• Resolução do partido prega resistência no Senado contra impeachment, mas já aponta tática de atuação na oposição
Ricardo Galhardo - O Estado de S. Paulo
SÃO PAULO - Na primeira reunião depois da derrota na batalha contra o impeachment da presidente Dilma Rousseff na Câmara, o diretório nacional do PT aprovou, nesta terça-feira, 19, sob orientação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, uma resolução na qual afirma ainda acreditar na possibilidade de barrar o processo no Senado, mas já aponta a estratégia para um possível governo do vice Michel Temer (PMDB).
De acordo com integrantes do diretório, Lula disse aos dirigentes petistas, sem citar Temer nominalmente, que parte das traições sofridas pelo governo na Câmara são fruto de promessas de que a Operação Lava Jato seria abafada em troca da aprovação do impeachment.
Segundo o presidente nacional do partido, Rui Falcão, o PT e os movimentos sociais e sindicais que compõem as Frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo vão tentar, com manifestações de rua e ações no exterior, deslegitimar e impedir a estabilidade do eventual governo Temer.
“Não haverá trégua nem estabilidade para um governo que carece de voto popular. O PT não vai permitir que ele ponha em prática o seu programa. Não podemos permitir que depois de anos de avanço venha um cara sem voto, traidor, retirar direitos”, disse Falcão. “É muito mais do que oposição parlamentar só. É dizer para a população que com um governo ilegítimo não tem paz, não tem tranquilidade, tem luta. E deslegitimação permanente aqui e no exterior.”
Além de Lula, participaram da reunião a convite da direção petista Guilherme Boulos, líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), e João Paulo Rodrigues, da coordenação nacional do Movimento dos Sem Terra (MST), representando as duas frentes.
Segundo relatos, Lula disse que a estratégia de confronto teria sido forçada pela oposição. “A elite nos forçou a fazer a luta de classes. Não fomos nós que pedimos”, disse o ex-presidente, em referência ao caráter conciliador de seus oito anos de mandato.
Falcão usou termos duros como “traidor” e “receptador” para se referir a Temer. Segundo ele, o PT vai concentrar esforços no Senado e não deve discutir neste momento a realização de uma campanha pela realização de novas eleições, pois a prerrogativa da decisão é exclusiva de Dilma.
“Não tiramos conclusões a respeito disso porque acreditamos que é preciso avaliar no Senado a questão se houve ou não crime de responsabilidade. Qualquer discussão a respeito de encurtamento de mandatos não pode ser travada ou ter nenhuma deliberação a menos que isso viesse a partir da presidente da República”, afirmou.
No encontro, Lula admitiu que a possibilidade de reverter o quadro no Senado é remota. Embora o partido não vá embarcar, ao menos por ora, na tese das novas eleições, senadores petistas continuam fazendo articulações nesse sentido. A ideia é usar o argumento para atrair votos contra o impeachment.
Volta às raízes. Depois de 13 anos nos quais deixou as velhas práticas de lado, se aproximou de legendas de centro-direita e se distanciou da base histórica, o PT faz uma espécie de autocrítica e fala em voltar às raízes, reforçando a relação com movimentos populares e se reaproximando de partidos de esquerda. “Fazendo autocrítica na prática, o PT tem reaprendido, nesta jornada, antiga lição que remete a fundação de nosso partido: o principal instrumento político da esquerda é a mobilização social”, diz a resolução aprovada nesta terça.
O texto faz menções específicas aos partidos que se aliaram na luta contra o impeachment, como PDT e PC do B, inclusive alguns de oposição ao governo, casos do PCO e do PSOL, criados após rachas internos do PT.
Alguns dirigentes defenderam a proibição de alianças, nas eleições municiais, com partidos que votaram a favor do impeachment. A questão ainda será debatida pela direção partidária. / Colaboraram André Italo Rocha e Gilberto Amendola
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