para remediar as dificuldades. Josias diz ainda que tal crença é ilusória. Pois bem, Lula continua sendo o agente político de maior potência eleitoral e certamente pode definir a eleição a favor de Dilma.
Mas o Planalto deveria ajudar. É verdade quando Josias afirma que Dilma depende muito mais dela própria do que de Lula para ganhar as eleições. Para isso, três pontos são fundamentais: recuperar a imagem da equipe econômica, melhorar a comunicação com os aliados e o eleitorado e trabalhar para que a Copa do Mundo não seja um fracasso.
É impressionante como o governo, mesmo em tempos de escassez de boas notícias, não consegue ter uma visão estratégica do que comunicar nem tampouco de como comunicar. Por exemplo, o governo Dilma conseguiu baixar significativamente os índices de miséria no Brasil. Em três anos, a extrema pobreza foi dramaticamente reduzida: mais de 22 milhões de brasileiros deixaram essa condição.
Apesar da relevância dos fatos, o Planalto não os comunica adequadamente e acaba ficando refém de uma lógica publicitária ultrapassada e ineficiente. Além de não ter uma estratégia de comunicação com stakeholders da sociedade, não lança mão do imenso potencial das realizações sociais da era Lula-Dilma nem abre canais diretos de comunicação com os grandes agregados de eleitores.
Dilma deveria falar especificamente para mulheres, jovens, minorias, empresários, trabalhadores. Para tanto, deveria segmentar as mensagens e os meios. Fala-se muito em democratização das comunicações no governo e nas esferas políticas do PT, mas o universo governista demonstra incapacidade de se comunicar em tempos de abundância de meios e existência, ainda que pequena, de boas notícias.
Ao se decompor a atividade do governo, encontram-se diversas medidas positivas que beneficiam parcelas importantes do eleitorado. Falta o trabalho de identificar o quê e como comunicar a quem deve receber a mensagem. No campo econômico, não é necessário falar muito. O governo flerta perigosamente com o fracasso. O resultado é o decréscimo na confiança da população quanto ao futuro, o que ficou evidente na pesquisa Datafolha divulgada na semana passada: 36% dos brasileiros entrevistados estão pessimistas com o futuro; e 68% creem que a inflação vai subir.
Apesar das mensagens preocupantes das pesquisas, tanto no que se relacionam à preferência eleitoral quanto em termos de expectativas e, ainda, em relação à clara preferência por Lula pela maioria do eleitorado, nada de novo está acontecendo. Para o governo, a Copa, dependendo de seu resultado, pode fazer tudo piorar ou melhorar. Pode fazer piorar se nada for feito e se a Copa for confusa ou redundar em fracasso. Pode fazer melhorar se mudanças de rumo forem tomadas e a Copa for positiva.
É “se” demais para quem poderia estar liderando as pesquisas com folga.
Murillo de Aragão é cientista político.
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