sábado, 24 de setembro de 2022

João Gabriel de Lima* - O fantasma do fascismo na Itália

O Estado de S. Paulo

Integrantes do Fratelli d’italia evocam a palavra proibida com gestos que equivalem a gritos

Existem gestos e emblemas que saíram de uso pelas memórias que evocam. Um deles é a “saudação romana”: o braço esticado com a palma da mão para baixo marcou o regime nazista. O gesto chegou a ser proibido na Alemanha. Na Itália existe a “chama tricolor”, desenho em forma de pira com as cores da bandeira do país, criado pelos saudosistas de Benito Mussolini.

A imagem da chama tricolor acaba de retornar ao mainstream da vida política europeia. Ela está no logotipo do Fratelli d’italia – partido que, de acordo com as pesquisas, deve sair vitorioso nas eleições deste domingo, dia 25. Sua líder, Giorgia Meloni, é oriunda do movimento neofascista italiano. Caso se torne premiê, será a primeira vez que um político com origem no fascismo governa o país desde a morte de Mussolini, em 1945.

No Parlamento Europeu, o Fratelli d’italia faz parte de uma federação que abriga várias siglas radicais – entre elas, o Lei e Justiça da Polônia. No leste europeu, tais partidos vêm corroendo as instituições em democracias jovens. A União Europeia vê a provável eleição de Meloni como um teste para as democracias maduras do bloco ocidental.

“A principal preocupação da ciência política atual é a eleição de autocratas e a consequente deterioração da qualidade democrática”, diz Carlos Pereira, colunista do Estadão.

Ele participou nesta semana do congresso da Associação Americana de Ciência Política em Montreal, no Canadá, em que contabilizou mais de 70 apresentações sobre o tema.

Pereira acredita na resistência da sociedade civil em democracias maduras. “Em países onde há pluralidade de posições políticas e alternância no poder, a vida dos autocratas fica mais difícil.” Ele discorre sobre o assunto no minipodcast da semana.

Giorgia Meloni é excelente oradora. Seu discurso de valorização da Itália ganhou força num país machucado por sucessivas crises econômicas. Como muitos radicais europeus, ela defende restrições à imigração e vocifera contra o fantasma do “globalismo”.

Em entrevistas, Meloni diz que seu partido já fez o ajuste de contas com o passado e evita mencionar a palavra proibida: “fascismo”. Seus correligionários não têm o mesmo cuidado. O túmulo de Mussolini, em Predappio, é tradicional ponto de peregrinação dos neofascistas. A maior parte de seus visitantes declara voto no Fratelli d’italia.

Em comícios e manifestações, os eleitores de Meloni voltaram a usar, aos poucos, a saudação romana. Trata-se de um fascismo que não ousa sussurrar o próprio nome – mas os integrantes do Fratelli d’italia evocam a palavra proibida com gestos que equivalem a gritos.

*Escritor, professor da Faap e doutorando em ciência política na Universidade de Lisboa

3 comentários:

Anônimo disse...

Fascistoides e fascistas enrustidos abundam nas milícias bolsonaristas! Olavo de Carvalho agregou e adestrou muitos deles, Bolsonaro conseguiu liderá-los com o apoio dos seus cúmplices que organizaram suas redes sociais e os batalhões de robôs e papagaios, coordenados pelo Gabinete do Ódio instalado no Palácio do Planalto e com servidores públicos pagos por nós! Esta é a Verdade que os canalhas não querem reconhecer e tentam a todo custo ocultar! Mas nem o Centrão acreditam ou confia mais na sua Tchutchuca! Cadeia para o genocida!

ADEMAR AMANCIO disse...

O mundo precisa de amor e não de fascismo.

ADEMAR AMANCIO disse...

Direita e esquerda se irmanando na mesma corrente de amor.