terça-feira, 29 de outubro de 2024

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Acordo sobre as emendas significa avanço institucional

O Globo

Projeto de lei precisará estabelecer critérios de transparência e rastreabilidade exigidos pelo Supremo

Depois de um período de desentendimentos, Legislativo e Executivo buscam enfim um acordo, mediado pelo Judiciário, sobre as emendas parlamentares. Sua suspensão foi determinada em agosto pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STFFlávio Dino, numa decisão liminar depois referendada pelo plenário da Corte e reafirmada neste mês. A intervenção abrupta e abrangente do STF acirrou a tensão entre as instituições. Felizmente, foi aberta uma negociação que poderá ser encerrada com êxito nesta semana, com a apresentação ao Congresso de um Projeto de Lei Complementar estabelecendo regras para liberação e aplicação dos recursos.

Em reunião entre integrantes do STF, os presidentes da Câmara e do Senado, Arthur Lira e Rodrigo Pacheco, e representantes do Executivo, foram alinhados pontos de uma proposta que será levada a plenário na Câmara e no Senado. A votação desse projeto poderá representar um marco para disciplinar o avanço do Congresso sobre o Orçamento da União nos últimos anos.

O peso do dinheiro - Merval Pereira

O Globo

Ficou claro que saber gastar em obras importantes para os moradores é fundamental para obter resultados eleitorais

A eleição municipal que terminou domingo ficou conhecida como a “das emendas parlamentares”. Mas poderia também ser chamada de “eleição dos fundos”. Nunca ficou tão claro o poder do dinheiro na definição dos resultados finais, especialmente na reeleição da maioria esmagadora dos prefeitos de capitais.

O sistema de reeleição ficou consolidado com a vitória de quase 80% dos incumbentes. Pode ser bom por garantir a permanência de gestores bem avaliados, mas também ser reflexo da máquina estatal, impulsionada pelas verbas públicas. Os prefeitos, de costume, são fundamentais para a eleição do Congresso e, como chamou a atenção o diretor da Quaest, Felipe Nunes, podem impedir que a renovação política se faça a partir das bases.

A supervisão do Tribunal Superior Eleitoral e dos Tribunais Regionais Eleitorais será cada vez mais necessária, para que o abuso do poder político e econômico não distorça os resultados das urnas. Ao mesmo tempo, ficou claro que saber gastar o dinheiro em obras importantes para os moradores é fundamental para obter resultados eleitorais positivos. A mudança essencial é que os partidos políticos ganharam independência ante o governo central, cujo partido não detém o controle do Congresso.

Partidos pêndulo estão mais fortes - Míriam Leitão

O Globo

Grandes vencedores da eleição, posição do PSD e MDB em 2026 dependerá da capacidade de construção de alianças de cada campo

Os partidos pêndulo saíram mais fortes dessas eleições. Os maiores vencedores, PSD e MDB, integram hoje administrações de esquerda e de direita. O PSD de Gilberto Kassab está no governo de São Paulo e, portanto, na aliança de direita que impôs à esquerda a sua maior derrota ao ajudar a eleger Ricardo Nunes, do MDB. Os dois partidos têm ministérios no governo Lula. O PSD, no Rio e em Belo Horizonte, e o MDB, no Pará, derrotaram candidatos bolsonaristas. Para onde irão esses dois partidos em 2026 vai depender da capacidade de construção de alianças eleitorais de cada campo. O eleitor derrotou o extremismo da direita e mandou recado para a esquerda de que ela precisa se repensar.

Eleição nos EUA influenciará futuro de Lula – Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

A estreita vantagem de Kamala nas pesquisas, ao manter Trump como uma alternativa de poder, também repercute na geopolítica e na economia global

A uma semana para as eleições nos Estados Unidos, 5 de novembro, as pesquisas mostram que, nesta reta final, a disputa entre a vice-presidente Kamala Harris e o ex-presidente Donald Trump é dramática. Seu resultado é incerto, porém será uma variável externa a ser levada em conta pelo governo Lula, tendo em vista sua repercussão na política interna brasileira até as eleições de 2026.

