• Neste ano, a companhia perdeu R$ 87,182 bi em valor de mercado; o balanço contábil do 3º trimestre só será divulgado em janeiro
Antonio Pita - O Estado de S. Paulo
RIO - Em meio a uma grave crise institucional, após a deflagração de investigações sobre corrupção na diretoria executiva e mudanças no cenário global de petróleo, a Petrobrás encerrou 2014 com uma perda acima de R$ 87 bilhões em valor de mercado em relação ao último ano - a maior perda em valor absoluto entre as empresas nacionais negociadas no mercado de ações. Após mais um dia de desvalorização na bolsa de valores, as ações da estatal amargaram uma queda de 37% no valor ao longo do ano em que a companhia se viu envolvida numa rede de escândalos e precisou adiar o balanço financeiro para detalhar o impacto econômico da corrupção em seus ativos.
Na comparação entre o dia 30 de dezembro de 2013 e os resultados fechados nesta terça-feira, a companhia perdeu R$ 87,182 bilhões em valor de mercado, saindo de R$ 214,6 bilhões para cerca de R$ 127,5 bilhões, segundo levantamento da Economatica, queda de 40,6%. De acordo com a consultoria, a estatal deixou de ser a segunda empresa nacional com maior valor de mercado, atrás da Ambev, e encerrará o ano na quarta colocação, tendo sido ultrapassada também pelo Itaú Unibanco (R$ 183 bilhões) e Bradesco (R$ 145,5 bilhões).
Somente nos últimos quatro meses, as ações da estatal acumulam perdas de cerca de 62%. No início de setembro, o ex-diretor Paulo Roberto Costa iniciou a delação premiada e o conteúdo dos depoimentos, vazados à imprensa, iniciaram a derrocada dos papéis preferenciais da empresa, que saiu de cerca de R$ 24 para menos de R$ 10 em dezembro, após novo adiamento da divulgação do balanço financeiro do terceiro trimestre.
Nesta terça-feira - sob impacto do anúncio de novas medidas de controle da corrupção na estatal, como o bloqueio temporário da participação de 23 empresas em licitações e a ampliação das investigações independentes no fundo Petros - as ações ordinárias da companhia fecharam em queda de 2,48%, cotadas a R$ 9,59. Já as ações preferenciais caíram 2,53%, cotadas a R$ 10,02.
Os resultados negativos reforçam a percepção do mercado de que as medidas anunciadas pela Petrobrás ainda não são suficientes para recobrar a confiança do mercado. A estatal reforçou que só irá divulgar o balanço contábil não auditado do terceiro trimestre em janeiro, apesar da movimentação de fundos estrangeiros para cobrar dívidas referentes à emissão de US$ 54 bilhões em bônus da estatal por descumprimento de compromissos de divulgação das informações.
Além disso, a companhia anunciou que trabalha na revisão de seu plano de negócios para 2015, considerando uma "redução do ritmo de investimentos" e projetando uma taxa média de câmbio de R$ 2,60 e preço médio do Brent de US$ 70. Hoje, entretanto, o Brent para fevereiro chegou a ser negociado a US$ 57. Na última semana, a agência de classificação Moody's colocou a avaliação de risco da estatal em "revisão", dando margem a um possível rebaixamento "em breve". Na avaliação do consultor Pedro Galdi, as perspectivas são "pessimistas" para a estatal.
"Ela deve ser rebaixada, certamente. Não descarto que as ações caiam mais, até perto de R$ 6. É difícil quantificar o abalo, mas é uma situação triste para uma das mais importantes empresas do País", comentou o consultor.
Galdi também destacou o impacto para as ações da companhia das fortes quedas na cotação internacional do petróleo, a partir de setembro. Desde então, a cotação do óleo Brent, negociado em Londres, saiu do patamar de US$ 105 para cerca de US$ 57, levando diversas companhias a rever projeções de investimento no próximo ano. A Petrobrás já admitiu que irá rever o plano de negócios e gestão com uma "ligeira" redução nos investimentos, mas, até apresentar o balanço contábil, não detalhará quais projetos podem ser redimensionados.
Além dos fatores econômicos, que incluem ainda o alto endividamento da companhia e a pressão cambial, as flutuações nos papéis e no valor de mercado da companhia acompanharam o calendário das investigações e desdobramentos da operação Lava Jato, que revelou o pagamento de propina a diretores da estatal por empreiteiras responsáveis pelas principais obras da Petrobrás. Em setembro, quando vazaram trechos de depoimentos de delação premiada do ex-diretor Paulo Roberto Costa, as ações eram cotadas acima de R$ 20.
No último dia 12, entretanto, as ações caíram a menos de R$ 10 pela primeira vez desde 2004. A forte queda foi marcada pela expectativa com a divulgação do balanço financeiro da companhia, adiado novamente após o fechamento daquele pregão. Desde novembro a companhia posterga a divulgação dos resultados trimestrais, após a auditoria externa se recusar a revisar as informações sem um aprofundamento das investigações internas sobre a corrupção e sem a baixa contábil referente ao impacto dos desvios no caixa da empresa. Até o momento, a empresa não anunciou quando divulgará os resultados. Fontes afirmaram aoBroadcast que o balanço não auditado deve ser liberado em 12 de janeiro.
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