As cotações do petróleo voltaram a subir e atingiram os maiores valores desde 2014, em uma escalada que vários analistas acreditam que o tipo Brent vá chegar a US$ 100 o barril até o fim do ano, durante o inverno no Hemisfério Norte. O aumento dos preços e a valorização do dólar configuram, caso persistam, uma combinação perversa para países como o Brasil, onde a gasolina já subiu a dois dígitos e, ao lado de energia, tem pressionado um ainda confortável índice de preços.
Há muitas dúvidas sobre se as cotações podem ir além dos US$ 100 a partir de 2019. A demanda oscila hoje em torno de 100 milhões de barris por dia e deve crescer mais 1,4 milhão de barris diários este ano e 1,5 milhão no ano que vem, estima a Agência Internacional de Energia (AIE). Os estoques dos países da OCDE estão abaixo de sua média de 5 anos, o que têm impulsionado os preços. A oferta manteve-se em crescimento desigual, mas vinha dando conta do recado até o segundo trimestre do ano. O aumento da produção do "shale oil" americano, da ordem de 1,5 milhão de barris por dia nos doze meses encerrados em junho, contribuiu para amortecer preços.
O cartel da Organização dos Países Produtores de Petróleo (Opep) foi, no entanto, bem-sucedido em sua meta de defender os preços e em estabelecer para isso um acordo com outros grandes produtores de fora da organização, como a Rússia, para retirar, em 2016, 1,8 milhão de barris por dia do mercado. Estudo da consultoria Oxford aponta que o acordo foi integralmente cumprido por todos e que, sem ele, o preço do óleo estaria ao redor de U$ 56 o barril, e não dos US$ 70, no primeiro trimestre do ano. Reunidos na Argélia nesta semana, o grupo decidiu não elevar a oferta agora, dando a partir daí firmeza para que as cotações fizessem novo movimento altista.
Os EUA já eram o maior consumidor mundial de petróleo e agora são os maiores produtores também, com 15 milhões de barris/dia, seguidos pela Rússia, com mais de 11 milhões e Arábia Saudita, com 10 milhões. O ponto principal é que a quantidade de óleo que está sendo jogado no mercado tende a diminuir. A produção da Venezuela, que no auge chegou a 3 milhões de barris/dia, está hoje em 1,24 milhão. Esse não é o único abalo a atingir a oferta global.
O presidente Donald Trump decidiu unilateralmente romper o acordo para deter os projetos nucleares do Irã e restabeleceu sanções ao país. Algumas delas estão em vigor e o pacote completo se consuma em 4 de novembro. A produção iraniana, com o fim das proibições, atingiu 3,8 milhões de barris/dia, mas o cerco americano, com retaliações de toda espécie a seus compradores, podem já ter retirado do mercado, segundo analistas, algo como 500 mil barris/dia. Calculam que o corte de oferta possa chegar a 1,5 milhão de barris/dia, como ocorreu antes do acordo e na vigência de semelhantes sanções. A AIE estima que a Venezuela, além disso, produzirá apenas 1 milhão de barris por dia no fim do ano.
O acordo entre Opep e outros produtores serviu de barragem à enorme pressão baixista da enorme produção do petróleo americano. Mas a sustentação de preços elevou bastante os déficits fiscais da Arábia Saudita e outros produtores árabes, que agora procuram recuperar o tempo e o dinheiro perdidos.
Trump, um dos responsáveis pelo desequilíbrio da oferta, afinal, parece ter descoberto que existe um cartel do petróleo e que ele é chefiado por seu maior aliado no Oriente Médio, a Arábia Saudita. Em um fórum não exatamente apropriado, a Assembleia Geral da ONU, ele acusou a Opep de estar "despedaçando o mundo". Ao seu estilo, queixou-se: "Não gosto disso e ninguém gosta. Defendemos de graça muitos desses países e eles tiram vantagem e aumentam preços". Concluiu: "Não vamos tolerar estes preços horríveis por mais tempo". Essa não é a única batalha de Trump e a China, atingida por tarifas nos EUA, assegurou aproximação com a Rússia para energia e deverá continuar comprando petróleo iraniano, enquanto colocou tarifas sobre o óleo americano.
Mas à aliança de produtores não interessa provocar um abalo na economia global com preços estratosféricos, que levariam a nova derrocada das cotações. O crescimento mais moderado da Europa e da China não sancionarão, por seu lado, aumentos extremos. Trump teme que a alta do petróleo arrancará mais dólares dos consumidores americanos quando eles forem votar em uma renhida eleição para Câmara e Senado. Uma nova guinada baixista não está no horizonte até lá.
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