- Valor Econômico
Eleições de 2018 já afetam o governo no Congresso
Quis o destino que a nova lista do procurador geral da República Rodrigo Janot começasse a vazar na véspera do primeiro teste de ruas da reforma da Previdência, com as manifestações convocadas pelo movimento sindical. A divulgação dos implicados ainda é uma obra em curso, tem ficado claro com a entrada de novos nomes nos últimos dias, mas o que já se sabe joga um míssil na elite governista no Congresso, em uma circunstância em que as resistências à reforma previdenciária estão em trajetória ascendente.
A ligação entre o fato policial e a prioridade máxima para os agentes econômicos no Congresso, que podia se estabelecer mais adiante nasce, portanto, de imediato. O custo para sua aprovação aumentou e os prazos tendem a se dilatar
A crise fiscal é um fator propulsor da reforma, uma vez que fragiliza as reivindicações corporativas e reforça o sentimento de urgência, mas também é um dos obstáculos para sua aprovação. Todo mundo que disputa eleições vive 2018. Reeleger-se, agora, é questão de manter os padrões mínimos de qualidade de vida que o foro privilegiado garante aos seus usuários. Satisfazer o eleitor não é uma questão vulgar e a rejeição popular à reforma da Previdência é um dado da realidade. Campanha publicitária alguma mudará esta percepção.
O colapso dos Estados debilitou toda uma estrutura de poder regional que podia dar alguma blindagem aos políticos locais em relação aos dissabores de estar no listão da Lava-Jato. Os governadores, eles mesmos baleados, não garantem mais o amparo a um grupo político como antes. A organização de alianças e a hidratação de estruturas regionais de mídia não contrabalanceiam no plano local as notícias ruins que chegam do plano nacional para um ou outro cacique. O caso do líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros, é emblemático.
Além de criticar todos os dias a reforma da Previdência do governo, Renan é o pai do governador de Alagoas, o que dispensa maiores comentários sobre a sustentação que recebe do governo local. Também é aliado do ex-presidente e senador Fernando Collor, igualmente alvo da Lava-Jato e dono das Organizações Arnon de Mello, que controlam os maiores veículos de comunicação do Estado, entre eles, o jornal "Gazeta de Alagoas". Não por acaso, em sua primeira página desta quarta o principal diário de Maceió omite o nome de Renan na discreta chamada para a entrega da lista de Janot, em que só se menciona Lula, Dilma, Rodrigo Maia, José Serra e Aécio Neves. A manchete, sintomática, é sobre as manifestações contra a reforma de ontem, avisando aos leitores da agenda de atos na capital alagoana.
Renan está acuado por um rosário de acusações na Lava-Jato e figurou em uma pesquisa do instituto Paraná Pesquisas como terceiro colocado na eleição para o Senado em Alagoas em 2018, o que o deixa fora da casa, embora seu filho tenha popularidade suficiente para se reeleger governador. Voando baixo, avançam posições no cenário alagoano o senador Benedito Lira, o ministro dos Transportes Mauricio Quintella Lessa e o ex-governador Ronaldo Lessa.
Posar de defensor dos aposentados e pensionistas pode ser uma linha de defesa para quem está sem blindagem. Em Alagoas, segundo esta mesma pesquisa, Lula conta com 40% de intenções de voto para presidente. A questão não é de estrutura política: inexiste o PT em Alagoas e Lula provavelmente ficará inelegível. O tema é que o eleitor alagoano está sinalizando um ponto de vista.
Uma ampla anistia, geral e irrestrita aos envolvidos na Operação Lava-Jato, ganhou assim novo sentido de urgência na classe política. Sem o salve geral na esfera jurídico-policial, a reforma previdenciária pode ser vítima de manobra de contenção de danos. Com o estancamento da sangria, a nave tende a tomar seu prumo. A reforma política é o embuste do momento para esta ofensiva. Caso se consagre, o voto proporcional em lista fechada entra na institucionalidade brasileira com um exclusivo propósito: caronear o voto popular e garantir para a bancada suspeita novos mandatos e manutenção de foro. A chave não é o voto na sigla, o segredo é preordenar a ordem da lista de acordo com a votação de 2014.
Como todas as operações políticas para exorcizar a Lava-Jato, esta é outra que tem problemas. É muito conveniente para a Câmara dos Deputados, mas não resolve a vida dos senadores. Pelo contrário, a piora, porque impede os atuais detentores de mandato na Câmara alta a tentar a Câmara baixa em posição de destaque. A reeleição ao Senado ficaria então como alternativa única aos que precisam manter o nariz acima da linha d'água, uma perspectiva inquietante quando se imagina que a Operação Lava-Jato, que completa três anos hoje, ainda deverá ser a pedra angular do processo eleitoral em 2018.
Microcosmo
Maior cidade a realizar eleição suplementar este ano, Foz do Iguaçu se mostra um laboratório curioso do impacto que um grande escândalo de corrupção pode causar nas urnas. A Operação Pecúlio, da Polícia Federal levaram à cadeia o prefeito Reni Pereira (PSB) e vários vereadores. No dia 2 de abril os eleitores voltam às urnas e há dois favoritos: o deputado estadual Chico Brasileiro (PSD), escoltado por um vereador do PCdoB que se notabilizou por ser um dos raros sem envolvimento com o escândalo. O principal adversário, Phelipe Mansur (Rede), é um empresário sem experiência política, que gosta de se apresentar como gestor.
Chico Brasileiro ancora sua campanha no tom de combate à corrupção. Mas embora martele em seu "jingle" que "o passado não volta mais" e que ele representa "uma grande mudança", o candidato do PSD pertence ao mundo tradicional da política. Ele conta com apoio do grupo político do ministro da Saúde, Ricardo Barros e já concorreu duas vezes a prefeito. Mansur tem como lema o "chega de politicagem" e um ex-prefeito como patrono na propaganda eleitoral. É o candidato apoiado pelo governador Beto Richa. Seja quem for o ganhador, fica claro que o sistema político mostra uma blindagem grande ao sentimento difuso de repúdio às estruturas tradicionais.
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