- Folha de S. Paulo
Quais são as chances de um eventual governo Michel Temer dar certo? Eu diria que são bem pequenas, mas existem.
O principal trunfo do ainda vice-presidente é que ele não é Dilma Rousseff. A simples troca de guarda já faz com que as expectativas acerca da economia parem de deteriorar-se. Temer deve contar também, por um período que pode ser muito breve, com a boa vontade do Congresso.
Se ele conseguir aprovar três ou quatro medidas que indiquem para o mercado que a situação fiscal não vai piorar mais, ganha razoável fôlego. Algumas dessas sinalizações precisam ser de longo prazo. Mudanças na Previdência são o alvo mais óbvio. O problema é que também será necessário arranjar dinheiro para o curto prazo, o que significa elevar impostos, algo que não agrada nem a empresários, nem à classe média.
Precisará ao mesmo tempo mostrar à população que algo dos programas sociais será preservado, além de evitar que Estados em pior situação financeira entrem em colapso, tudo isso mantendo a base no Congresso. Sem verbas, fica complicado.
Supondo que o futuro presidente consiga resolver esse xadrez, algumas coisas correm em seu favor. A recessão finalmente começa a conter as pressões inflacionárias. Em breve o BC poderá baixar os juros, o que melhora tanto os ânimos do empresariado quanto a situação fiscal. O programa de repatriação de recursos também poderá trazer surpresas agradáveis para a Fazenda.
É claro que há também poderosos ventos contrários. A Lava Jato é um deles. Não dá para descartar que o próprio Temer seja enredado. O PT mordido na oposição é outro. O mais difícil, porém, é que, para que esse cenário mais róseo se materialize, Temer teria de ser menos Temer, e o PMDB, menos PMDB. Extremamente improvável, mas não impossível.
São muito "ses", mas o simples fato de haver condicionais é uma melhora em relação ao presente.
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