Correio Braziliense
O crescimento econômico de 2025 já ficou
comprometido com a política monetária contracionista e o movimento exagerado do
câmbio. Ainda assim, podemos ter um certo crescimento da indústria e do
agronegócio
Até meados de 2024, a economia superou as
expectativas, com forte crescimento do PIB, apesar da contração do agro. Havia
motivos para comemorar: inflação sob controle; a nova política industrial dando
resultados e a indústria puxando o crescimento e a criação de empregos; aumento
da arrecadação; anúncios de investimentos; aprovação da reforma tributária.
Em agosto, uma chave virou e o Brasil caminha para o fim do ano com um cenário preocupante de incerteza econômica em 2025. Preocupam o setor produtivo, o caminho rumo à racionalidade dos gastos públicos, a trajetória de alta da taxa de juros e a escalada do dólar. São gatilhos para agravar o desequilíbrio fiscal e comprometer o desempenho dos setores que mais contribuem para o crescimento. As consequências serão sentidas pela parcela da sociedade que mais precisa de desenvolvimento social.
A despeito de fragilidades fiscais, o
nervosismo do mercado financeiro e as decisões do Banco Central de subir a
Selic não podem comprometer o rumo da economia. Mesmo porque o deficit de 2024,
estimado em 0,18% do PIB para fins de avaliação da meta fiscal, não é motivo
para tanta mudança de expectativas, pois deve ficar dentro da banda inferior de
tolerância para o resultado primário. A tendência e a expectativa da evolução
do deficit devem motivar ações imediatas, com a convergência de todos os atores
públicos e econômicos.
Em 2025, as contas públicas apontam para um
deficit de R$ 42 bilhões — descontados os pagamentos dos precatórios —,
equivalente a 0,4% do PIB, apontando para um deficit fora da banda de
tolerância de 0,25% do PIB. O cumprimento da meta é exequível, mas depende de
um contingenciamento, que é viável, do orçamento. Mas a inquietude e as
expectativas negativas do mercado financeiro podem comprometer qualquer
projeção.
As medidas de redução de gastos propostas
pelo governo e aprovadas pelo Congresso, ainda que com desidratação, estimadas
em R$ 70 bilhões até 2026, contribuem para a sustentabilidade do novo arcabouço
e melhoram a sintonia entre as políticas fiscal e monetária. Elas freiam o
impulso fiscal sobre a atividade econômica, movimento iniciado no segundo
semestre de 2024 que deve seguir no próximo ano, favorecendo o controle da
inflação. Mais uma vez, a convergência entre os atores econômicos e políticos é
imprescindível para direcionar o país rumo ao crescimento sustentado.
Diante desse cenário, o patamar da taxa de
juros, em 12,25%, e, pior ainda, a expectativa de novas altas em 2025 são
desastrosas para o setor produtivo e asfixiam a economia. Cada ponto percentual
de elevação na Selic representa um custo fiscal de R$ 50 bilhões por ano.
Se as previsões se confirmarem e a Selic
crescer em 3 pontos percentuais entre 2024 e 2025, o custo galopa para R$ 150
bilhões ao ano. Um golpe certeiro para anular a economia prevista com o pacote
e afugentar o investimento de quem produz, cria empregos e renda e está
comprometido em desenvolver o Brasil.
Hoje, a especulação recai sobre o deficit
primário. Amanhã, sobre o deficit nominal, comprometendo qualquer chance de
equilíbrio fiscal. Temos de ser previdentes. As políticas fiscal e monetária
precisam ser de Estado.
Entre 2012 a 2021, o crescimento médio do PIB
foi de 0,5%. Dobrar o PIB nesse ritmo levaria 150 anos. No último triênio, o
Brasil teve um crescimento médio de 3%, nos colocando entre as 6 economias que
mais cresceram no G20. O resultado reflete o desempenho da indústria de
transformação, que recebeu condições mais adequadas para um novo impulso de
desenvolvimento, com a Nova Indústria Brasil. Quando a indústria vai bem,
transborda os resultados para os demais setores econômicos. Ganha o país
inteiro.
Sim, sozinho, o ajuste é insuficiente, mas
vai na direção correta, de racionalidade e equilíbrio nas contas públicas.
Ainda assim, a reação do mercado financeiro foi de desconfiança e nervosismo.
O crescimento econômico de 2025 já ficou
comprometido com a política monetária contracionista e o movimento exagerado do
câmbio. Ainda assim, podemos ter um certo crescimento da indústria e do
agronegócio. Urge que o Brasil tenha melhor coordenação macroeconômica para
permitir o desenvolvimento dos setores produtivos. O que vai viabilizar tudo
isso é um movimento de convergência, um espírito de nação por um pacto
nacional, envolvendo todos os Poderes, em esferas federal e subnacional, pelo
equilíbrio fiscal. A indústria e, tenho certeza, todo o setor produtivo e a
classe laboral estarão engajados nesse compromisso.
*Presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI)
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