O Estado de S. Paulo
Fragmentação partidária modera governos e evita saídas extremas e/ou iliberais
Com um número muito alto de partidos, o
“Brasil é ingovernável”. Os partidos políticos brasileiros são fracos e não
representam os eleitores. Não têm ideologia nem programa. Uma democracia
sustentável em um sistema presidencialista com tal fragmentação partidária é
“simplesmente impossível de governar”.
Se, por um lado, a fragmentação partidária
pode ser considerada o “vilão para a governabilidade”, por outro lado, pode
funcionar como um antídoto institucional endógeno contra iniciativas iliberais
e antidemocráticas de presidentes populistas, especialmente em ambientes
políticos polarizados.
Essa é a conclusão que a pesquisa de Allen
Hicken e seus coautores oferecem no livro Why Democracies Develop and Decline,
editado por Michael Coppedge, Amanda Edgell e Carl Knutsen (2022).
Os autores não encontram evidência empírica robusta de que o presidencialismo correria mais riscos democráticos em ambientes multipartidários ou mesmo hiperfragmentados, como se costumava acreditar até recentemente. Muito pelo contrário. Concentração de poder seria uma ameaça muito maior à estabilidade democrática.
Mais especificamente, regras eleitorais
majoritárias, que incentivam a redução do número de partidos, são negativamente
associadas à estabilidade da democracia. Em outras palavras, quanto maior a
concentração de cadeiras no Legislativo ocupadas por um único partido, menor o
nível da democracia. O problema, portanto, não seria a fragmentação, mas a
concentração de poder do partido da elite governante.
A fragmentação partidária e a existência de
partidos fracos e ideologicamente amorfos, na realidade, dificultam o domínio
do Executivo no Legislativo, mesmo diante de um presidente constitucionalmente
forte, como o brasileiro. Ela tem moderado governos e evitado iniciativas
extremas ou ações iliberais que pretendem se valer de maiorias episódicas para
passar o “rolo compressor” em interesses minoritários.
O ex-presidente Bolsonaro, por exemplo, não
conseguiu dominar o Legislativo e foi forçado a barganhar com partidos para
construir um escudo legislativo e dar continuidade a seu governo. O Congresso
não capitulou e foi bem-sucedido ao impedir os exageros do ex-presidente.
Outro bom exemplo foi observado na semana
passada com o Projeto de Lei 2630, chamado por alguns de “PL das Fake News”,
mas por outros de “PL da Censura”. O governo Lula 3 foi forçado a moderar e
recuou em relação à criação de órgão para regular as redes sociais, tema
complexo que exigiria muito mais tempo e debate para ser amadurecido na sociedade.
*Professor titular FGV EBAPE, sênior fellow
do Cebri e professor visitante da Université Paris 1 Panthéon-Sorbonne
Um comentário:
Pois é...
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