quarta-feira, 26 de setembro de 2018

Míriam Leitão: Perdas e ganhos com o petróleo

- O Globo

Alta do petróleo aumenta a atratividade do pré-sal, mas tornará mais complexo para o próximo governo resolvera questão do diesel

O petróleo tem subido de forma constante. Quando atinge um novo patamar, a cotação oscila um pouco, mas não volta ao ponto anterior e, segundo executivos do setor, vai continuar assim. A alta do petróleo e do dólar, por causa da eleição, aumentará o custo do subsídio ao diesel. Além disso, há outros problemas no setor de óleo e gás que exigirão um entendimento da questão maior do que demonstram ter alguns dos candidatos à frente nas intenções de votos.

A produção do Irã está em queda e a dos dois maiores fornecedores, Arábia Saudita e Rússia, não está aumentando. Por isso, o cenário mais provável é de preços elevados, talvez indo em direção aos US$ 100. Esse é um bom momento para atrair mais investidores para o pré-sal brasileiro, área que tem sido considerada uma das fronteiras mais competitivas de exploração e produção do mundo. Se o Brasil tiver uma política de hostilidade aos investidores, perderá de novo a chance, como aconteceu entre 2008 e 2013, quando o PT suspendeu por cinco anos os leilões para mudar as regras para o regime de partilha.

Na sexta-feira, haverá a 5ª Rodada de leilão do pré-sal, no regime de partilha, e grandes empresas de vários países do mundo se inscreveram para participar. Estarão presentes BP, Chevron, Shell, Total, Equinor (ex-Statoil), Exxon, e duas grandes chinesas. Há uma extrema incerteza sobre o que acontecerá no Brasil neste setor a partir de 2019, mas elas vieram. Por quê? A explicação no mercado é que houve retirada de alguns dos obstáculos, por exemplo, o alto conteúdo nacional dos equipamentos e a obrigatoriedade de a Petrobras ser a operadora única do pré-sal. Isso estava nas regras criadas pelo PT e foram alteradas pelo governo Temer. Com isso, aumentou o interesse dos investidores. A própria Petrobras ficou com mais flexibilidade.

—Dos quatro blocos que foram ofertados, a Petrobras só demonstrou interesse em um. Isso mostra a grande diferença entre ter a obrigatoriedade ou não. Ela seria obrigada a participar de outros três, apesar de não ter interesse — disse o especialista em petróleo da Tendências Consultoria, Walter de Vitto. Fontes da empresa confirmam que a flexibilidade é um ganho para a Petrobras. E se as regras mudarem pelo novo governo? Os estrangeiros vieram porque o desembolso inicial é pequeno, o maior gasto é ao longo da maturação do projeto. Se o país tomar a trilha errada, mais uma vez, basta eles desistirem dos investimentos.

O risco de o país tomar o caminho errado agora é que pode não haver outra chance.

—O pico da demanda era em 2050, depois foi revisado para 2040, agora já calculam que será em 2030, portanto, a procura por petróleo tende a começar a cair mais cedo do que se imaginava, a hora de produzir é agora —diz um dirigente da Petrobras.

O consultor Walter de Vitto acha que mesmo que o consumo de energia se altere nas próximas décadas a indústria de petróleo continuará forte por algum tempo:

—Esses leilões do pré-sal podem garantir uma boa curva de crescimento de produção para os próximos 10 anos.

Há uma consequência da alta do petróleo que cria um dilema urgente para o Brasil. O subsídio ao diesel termina no fim do ano e o novo governo o que fará? Perguntados, os candidatos dão respostas insuficientes, mas isso é uma bomba que vai estourar no colo do próximo governo.

O PT afirma em seu programa que a política de preços será “reorientada”, para criar “um preço estável e acessível para os combustíveis”. Isso significa voltar o subsídio a todos os derivados de petróleo que ajudou a arruinar as contas da empresa. O programa de Bolsonaro diz que os preços internos vão seguir os do mercado internacional, mas “suavizados com mecanismos de hedge”. O candidato, quando foi perguntado sobre isso na Globonews, deu uma resposta confusa e falou até em vender a Petrobras para resolver o problema do preço do diesel. Voltou atrás depois. O candidato Ciro Gomes disse que não vai seguir preços internacionais. A pessoa que for eleita terá que decidir, assim que assumir, o que fazer com o subsídio ao diesel. Mais importante será definir uma política para a Petrobras e o petróleo em momento em que somos muito produtivos, mas a queda do consumo já está na linha do horizonte.

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