O Estado de S. Paulo
Nas redes sociais, Lula desafiou Bolsonaro
a subir o benefício para R$ 600; no Congresso, governistas não escondem que vão
aumentar valor para R$ 500
Na disputa eleitoral com Jair Bolsonaro, o ex-presidente Lula puxou
a fila da corrida para subir o valor do novo programa social do governo,
o Auxílio Brasil.
Nas redes sociais, Lula desafiou o presidente a subir o benefício de R$ 400 para R$ 600 e botou mais combustível na briga política e econômica em torno do sucessor do programa Bolsa Família.
"O PT defende um auxílio de R$ 600 desde o ano passado. O povo precisa. Ele tem que dar. Se vai tirar proveito disso, problema dele", escreveu o ex-presidente para dizer que não acha a medida eleitoreira.
Uma estratégia bem calculada para se
contrapor ao seu adversário político, reforçar que o que o governo está
oferecendo à população de baixa renda é pouco e esticar a corda do presidente
Bolsonaro.
A posição do ex-presidente Lula consolida a percepção de que a disputa em torno do valor do Auxílio Brasil não termina depois que o governo apresentar todo o desenho e financiamento para bancar o Auxílio Brasil de R$ 400.
Governistas não escondem que na votação
no Congresso vão
subir o benefício para R$ 500. Com apoio dos parlamentares dos partidos de
esquerda, é um pulo para R$ 600, mesmo valor do auxílio emergencial concedido
no início da pandemia da covid-19 em 2020.
A vantagem da elevação do valor via
Congresso é que a oposição poderá dizer que é uma vitória dos parlamentares.
Por isso, os aliados do presidente já se antecipam.
Quando era presidente, Lula não soltou o
gasto para turbinar o programa criado por ele há exatos 18 anos. Sempre manteve
o Bolsa Família com reajustes controlados, na maioria das vezes com a correção
da inflação. Mas ele tinha a
seu favor uma zona de conforto que Bolsonaro não tem. É o pai do programa e
sempre pode capitalizar para ele o ganho político com o Bolsa Família, como faz
agora novamente ao entrar nessa corrida.
A proposta de subir o valor do benefício
para R$ 600 (o dobro dos R$ 300 acertados inicialmente pela área econômica) pode
se transformar numa armadilha e acabar criando um problema para ele no futuro.
Se ganhar a eleição, vai ficar com esse valor carimbado.
Assim como estão cobrando do presidente
Bolsonaro, a promessa de isenção da tabela do Imposto de Renda para quem ganha
até cinco salários mínimos, cobrarão dele se virar presidente de novo.
Um problema imediato é que o Auxílio Brasil
está sendo construído com uma parte permanente e outra temporária com data para
acabar: 31 de dezembro de 2022, último dia do governo Bolsonaro. O próximo
presidente dificilmente conseguirá reduzir esse valor.
O andar da carruagem dessa discussão é
preocupante. O reforço do programa é mais do que necessário com o aumento da
fome e da pobreza extrema no País. Mas tem que sobrar recursos para investir em
outras áreas para puxar o crescimento e o emprego.
É preciso achar um ponto de equilíbrio,
mesmo que seja necessária uma mudança das regras fiscais feita com transparência,
zelo, planejamento e boa comunicação. E não com um drible fiscal para ganhar
eleição a todo custo como tentam os bolsonaristas. Uma corrida de valores sem
fundamentação não ajuda em nada o bom debate.
Um seguidor do ex-presidente resumiu muito
bem o dilema e o tamanho do problema ao responder ao seu tuíte: "Pode ser
Lula, sei que as pessoas precisam nesse momento. Mas cortar tudo da ciência,
educação e saúde para direcionar dinheiro para criar um programa e se promover
é errado. No meu doutorado consegui fazer uma bactéria virar adubo e terei que
sair da ciência por não ter renda". Sem mais.
A contagem regressiva da coluna continua: faltam 11 dias para o fim do auxílio emergencial sem anúncio da solução para o novo programa social.
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