• De acordo com o senador do PSDB, o ex-presidente do BC ‘está disposto a ajudar’, mas não deve assumir Fazenda num possível governo Temer
Erich Decat - O Estado de S. Paulo
BRASÍLIA - Com receio de ter as principais ideias e propostas na área econômica esvaziada num possível governo de Michel Temer, integrantes da cúpula do PSDB pretendem apoiar as medidas apresentadas pelo PMDB, mas não apresentar todas as soluções que o partido tem gestado para tirar o País da crise.
A estratégia de não “entregar o ouro” passa pela não liberação de nomes de peso como o do ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga para a composição de um novo governo, caso se concretize o impeachment da presidente Dilma Rousseff.
Fraga foi uma das principais referências do PSDB na campanha de 2014 na área econômica. Na ocasião, ele atuou como interlocutor de Aécio, candidato presidencial do PSDB, com o mercado financeiro e com os investidores.
Na noite dessa segunda, Aécio e Fraga estiveram em São Paulo com Michel Temer e integrantes do núcleo mais próximo do vice.
“Houve a negativa (por parte do Armínio de participar de um futuro governo) até para não deixar as especulações crescerem. Mas ele está disposto a ajudar”, afirmou Aécio na tarde desta terça-feira, 19, em seu gabinete no Senado.
“Vamos correr riscos, claro, de apoiar um governo que não é nosso. Mas o consenso da bancada do PSDB é que esse é o governo do PMDB não é do PSDB. Temos que nos preparar para lutar para chegar à presidência pela via eleitoral de 2018”, ressaltou o tucano. “Vamos ajudar a empurrar essa pedra até 2018”, emendou.
Apesar de segurar alguns dos quadros estratégicos do partido, Aécio considerou, contudo, que se algum tucano aceitar o convite para participar de um possível governo Temer, ele não será alvo de nenhum processo de expulsão. O posicionamento do dirigente tem alvo a possibilidade de o senador José Serra (PSDB-SP) ser chamado para integrar o grupo do vice-presidente da República.
Diagnóstico. Segundo Aécio, no jantar com Temer, Armínio também apresentou um diagnóstico do quadro atual, que passou pela necessidade de uma reforma na área da previdência, às mudanças do sistema de subsídios.
“Armínio disse também que havia uma grande expectativa em torno do governo Temer e que era preciso aproveitar bem essa expectativa”, ressaltou Aécio.
Núcleo duro. Na avaliação da cúpula do PSDB, em razão das expectativas do mercado e de investidores, o vice-presidente tem que acelerar as discussões em torno da formação da equipe ministerial para que ela possa ser apresentada no dia seguinte à votação do processo de impeachment na Comissão Especial do Senado.
Caso o colegiado aprove a admissibilidade do processo, o parecer do colegiado deve ser encaminhado ao plenário, que decidirá se Dilma deverá ou não ser afastada pelo período de 180 dias. Com o afastamento da petista, Temer assume interinamente. A previsão inicial é de que a comissão encerre suas atividades no próximo dia 10 de maio.
“Acho que não dá para esperar. No dia seguinte ao afastamento (da presidente Dilma) ele tem que estar com o núcleo duro do governo pronto. Ele não tem que ir com sensação de interinidade. Defendo que ele deve também vir ao Congresso Nacional e traga cinco ou seis medidas como prioridade”, ressaltou.
“Tem que passar a sensação de um governo com firmeza, de que ele está dando um passo seguro até para antecipar a substituição definitiva (da presidente Dilma), emendou.
Segundo ele, nas conversas com Temer, uma das primeiras sinalizações de “austeridade” do novo governo deverá ser cortes no número de ministérios.
“Um dos aspectos positivos da conversa foi de ele dizer que vai fazer uma redução drástica dos ministérios. Algo em torno de 22. Esse é um pouco do nosso desenho”, disse Aécio.
Aécio ironizou, contudo, a possibilidade de alguns dos atuais “aliados”, que votaram contra a presidente Dilma, no processo de impeachment na Câmara, também fazerem parte do novo governo.
“Falei para ele tomar cuidado com a baldeação. Se der muita importância para a turma da baldeação fica muito parecido com o que está”, brincou.
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