- Folha de S. Paulo
A promessa foi feita em alto e bom som pela candidata Dilma Rousseff: se reeleita, não permitiria a redução de direitos trabalhistas. "Nem que a vaca tussa", enfatizou, lançando um bordão que seria martelado na propaganda petista.
Corria o mês de setembro, e a presidente repetia que uma vitória de Marina Silva ou Aécio Neves custaria caro ao trabalhador. Sua reeleição, ao contrário, seria a garantia de que os benefícios previstos em lei não seriam tocados. "Tem coisas que eu não concordo, como mexer nos direitos do trabalhador, e não abro mão nem que a vaca tussa", afirmou.
O discurso foi endossado pelo presidente do PT, Rui Falcão. Ele recorreu à metáfora bovina para convocar militantes a ocupar portas de fábrica. "Flexibilizar significa retirar direito dos trabalhadores", disse. "Nem que a vaca tussa nós vamos mexer nos direitos trabalhistas."
A vaca tossiu antes de Dilma estrear o segundo mandato. A três dias da posse, ela escalou uma junta de ministros para anunciar os cortes que vêm por aí. O resumo é que a promessa de preservar direitos, assim como a de não aumentar a taxa de juros, só valeu para ganhar a eleição.
O pacote de malvadezas é duro com os trabalhadores mais pobres. Reduz o abono salarial, dado a empregados que ganham até dois salários mínimos, e limita os pagamentos de pensão por morte, seguro-desemprego e auxílio-doença. A tesoura atinge até os pescadores artesanais, que terão menos chances de receber o seguro-defeso nos períodos em que a pesca é proibida.
A explicação para as medidas é o rombo nas contas do governo. Dilma terminará o primeiro mandato com uma série de recordes negativos. O deficit de R$ 6,7 bilhões em novembro foi o pior da série iniciada em 1997. Não há dúvidas de que novos cortes podem ser necessários para estancar essa sangria. A questão é saber se a presidente tem direito de pedir aos eleitores que esqueçam tão rápido o que prometeu.
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