— velha torre erguida
nevoentamente
na paisagem de outono da minha alma.
Torre de onde se vê tudo tão longe...
Saudade...
Na distância, a perder-se, a voz de um sino
salma.
A luz no poente
é o pálido eco dessa voz perdida.
A alma da tarde envolve a velha torre.
E na velha torre
erguida
nevoentamente,
ondulam sete sombras silenciosas,
tecendo o sonho da minha vida...
Fico a senti-las. Lembro...
As sete sombras silenciosas...
Uma, quando chegou era novembro,
loura de sol, trazia
as mãos cheias de rosas:
— Deixa-me entrar, sou a Alegria. —
E eu lhe disse: — Bem-vinda sejas, Alegria. —
Outra, tênue, de espuma,
olhos azuis de criança,
lentos gestos de pluma,
surgiu mais tarde a mendigar pousada:
— O meu nome é Esperança.
Venho de muito além. Estou cansada. —
E eu lhe disse: — Descansa.
Bem-vinda sejas, Esperança. —
Veio depois a Felicidade,
tão linda sombra, toda em ouro acesa.
E veio a Dor, veio a Beleza,
veio a Bondade.
Uma noite, bateste. A velha torre
abriu-te as longas portas vagarosas.
E desde então, na velha torre,
tu ficaste, também, serena, inesquecida,
sombra das sombras silenciosas,
tecendo o sonho da minha vida...
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Álvaro Moreyra nasceu no dia 23 de novembro de 1888, em Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Foi para o Rio de Janeiro em 1910, onde concluiu o curso de Direito. Depois de uma estadia na Europa encetou a carreira jornalística no Rio, tendo sido redator de publicações como Fon-Fon, Bahia Ilustrada, A Hora, Boa Nova, Ilustração Brasileira, Dom Casmurro, Diretrizes e Para Todos. Da sua obra, destacam-se os títulos: Degenerada, Elegia da bruma, O outro lado da vida e Cocaína. Álvaro Moreyra morreu no Rio de Janeiro no dia 12 de setembro de 1964.
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