Eleita, Kamala será a primeira mulher a presidir os Estados Unidos e uma aliada natural de Lula. Se as contradições geopolíticas entre os dois países não se aprofundarem, sua vitória será uma espécie de “mais do mesmo” em relação à política do presidente Joe Biden. Seus principais pontos de tensão com Lula são as guerras da Ucrânia e de Gaza. Venezuela e Nicarágua, áreas sensíveis para o Itamaraty, hoje, mais aproximam do que distanciam o Brasil dos Estados Unidos. A relação do Brasil com a China, nosso maior parceiro comercial, para onde vai a maior parte da nossa produção agrícola, não interfere nas relações com os Estados Unidos, o maior mercado para a nossa indústria, a ponto de estressar o diálogo de Lula com Biden.

O que é vencer as eleições? - Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

PSD de Kassab fez mais prefeituras, mas joga um jogo diferente do de Lula e Bolsonaro, que não foram bem

Para lideranças político-partidárias como LulaJair Bolsonaro e Gilberto Kassab, o que significa vencer as eleições municipais? Basta empilhar corridas em que teve êxito ou é necessário emplacar candidatos que de fato as representem?

Eu diria que as duas coisas importam, apresentam diferentes graus de dificuldade e atendem a objetivos diversos.

Pelo critério do acúmulo de vitórias, o PSD de Kassab é o campeão. O partido fez 891 prefeituras. O PL de Bolsonaro ficou com 517 (5º lugar), e o PT, 252 (9º lugar).

A direita racha na eleição e Bolsonaro leva sua 'sapecada monumental' - Ranier Bragon

Folha de S. Paulo

Ex-presidente usou a expressão para falar do PT, mas os candidatos que apoiou abertamente perderam em 17 de 27 cidades no 2º turno

Jair Bolsonaro (PLamanheceu no domingo (27) em Goiânia fazendo uma análise das eleições municipais em que pontuou a "sapecada monumental" que o PT levou nas urnas. Apuradas as votações do dia, porém, o ex-presidente também levou a sua particular sapecada, em vários aspectos.

A começar pelo simbolismo de comparecer pessoalmente a uma capital em que travava uma queda de braço no campo da direita com o governador Ronaldo Caiado (União Brasil).

Perdeu para Caiado não só em Goiânia, mas também em Aparecida de Goiânia, a segunda maior cidade do estado e também aonde foi para acompanhar o voto do candidato do PL.

Lições das eleições municipais - Joel Pinheiro da Fonseca

Folha de S. Paulo

Em uma mudança cultural de fundo, nossa sociedade está mais 'de direita'

PL perdeu a maioria dos segundos turnos em que enfrentou um candidato de centro ou de centro-direita. Seus grandes triunfos —como Brunini, em Cuiabá— se deram justamente onde o adversário era de esquerda. Isso significa que, na maior parte das capitais, a união entre esquerda, centro e centro-direita ainda soma mais do que a extrema direita sozinha. Ufa!

Mas a direita bolsonarista puro-sangue continua forte. O PL, que tantas cidades perdeu no segundo turno, ainda assim foi o partido com o maior número de votos para prefeito do Brasil e é o partido com o maior número de prefeituras de grandes cidades (aquelas com mais de 200 mil eleitores). Tem 16, seguido pelo PSD com 15. O partido de esquerda melhor colocado nesse ranking é o PT, em oitavo lugar, com 6 prefeituras de grandes cidades.

Unidos no infortúnio – Dora Kramer

Folha de S. Paulo

Lula e Bolsonaro saem da eleição rebaixados do comando do espetáculo da política

Eleição municipal atípica, a que termina agora dá um sinal claro para a próxima, daqui a dois anos, coisa que normalmente não ocorria: duas das mais relevantes lideranças políticas no plano nacional não obtiveram vitórias significativas. Ou, por outra, tiveram derrotas eloquentes.

Isso não antecipa necessariamente o cenário de 2026, mas evidencia que o presidente Luiz Inácio da Silva (PT) e o antecessor Jair Bolsonaro (PL) não comandam o espetáculo da política na dimensão em que ambos acreditaram ou talvez ainda acreditem.

A vitória do amigo da onça - Alvaro Costa e Silva

Folha de S. Paulo

No quadro geral, perdeu Lula, perdeu Bolsonaro, perdeu a polarização

A eleição de 2024 ficará marcada pelo caixa 2 cobrado a empresários em troca de oferta de contratos (apesar da derrama de verbas públicas destinada aos candidatos), pela compra de votos que faz o Brasil retornar aos tempos da República Velha e pela modernidade que representa a infiltração de organizações criminosas.

