• Após relatório do BC, cresce a aposta de corte nos juros básicos em outubro
Gabriela Valente - O Globo
-BRASÍLIA- Pela primeira vez nos últimos dois anos, a previsão para a inflação no ano que vem ficou abaixo da meta do governo de 4,5%. Com isso, foi aberto o caminho para o Banco Central (BC) começar a cortar os juros. Segundo o relatório de inflação, a expectativa para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), usado oficialmente no sistema de metas, passou de 4,7% para 4,4%. No entanto, o BC alertou que há condicionantes para começar a afrouxar a política de juros. As principais delas são o prometido corte nos gastos públicos e o equilíbrio das contas do governo.
O economista-chefe do Banco ABC Brasil, Luís Otávio Leal, acredita em corte de juros já no mês que vem. Leal lembra que antes de mudar o comando da autarquia, não havia perspectivas de inflação na meta antes de 2020. Atualmente, a projeção do próprio BC é de que a inflação fique na meta no ano que vem e em 3,8% em 2018.
— Quando o Ilan Goldfajn e sua equipe assumiram o BC trouxeram uma credibilidade natural, que aumentou com mudanças feitas na comunicação, o que ancorou as expectativas — disse o analista.
Leal espera um corte de 0,25 ponto percentual na taxa básica (Selic), que está em 14,25% ao ano, em outubro. Para ele, haverá o primeiro ruído com o novo Comitê de Política Monetária (Copom) se não houver um afrouxamento da política monetária.
NA DEPENDÊNCIA DO AJUSTE FISCAL
Ontem, o BC tentou dar mais um passo para melhorar a comunicação com a sociedade e o mercado financeiro. Disse que tem a missão de manter a inflação na meta num “horizonte relevante não estático”. O termo causou confusão entre os analistas, que passaram a questionar se o Banco Central desistiria das metas anuais.
Na tentativa de sanar essa dúvida, o diretor de Política Econômica da autarquia, Carlos Viana de Carvalho, explicou que, a cada reunião do Copom, os diretores olharão para as previsões de inflação para o período 24 meses à frente e, de acordo com o número, calibrarão a taxa de juros. Com isso, o BC quer dizer que não acontecerá mais como ocorria na gestão do ex-presidente Alexandre Tombini. Em várias ocasiões, a antiga diretoria do BC admitia que não conseguiria levar a inflação para a meta e adiava a convergência para o alvo fixado pelo governo:
— Não há um momento crítico em que há uma substituição de um horizonte pelo outro. É um processo contínuo, que ocorre de forma gradual — disse Carvalho.
No entanto, o BC alertou que uma queda dos juros não é certa. Disse que há condicionantes para isso ocorrer, como a persistência dos efeitos do choque de alimentos e da incerteza sobre velocidade da queda nos preços no setor de serviços. A principal delas, entretanto, é o ajuste fiscal. Principalmente a aprovação da proposta que limita os gastos do governo que está no Congresso Nacional. O relatório diz que há “sinais positivos” em relação ao encaminhamento e à apreciação das reformas.
“As projeções aqui apresentadas dependem ainda de considerações sobre a evolução da política fiscal. Na conjuntura atual, os principais efeitos desta política estão associados ao processo de ajuste da economia, que envolve encaminhamento de importantes reformas propostas pelo Governo para apreciação pelo Congresso Nacional”, diz o relatório.
Contudo, a previsão para este ano piorou, e a probabilidade de estourar o teto da meta (que é de 6,5%) aumentou. A projeção do BC saltou de 6,9% para 7,3% em 2016. Mas os efeitos dos juros altos — mantidos em 14,25% ao ano desde setembro do ano passado — serão sentidos daqui para frente.
PREVISÃO DE INFLAÇÃO DE 3,8% EM 2018
Em 2018, a projeção é de IPCA em 3,8%. A divulgação da estimativa da inflação para o fim de 2018 foi uma inovação da nova diretoria do BC. Normalmente, a autoridade monetária só divulgava as expectativas para nove trimestres à frente. Desta vez, informou a projeção para os próximos dez períodos. O dado tão baixo para 2018 pode ter um efeito importante: influenciar os economistas que divulgam semanalmente suas projeções para a inflação. Se estão altas, contaminam a economia e dificultam o trabalho do Banco Central de trazer a inflação para a meta.
Outra mudança relevante do relatório trimestral de inflação foi a retirada das projeções para a atividade econômica do principal capítulo, que trata das perspectivas para a inflação. Em todo o trecho, não há sequer uma única menção ao Produto Interno Bruto (PIB). Com isso, o BC de Ilan dá um recado muito claro: o crescimento econômico não é o foco da autarquia. Em um box à parte, o BC informou que a estimativa para o comportamento da economia este ano foi mantida em queda de 3,1%. Já para o ano que vem, a expectativa é de expansão de 1,3% da atividade.
Sobre cenário externo, o BC diz que há um “interregno benigno” para economias emergentes. No entanto, as incertezas sobre o crescimento da economia global e, especialmente, sobre a normalização das condições monetárias nos Estados Unidos, persistem.
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