Após quase dois anos, geração de vagas supera fechamento
Em fevereiro, foram 35 mil postos formais. Recuperação foi puxada pelo setor de serviços, mas indústria também teve melhora, pelo segundo mês seguido. Para analistas, mercado de trabalho começa a reagir
Após 22 meses de encolhimento do emprego formal no país, quando foram eliminadas 2,86 milhões de vagas com carteira, o mercado de trabalho reagiu em fevereiro. O número de contratados superou o de demitidos em 35 mil. O setor de serviços criou mais de 50 mil vagas e a indústria, pelo segundo mês consecutivo, gerou emprego. Mas, no Rio, a crise ainda castiga o mercado de trabalho: foram fechados oito mil postos. O resultado positivo no país superou a expectativa dos analistas, que só previam uma recuperação no segundo trimestre. O governo também foi surpreendido e organizou, às pressas, uma cerimônia para que o próprio presidente Temer anunciasse os números positivos.
País volta a gerar emprego
Após quase dois anos, foram criados 35,6 mil postos de trabalho com carteira em fevereiro
Gabriela Valente, Simone Iglesias, Eduardo Barretto e Geralda Doca | O Globo
-BRASÍLIA- Após quase dois anos de fechamento de vagas formais no Brasil, o país voltou a gerar emprego em fevereiro. Foram criados 35.612 postos de trabalho com carteira assinada no mês passado, num resultado que surpreendeu analistas e o próprio governo, depois de 22 meses em que o país mais fechou do que abriu vagas. A recuperação do emprego foi puxada pelo setor de serviços, que abriu mais de 50 mil postos. Mas a indústria também ficou no terreno positivo, pelo segundo mês consecutivo, com 3.949 vagas.
Desde abril de 2015, o país não tinha abertura de postos formais, e, nesse período, foram fechados 2,86 milhões de vagas com carteira. A expectativa dos especialistas era que o país voltasse a gerar empregos apenas no segundo trimestre.
Entre os fatores de alento para a recuperação antecipada, está a retomada da contratação em setores estratégicos, como os de fabricação de máquinas e equipamentos, o que foi considerado pelo governo como um bom sinal de retomada do investimento. Outro ponto ressaltado pelos técnicos do Ministério do Trabalho foi a contratação em empresas de Recursos Humanos. A avaliação é que outras empresas começaram a demandar esse tipo de serviço para voltar a contratar.
A expectativa é que a recuperação da indústria provoque efeitos positivos em outros setores.
— O desempenho deverá impulsionar a dinâmica do mercado de trabalho. Ainda poderão ocorrer alguns resultados mensais negativos, mas, seguramente, o mercado de trabalho começa a reagir efetivamente aos sinais da economia nacional — observou o especialista da área Rodolfo Torelly.
CONSTRUÇÃO É SETOR MAIS PREJUDICADO
Além dos serviços e da indústria, a agropecuária contratou, preenchendo 6.201 vagas. Mas o setor de comércio encolheu (-21.194 postos), e a construção civil também sofreu retração, com menos 12.857 vagas. É consenso entre os analistas que o setor mais prejudicado é mesmo o da construção civil. As construtoras estão com o estoque de imóveis prontos abarrotado e devem demorar a voltar a contratar.
— A construção civil ainda convive com um estoque enorme de unidades habitacionais e está envolvida com a Operação Lava-Jato, que afetou intensamente o nível de produtividade. Por isso, o setor deve demorar mais a voltar a gerar empregos — avaliou o professor da Unicamp Cláudio Dedeca.
O governo conta com a liberação do saldo das contas inativas do FGTS para incentivar o setor. A expectativa é que o dinheiro extra na mão do trabalhador incentive a compra da casa própria ou até mesmo pequenas reformas nos imóveis, o que movimentaria a contratação de serviços de pedreiro ou pintor, por exemplo.
Assim que soube da notícia, o Palácio do Planalto organizou rapidamente uma cerimônia para que o próprio presidente Michel Temer anunciasse os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). O presidente admitiu que o desemprego ainda é alto, mas considerou os dados como o início de uma nova trajetória. Internamente, a expectativa do governo é de uma melhora apenas no segundo semestre.
— É claro que nós temos ainda muitos milhões de brasileiros que dependem de emprego. Mas é preciso começar. E o começo veio por essa notícia que eu estou dando a vocês — discursou o presidente, durante a solenidade.
No discurso, Temer citou a melhora da classificação de risco do Brasil pela agência de classificação Moody’s, que alterou a perspectiva para a economia brasileira de negativa para estável, a queda da inflação, o sucesso da concessão dos aeroportos e o pagamento de contas inativas do FGTS como indícios de que, enfim, o Brasil começa a reverter o quadro de recessão dos últimos anos.
— No dia de ontem (quarta-feira), a agência Moody’s tirou de negativo para estável (a perspectiva da nota brasileira). Os pontos negativos estavam em torno de 570, o que nos tirou o grau de investimento. Agora, ficou abaixo de 300 pontos e, em pouco tempo, provavelmente, se atinja pontuação que nos faça retornar ao grau de investimento — disse o presidente. — São notícias que incentivam o governo e incentivam a economia brasileira.
Nos bastidores, o resultado positivo foi considerado “emblemático”, porque, em fevereiro do ano passado, foram fechadas 104.582 vagas com carteira assinada. Esse tinha sido o pior resultado para o mês desde que o Ministério do Trabalho passou a registrar os dados, em 1992.
RIO FECHOU OITO MIL VAGAS
São Paulo foi o estado que gerou mais empregos no país. Entre admissões e demissões, criou mais de 25 mil vagas. Foi seguido pelos três estados da Região Sul. Em quinto lugar, está Minas Gerais, que teve um saldo de mais de nove mil vagas.
Do lado oposto, Rio de Janeiro, Alagoas e Pernambuco foram os estados em que houve mais fechamento de vagas. Somente no Rio, foram mais de oito mil demitidos além dos contratados no mês passado. A unidade da federação com o pior desempenho no Caged foi Pernambuco, com o encerramento de mais de 16 mil postos formais de trabalho.
— Nós observamos uma desaceleração do desemprego. Se Deus quiser, mês a mês, portas e portas de emprego serão abertas — afirmou o ministro do Trabalho, Ronaldo Nogueira.
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