Para ficar apenas em São Paulo: órgãos de inteligência noticiaram ao TRE-SP que 70 candidatos são suspeitos de ligação com o crime. Dez foram eleitos vereadores e dois levaram prefeituras.

Ao gosto do freguês - Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

Gilberto Kassab viu o que o também craque Luiz Inácio Lula da Silva não viu, talvez por velhas idiossincrasias: o eleitor que estava dando sopa, solto, sem rumo, era o do PSDB, que oscilava entre a centro esquerda e a centro direita. Kassab adaptou o PSD e está moldando o governador Tarcísio de Freitas ao gosto do freguês – leia-se: do eleitorado tucano. Lula teve a grande sacada de atrair Geraldo Alckmin para sua vice, mas ficou por aí.

O erro original continua cegando os líderes de PT e PSDB e os dois partidos que reuniram os melhores quadros a favor da abertura política nos anos 1980, ao lado do MDB, continuam para todo o sempre como inimigos e, num abraço de afogados, afundam juntos e deixam a direita nadando de braçada.

Direita Valdemar - Carlos Andreazza

O Estado de S. Paulo

O sangue da inelegibilidade do mito está na água e os nikolas farejam

Guilherme Boulos sai menor das urnas. Teve o apoio do PT e muita grana para campanha. Colheu a mesma votação de 2020. O teto da rejeição se lhe impôs. Parece limitação incontornável – comunica a incompetência.

Foram quatro anos e nenhum programa para minimizar a imagem negativa, sendo estarrecedor haver quem supusesse que algo positivo poderia ser extraído da submissão desesperada à sabatina com Marçal.

Boulos sai também sozinho. A lavação de roupa suja petista, processo delirante, já atribui o revés ao que seria escolha errada de candidato; como se o PT contasse, em seu deserto de renovação, com opção paulistana competitiva; e como se o partido não tivesse se lançado a enfrentar o prefeito da tragédia em Porto Alegre com a única candidata que o faria menos rejeitado. Sebastião Melo venceu no Sul.

Os espinhos do divã petista - Maria Cristina Fernandes

Valor /Econômico

O Brasil não está polarizado, mas politizado. As pessoas querem ter opinião sobre tudo, fundamentadas, ou não, em fatos. Cada vez mais influenciadas pela religião, essas posições só poderão ser conquistadas se a esquerda se mostrar útil na vida das pessoas. No PT há 44 anos, José Dirceu não doura a pílula sobre o desempenho de seu partido nas eleições municipais.

Com uma anulação de seus processos ainda por ser julgada no Supremo Tribunal Federal, o ex-ministro ainda aguarda esses desdobramentos para definir se voltará a disputar a Câmara dos Deputados em 2026, quando completa 80 anos. Mas não para se envolver na disputa de rumos do PT. Estabelecido de volta em São Paulo, esteve em Brasília há mais de um mês para uma conversa com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a quem não encontrava havia um ano e meio.

Gleisi prega aliança mais ao centro para reeleger Lula em 2026

Marcelo Ribeiro, Raphael Di Cunto e RenanTruffi / Valor Econômico

Presidente nacional do PT reconhece o crescimento da extrema-direita e diz que partido precisa se preparar para esse enfrentamento

Em meio a uma troca pública de críticas por conta do resultado das eleições municipais com o ministro da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência, Alexandre Padilha, a presidente nacional do PT, deputada Gleisi Hoffmann, concluiu nesta segunda-feira (28) que o partido precisará fazer uma aliança muito mais ao centro para conseguir reeleger o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 2026. Ela também citou o crescimento da direita nos últimos anos e o fato de o PT ter apoiado candidaturas de legendas aliadas — por ser de um governo de coalizão — como alguns dos fatores para o avanço tímido nas disputas locais.

Apesar do crescimento no número de prefeituras sob o comando da sigla — passando de 183 em 2020 para 252 em 2024 —, Gleisi lembrou que o bom desempenho nas eleições municipais “nunca foi o forte do campo da esquerda”. O partido ficou atrás do PL do ex-presidente Jair Bolsonaro e conquistou apenas uma capital, Fortaleza.

