- Valor Econômico
Com rasteira bem dada nos primeiros, 3ª via tem chance
O país vai às eleições de 7 de outubro partido, pelo que revela o quadro de hoje, a menos de duas semanas de abertura das urnas. E, pior, não há perspectiva de felicidade a partir de qualquer resultado que se venha apresentar ao segundo turno. O governo que vai começar em 1º de janeiro de 2019 é uma promessa de confusão, de aprofundamento das crises, de radicalização. Se for o PT, com o projeto Fernando Haddad vocalizando Lula, impedido de disputar, chegará com a faca nos dentes, pronto para cumprir as ameaças que seu timoneiro vinha fazendo antes mesmo de ser preso, a começar pelo controle da imprensa, pela anulação de medidas de ajuste fiscal, pelo risco de volta da política econômica de matriz não tão nova mais. Se for o projeto Jair Bolsonaro, será a tensão permanente que cerca um mundo desconhecido, pois ele ainda não disse a que virá. Com certeza impregnada do temor de novo golpe militar e de autoritarismo igual à expectativa com o PT.
É uma eleição ruim para o Brasil, embora desde que começaram a se definir as candidaturas já se soubesse que o eleitor não teria, desta vez, muita chance de boa escolha. O surgimento de um novo, alguém que arejasse a política, ficou no desejo. Chegou-se à opção mais dramática que se poderia prever pois a promessa é de confusão até o próximo encontro eleitoral.
No plebiscito entre PT e anti-PT, pois é disso que se trata, perde a população. Bolsonaro é o escuro, Haddad é o breu, um desconhecido, inclusive no próprio partido. O que fará, fora das previsões indicadas pelo líder que representará, não se sabe tanto quanto não se conhece nada do seu adversário.
Portanto, a partir de janeiro, para evitar sustos e não dizer que a cigana o enganou, o eleitor deve esperar muito ressentimento. Ruirá a promessa de pacificação, de reunificação do país. A radicalização ficará mais acirrada. Um grupo acusando o outro e o Congresso sob ameaça de qualquer coisa se não der governabilidade ao governo, a qualquer dos dois.
É difícil a esta altura mudar o quadro de finalistas. No grupo do centro para a direita, a salvo fato novo que derrube o candidato do PSL, nenhum candidato tem condições de afastá-lo da vaga. No grupo da esquerda, Marina Silva, que ameaçava o PT, ficou bem para trás, agora já sem chance, esperando uma explicação mais científica sobre por que seu desempenho eleitoral começa acima e acaba muito abaixo das previsões. Ela vai perdendo capacidade de reação, de discurso, passa a negar a política dela querendo participar, sua fragilidade se destaca meio ao jogo bruto da campanha e passa a não ser mais uma opção, nem mesmo para seus eleitores cativos que, a esta altura, estão partindo para o voto útil.
Resta, nesse lado, Ciro Gomes, que já esteve mais perto de ser a opção no segundo turno mas o fato de ter estagnado nos índices que vem obtendo em todas as campanhas de que participou voltou a alimentar desesperança. Pode ser favorecido, porém, se surgir fato novo que derrube e tire um dos dois finalistas do segundo turno.
Mas a turbulência que ameaça o país faz renascer uma chance para o candidato do PDT, especialmente pelo eleitorado que conquistou: de base popular, muito concentrado no Nordeste com bons reflexos em São Paulo e no Centro-Oeste, onde sempre foi bem votado. Desta vez, jovens universitários têm adensado o grupo de seguidores de Ciro. Faixas que não são bolsonaristas e não dão a vida pelo PT.
Ciro até vem contendo, nesta reta final, seu calcanhar de aquiles, o temperamento, com algumas recaídas. Porém, seu eleitorado, renovado, não parece ligar para essa má fama. Mas Ciro tem chances exatamente porque, para evitar o pior, é forte a corrente pelo aparecimento de algo que leve quem está mais perto dos dois contendores ao segundo turno, no lugar de um deles com vitória assegurada.
O eleitor está com os nervos - medo de escolher errado - e a indecisão à flor da pele. Com essas características o cenário ainda pode ser alterado, embora difícil.
Para se impulsionar ao segundo turno, Ciro vai intensificar a divulgação de medidas que pretende adotar, em contraste com os dois candidatos líderes que não revelam muito de suas propostas: como cuidará da vida das pessoas, SPC, reforma da reforma trabalhista, criação de impostos sobre herança e sobre lucro tirando o peso do contribuinte mais pobre e de classe média.
Acabou de fazer um giro pelo Nordeste, para consolidar sua boa votação na região, e deverá parar mais no Sul e Sudeste, onde participará de debates, o que considera seu ponto mais forte até agora. A avaliação da campanha é que em sabatinas, entrevistas e debate Ciro venceu todos os concorrentes.
Ciro, nas pesquisas, ainda está do tamanho que sempre teve: em 1998 ficou com 10,97% dos votos, em 2002 com 11,97% e em 2018 sua melhor aferição é de 13%, com possibilidade de crescer entre os que não querem os candidatos em primeiro e segundo lugar. Principalmente se for ajudado por uma rasteira bem dada em um dos dois.
Sem explicação
A constatação é óbvia mas o fenômeno dessas eleições ainda não foi explicado por cientistas políticos que o devem estar digerindo: por que o tempo de propaganda na televisão e no rádio não fez diferença? A disputa pela coligação com o Centrão e seus mais de cinco partidos bem colocados no Congresso tinha esta única meta, ampliar a exposição do candidato para se tornar conhecido e divulgar medidas populares, combater as críticas e atacar os adversários. Geraldo Alckmin comemorou a ampla aliança que conseguiu firmar como um dos seus principais acertos, e foi por isso invejado pelos concorrentes. Os outros ficaram de caras amuadas e desdenharam da vitória do PSDB, sem saber ainda que não seria útil, a única que viria a conseguir nesse processo eleitoral. Todos que queriam o mesmo trataram de ampliar sua participação nas redes sociais e partiram para o corpo a corpo na rua, de forma a conseguir aparecer bem nos telejornais de maior audiência. Ou ninguém está vendo propaganda na TV ou não quer nada disso que está aí.
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