Entrevista | Kassab: Tarcísio é líder estadual e problema do Centro é não ter opções majoritárias

César Felício/ Valor Econômico

Presidente nacional do PSD afirma que "Centrão não existe mais"

Presidente nacional do PSD, o ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab sai do processo eleitoral com o seu partido ostentando a condição de sigla com a maior quantidade de prefeitos do País (888 municípios conquistados), administrando 27, 6 milhões de eleitores, quase a mesma fatia obtida pelo MDB ( 27,7 milhões). Ele afirma que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), de quem é secretário de Governo, é uma liderança que hoje unifica os partidos de centro e de direita, mas faz a ressalva de que isso vale para São Paulo. Tarcísio, na opinião de Kassab, é uma liderança estadual, não nacional. Kassab falou com o Valor na sexta-feira, com o compromisso de publicação da entrevista depois da apuração.

No plano nacional o presidente do PSD vê um cenário em aberto com três campos demarcados: um é o da direita, liderada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, formado pelo PL, Republicanos e PP. O outro é o da esquerda, cuja referência é o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, integrado por PT, PSB, PDT e Psol. O terceiro, e maior deles, é o formado pelo Centro, integrado por PSD, MDB e União Brasil. "O problema do Centro é a falta de opções majoritárias", opina.

A seguir trechos da entrevista de Kassab ao Valor:

Caiado quer disputa com Bolsonaro em 2026 - Caetano Tonet

Valor Econômico

Governador de Goiás impôs duas derrotas ao ex-presidente nas maiores cidades de seu Estado

Após vencer Jair Bolsonaro (PL) nas eleições das duas maiores cidades de seu Estado, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União), reafirmou, em entrevista ao Valor, que será candidato à Presidência em 2026. O posicionamento, segundo ele, independe de Bolsonaro estar ou não na disputa do comando do país. Caiado defende, inclusive, o avanço das propostas de anistia que possam reverter a inelegibilidade do ex-presidente, condenado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) no ano passado.

“Deixa ele [Bolsonaro] vir para o jogo. A urna acaba sendo uma sentença. Tem uma capacidade de assepsia fora de comum. A urna é um grande antisséptico”, disse Caiado.

Bolsonaro foi declarado inelegível no ano passado por ter realizado uma reunião com embaixadores para afirmar, sem provas, que o sistema eletrônico de votação era vulnerável. O encontro, realizado em julho de 2022, foi transmitido pela TV Brasil.

Costa Neto vê base forte para sucessão presidencial em 2026 – Andrea Jubé

Valor Econômico

PL administrará capitais (4) pela primeira vez desde a fundação da sigla, além de ter ficado em 5º em número de prefeitos eleitos

O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, afirmou ao Valor que o resultado das eleições revela que o partido construiu uma base forte para a sucessão presidencial de 2026 porque conquistou o maior número de votos nos municípios. Ele negou que o ex-presidente Jair Bolsonaro tenha perdido capital político, e garantiu que o ex-mandatário será o presidenciável da sigla, pela convicção de que o Congresso aprovará uma anistia para reverter a sua inelegibilidade.

Bolsonaro está inelegível até 2030 por abuso de poder político na reunião com embaixadores em que fez afirmações falsas contra as urnas eletrônicas e, também, pelo uso eleitoral das comemorações do Dia da Independência em 2022.

O PL elegeu 516 prefeitos, sendo quatro de capitais: Cuiabá (MT), Aracaju (SE), Maceió (AL) e Rio Branco (AC). Falava em uma meta de mil prefeituras. Mas será a primeira vez, desde a fundação da sigla, que o PL vai administrar capitais.

MDB, PSD e PL irão governar cidades com receitas de R$ 648 bi - Marta Watanabe

Valor Econômico

Em valores reais, orçamento é mais que o dobro dos R$ 299,7 bilhões que as urnas garantiram para esses partidos há quatro anos

Os resultados das urnas em outubro combinados a vários fatores que elevaram as receitas municipais nos últimos anos vão garantir um orçamento maior em termos reais às legendas vencedoras em comparação ao que foi direcionado a elas nas eleições de 2020. Juntos, os prefeitos pelo MDB, PSD e PL irão administrar cidades com receitas agregadas de R$ 648 bilhões, mais que o dobro dos R$ 299,7 bilhões que as urnas garantiram para esses partidos há quatro anos, em valores reais.

Dentre os três partidos, o PL de Jair Bolsonaro é o que mais terá crescimento na participação relativa no orçamento, o que contribuiu para quase quadruplicar as receitas sob sua gestão. O partido elegeu este ano prefeitos em 516 cidades, 165 a mais que em 2020. Na mesma comparação, o MDB garantiu prefeitos em cidades que aumentam em 85% as receitas sob sua gestão e o PSD, em 94%, sempre em termos reais.

Paulo Fábio Dantas Neto lança ACM político baiano nacional, sexta

Tasso Franco / BahiaJá

Acontece na Reitoria da UFBA na sexta-feira, 1, 17hs

Livro de Paulo Fábio Dantas será lançado na próxima sexta-feira, 01/11, a partir das 17:30, na Reitoria da UFBa, bairro do Canela.

Paulo Fábio é cientista político e professor da UFBa.

Publicou em 2006 seu primeiro livro sobre ACM, tratando da sua atuação política entre 1954 e 1974.

Esse novo livro, editado pela Edufba, cobre a trajetória completa da vida pública de ACM, até a sua morte, em 2007.

Será lançado na próxima sexta-feira, 01/11, a partir das 17:30, na Reitoria da UFBa, bairro do Canela.

Paulo discute o que ficou de ACM e do carlismo como memória simbólica, à disposicão de políticos atuais, de diferentes partidos, após o desaparecimento tanto do personagem, como do grupo carlista.

Não é uma biografia, o autor procura, sim, responder questões de natureza política:

Como um chefe estadual do regime autoritário tornou-se um político nacional, ainda mais influente, na democracia?

Como as fases da sua trajetória pessoal podem nos ajudar a entender a política baiana e nacional da segunda metade do século passado?

O prefácio é do professor Othon Jambeiro e o texto de orelha, do ensaísta e tradutor Luiz Sergio Henriques.

Poesia | Graziela Melo - Vidas

Quantas vidas

desvividas,

passaram

no meu caminho!

Revividas

e mal vividas,

sem afeto,

sem afago

e sem carinho!

Quantas vidas

desvividas

pela estrada

deste mundo,

e quantas almas

Perdidas

neste abismo

tão profundo,

deste universo

perverso

oriundo

de outras vidas

oriundo

de outros mundos!!!

Música | Roberta Sá e Zeca Pagodinho - Pago pra ver

 

segunda-feira, 28 de outubro de 2024

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Urnas trouxeram más notícias a Lula e Bolsonaro

O Globo

Eleições municipais registraram avanço notável de partidos de centro e centro-direita, desafiando polarização

Depois da abertura das urnas do segundo turno neste domingo, ficou claro que a eleição municipal trouxe más notícias ao presidente Luiz Inácio da Silva e ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Tanto um quanto outro se revelaram pouco eficazes como padrinhos de candidatos — enquanto partidos de centro e centro-direita conquistaram avanços notáveis, em desafio à polarização ideológica.

O PSD é o partido que comandará o maior número de prefeituras: 887, seguido de MDB (854), PP (747) e União Brasil (584). O PL de Bolsonaro, que planejava fazer das eleições municipais um trampolim para consolidar sua força nacional, ficou em quinto, com 517. E o PT, de Lula, ficou em nono com 252, atrás até do PSDB (274).

Os alertas paulistanos e a reeleição do prefeito - Carlos Melo

O Globo

Vitória de Ricardo Nunes aponta para um dado fundamental desta eleição: Jair Bolsonaro restou como mito decaído

Se “São Paulo é como o mundo todo”, os problemas da cidade espelham o país e revelam ao sistema político, à opinião pública e à Justiça Eleitoral o imperativo de renovar um modelo desgastado. A começar pelos recursos, para além do fundo eleitoral: o uso arbitrário da máquina pública, obras sem licitação, o velho patrimonialismo, enfim. Tudo isso acaba por ter influência na eleição.

E compromete o entendimento se os reeleitos foram mesmo eficientes ou se esbanjaram recursos mal gastos, com foco exclusivo na eleição ou no favorecimento de grupos específicos. O tempo dirá, mas é necessário investigar. Outro ponto: o crime organizado ocupou espaço no debate público de modo inédito, seja por denúncias de associação com políticos, seja pela percepção geral de financiamento ilegal de campanhas, ficando uma perigosíssima sombra sobre a higidez do sistema.

Não bastassem essas questões, Pablo Marçal debutou numa eleição de modo avassalador. Houve uso e abuso das redes sociais, proliferação de fake news. Normalizadas, as mentiras campearam na mesma medida em que, paradoxalmente, escândalos deixaram de chocar uma sociedade letárgica. Sem regulamentação e punição efetiva para os excessos, o precedente torna-se inspiração.

A idade da queda – Fernando Gabeira

O Globo

Idosos muitas vezes têm problemas de equilíbrio, déficit de visão. Nesse caso, a casa torna-se uma perigosa armadilha

Lula caiu no banheiro, cortou a cabeça e, em algumas horas, já estava apto para as tarefas cotidianas. Ele pratica musculação, caminha com regularidade, e sua dieta deve ser orientada por nutricionista. Nem todos os idosos, no entanto, têm a mesma sorte quando sofrem um acidente doméstico.

Estou lendo um belo livro da escritora portuguesa Lídia Jorge. Chama-se “Misericórdia” e se passa dentro de uma casa de repouso, chamada Hotel Paraíso. São precisamente 70 internos. Quando morre um, há nova admissão.

A narradora, que usa cadeira de rodas, ficou chocada quando uma recém-admitida descreveu sua queda. Era idêntica à que sofrera:

— Era demasiado semelhante ao que havia me acontecido três anos atrás, quando caí junto da porta de entrada e lá estive várias horas deitada de bruços, e o vizinho da Villa Sol me foi levantar do chão.

Lula e Bolsonaro perderam em São Paulo – Demétrio Magnoli

O Globo

Sem surpresa, triunfou o continuísmo, o peso das máquinas estaduais e municipais

Não foi piramidal a ideia de Lula de exibir a eleição paulistana como embate contra Bolsonaro. A derrota de Guilherme Boulos fica parecendo uma vitória bolsonarista — e não é. Em São Paulo, sem surpresa, triunfou o continuísmo — o peso das máquinas estaduais e municipais.

Lula perdeu, obviamente, em São Paulo, pois Boulos é o homem do presidente no PSOL — a figura que inseriu o partido na órbita do PT. A rejeição — a Lula, mas especialmente ao próprio Boulos — fez o serviço. Poucos deram crédito ao giro retórico do candidato rumo ao centro, concluído por uma contrafação eleitoreira da célebre Carta aos Brasileiros assinada por Lula no longínquo 2002. Ninguém ligou para a vice, Marta Suplicy, a quem o pensamento mágico atribuía o poder de atrair o voto periférico da Zona Sul.

Nunes e Tarcísio falam em ‘futuro’ ao celebrar vitória - Vera Magalhães

O Globo

Não à toa uma mesma palavra esteve presente nos discursos do prefeito reeleito de São Paulo, Ricardo Nunes, e do governador do estado, Tarcísio de Freitas, ontem: futuro. Durante todo o processo eleitoral, a coalizão construída para a campanha do emedebista foi tratada nos bastidores como um laboratório de uma nova frente ampla nacional.

O fenômeno de uma grande união suprapartidária elegeu Lula contra Jair Bolsonaro em 2022. Apenas dois anos depois, no entanto, o presidente não cuidou para que as alianças nas quais o PT figurou nos pleitos municipais tivessem uma configuração mais centrista, como aquela que levou nomes como Simone Tebet, João Amoêdo e Armínio Fraga ao seu palanque. Agora, a direita quer usar a vitória em São Paulo como ponto de partida para atrair essas forças para o seu quadrado.

Futuro da direita passa por acomodação entre Bolsonaro e Tarcísio - Malu Gaspar

O Globo

Numa eleição em que o Brasil rumou para o conservadorismo e a direita dominou o cenário, sobram interrogações sobre o dia seguinte, especialmente sobre os efeitos desse novo cenário sobre a configuração da direita e sobre a disputa pela presidência em 2026.

Uma das pistas para divisar uma resposta está na derrota no segundo turno dos candidatos pelos quais Jair Bolsonaro mais se empenhou —e que não por acaso ostentavam os discursos mais extremados. De Fred Rodrigues (PL), com quem o ex-presidente foi votar em Goiânia, a Bruno Engler, menino-prodígio do bolsonarismo em Belo Horizonte, passando por Cristina Graeml, apelidada de “Ivermectina Graeml” em Curitiba, todos apostaram na retórica agressiva ou na pauta de costumes para ganhar terreno e morreram na praia.

Duas derrotas em especial deram fôlego a desafiantes de Bolsonaro na direita: em Goiânia, onde Ronaldo Caiado emplacou Sandro Mabel (União), e Campo Grande, onde Teresa Cristina elegeu Adriane Lopes (PP). Ambos tem boas chances de chegar a 2026 como candidatos de seus partidos, justamente para aproveitar o apetite do eleitor pelo voto na direita e fazer boas bancadas para o Parlamento.

Fiasco da esquerda é novo alerta para governo Lula - Bernardo Mello Franco

O Globo

No dia seguinte ao primeiro turno, o ministro Alexandre Padilha tentou atenuar as derrotas da esquerda nas urnas. Alegou que “o conjunto de partidos que apoiam o governo” teria vencido as eleições municipais.

O balanço cor de rosa contabilizava triunfos de siglas do Centrão que ocupam ministérios, como PSD, MDB e União Brasil. Faltou dizer que essas legendas não apoiaram Lula em 2022 e não se comprometem a apoiá-lo em 2026.

Os partidos de esquerda e centro-esquerda disputavam o segundo turno em seis capitais. Perderam em cinco e venceram apenas em Fortaleza, onde Evandro Leitão (PT) bateu o bolsonarista André Fernandes (PL) por míseros 10 mil votos de diferença.

Sucessão presidencial passa por PSD e MDB - Andrea Jubé

Valor Econômico

São Paulo, Belo Horizonte e Porto Alegre, onde MDB e PSD derrotaram o PT e o PL, resumem o principal recado das urnas nas eleições deste ano

As ausências do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) nos palanques das principais vitórias do segundo turno, como São Paulo e Belo Horizonte, revelam que a sucessão presidencial está em aberto, e passará, obrigatoriamente, por PSD e MDB. Com a frase “o seu sobrenome é futuro”, o prefeito reeleito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), lançou o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) como candidato à Presidência da República em 2026.

Resultados municipais tiram força da polarização - César Felício

Valor Econômico

PSD termina o processo como o grande vencedor, com 887 prefeitos eleitos; MDB elegeu 854

O resultado final das eleições municipais deste ano relativiza a polarização nacional entre os campos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do ex-presidente Jair Bolsonaro. Quem ocupou o espaço do centro no segundo turno, na grande maioria das 50 disputas, foi o vencedor. Os candidatos que não conseguiram sair do espectro ideológico de seus partidos, na maior parte dos casos, foram derrotados.

O PSD do ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab terminou o processo eleitoral com o maior número de municípios (887). Venceu no domingo 9 dos 10 segundos turnos que disputou, inclusive em Belo Horizonte e Curitiba, respectivamente com Fuad Noman e Eduardo Pimentel.

O segundo em número de municípios é o MDB, que reelegeu Ricardo Nunes em São Paulo Sebastião Melo em Porto Alegre e elegeu Igor Normando em Belém. No total a sigla ficou com 854 municípios. Na divisão por eleitorado governado, MDB e PSD praticamente empataram na liderança, o primeiro administrando 27,7 milhões de eleitores e o segundo, 27,6 milhões.

Direita e esquerda no Brasil do século XXI - Bruno Carazza

Valor Econômico

Resultado das eleições legislativas mostram um eleitorado em mutação e em disputa em ambos os campos

Mais uma eleição se encerra. Partidos celebram seus eleitos e minimizam a frustração das derrotas. Apesar de as fotografias dos prefeitos eleitos nas principais capitais ocuparem as principais páginas da edição de hoje dos jornais, o importante mesmo é não perder de vista o filme que se desenrola ano após ano. No enredo da política brasileira neste século, temos um “plot twist”, além de personagens principais saindo de cena e dando lugar a novos protagonistas.

Para mostrar a evolução da disputa política neste século, calculei o percentual de votos que cada partido conquistou para o Legislativo - seja ele municipal, estadual ou federal. Eu gosto desta variável porque ela demonstra a força da legenda como um todo, e não apenas a dos candidatos para o Executivo, que tem um forte cunho personalista. Para além de medir a preferência dos eleitores, o número total de votos para o parlamento também reflete a capacidade de cada agremiação em atrair puxadores de votos para seus quadros.

Polarização de gênero? - Marcus André Melo

Folha de S. Paulo

Voto 'progressista' das mulheres existe há pelo menos 50 anos na Europa ou 30 anos nos EUA, e mais recente no Brasil

Nas eleições presidenciais americanas, nas eleições gerais na Europa e também nas municipais no Brasil há referências ubíquas a um suposto novo fenômeno no eleitorado: a clivagem de gênero (gender cleavage ou gap). O eleitorado feminino agora seria de esquerda, enquanto o masculino de direita. Ocorre que esta tendência não é exatamente nova; ela pode ser observada há pelo menos 50 anos (ou até 70 anos) em muitos países europeus e 30 anos nos EUA. No Brasil é mais recente, mas não apareceu agora.

Quando o sufrágio feminino adquiriu força no período entre as duas guerras mundiais e se generalizou no pós-guerra, a percepção geral era que o voto feminino era conservador. Há evidências nesse sentido para o período entre 1900 e 1955, quando o gap desaparece. Em "The Civic Culture" (1963), o primeiro grande estudo sobre valores e opinião pública, um clássico reverenciado da ciência política, Gabriel Almond e Sidney Verba concluíram que "o comportamento político das mulheres divergia dos homens apenas no sentido de ser mais apático, paroquial e conservador".

Nacionalização não ocorreu, mas ainda pode vir - Cláudio Couto

Folha de S. Paulo

Mais do que evitar levar consigo a culpa por eventuais derrotas, Lula escapou à armadilha de criar desafetos nestas eleições; já Bolsonaro, nem tanto

Como costumeiramente ocorre, as eleições municipais de 2024 não se marcaram pela nacionalização. Nem o eleitorado vota no município com a cabeça na política nacional, nem os pleitos municipais antecipam o resultado da subsequente disputa presidencial. Embora isto seja mais verdadeiro para pequenas e médias localidades, não deixa de valer para grandes, onde muitas disputas se resolvem só no segundo turno.

Apenas no caso da eleição para a Câmara dos Deputados a conquista de prefeituras e cadeiras nas Câmaras Municipais importa nacionalmente, pois constrói uma rede de articulação político-eleitoral relevante para candidatos cuja votação (apesar da regra proporcional do pleito) é primordialmente de natureza local, numa distritalização informal. Eleições majoritárias de base territorial ampla —governador, senador e presidente— têm outra dinâmica. Para elas, até ajuda dispor de uma ampla rede de correligionários implantada localmente, mas está longe de ser decisiva.

Eleição de 2024 foi a última pá de cal no enterro do PSDB - Camila Rocha

Folha de S. Paulo

Partido foi atropelado pelo bolsonarismo e, desde então, nunca mais conseguiu se recuperar

Os resultados das eleições de 2024 foram a última pá de cal no enterro do PSDB. O partido já havia sofrido perdas significativas nas eleições de 2022. Em uma federação com o Cidadania desde o último pleito nacional, as siglas que, em 2018, elegeram 37 deputados federais, perderam 19 parlamentares. Considerando apenas o resultado dos tucanos, a redução foi de 29 deputados para 13.

No Senado, o partido nunca havia tido menos de 10 integrantes desde 1990. Porém, em 2018 o número caiu para 8, e, em 2022, foi reduzido pela metade. Nos anos seguintes, a migração dos senadores Alessandro Vieira (SE), Mara Gabrilli (SP) e Izalci Lucas (DF) para outras legendas, fez com que o partido passasse a ter apenas um senador, Plínio Valério (AM), constantemente assediado por outras siglas.

Tarcísio temia ‘virada’ ao jogar sujo no dia da votação? - Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

O que soa mais surpreendente é que a margem de vantagem de Nunes sobre Boulos é grande o suficiente para que Tarcísio e o próprio Nunes não quisessem fazer marola

Guilherme Boulos chega à votação no segundo turno como chegou no primeiro: alvo de um jogo baixo, sujo, que demonstra medo, ou desespero, de quem faz. Antes, o adversário Pablo Marçal lançou aquele laudo grotescamente falso, envolvendo Boulos com drogas, agora o governador Tarcísio de Freitas joga no ar, sem mostrar qualquer prova, o apoio do PCC ao candidato do PSOL.