Folha de S. Paulo
Crianças precisam se divertir com a bola
antes de aprender técnica e regras
Na quinta-feira, dia 25, aniversário de São
Paulo, que fará 470 anos, haverá a final da
Copinha entre Cruzeiro e Corinthians. Seria aniversário de Tom
Jobim, um dos maiores craques da história da música brasileira. É também
aniversário de um grande número de cidadãos brasileiros, como este colunista,
um idoso de 77 anos, racional, sonhador e independente.
Quero ver ainda a seleção brasileira ganhar mais uma Copa do Mundo e o Cruzeiro ser campeão do Brasileirão, da Libertadores ou da Copa do Brasil. Quero ver ainda o Brasil melhor, trocar muitas benesses, subsídios, fortunas em emendas parlamentares e fundos eleitorais por uma ação mais rápida e eficiente para diminuir os graves problemas sociais, como a violência, a má educação e a falta de saneamento básico e de água potável em quase metade das residências brasileiras, uma vergonha.
Continua o pré-olímpico que classificará duas
seleções sul-americanas para as Olimpíadas. A dupla de atacantes formada por
Endrick, do Palmeiras,
já contratado pelo Real Madrid,
e John Kennedy, do Fluminense, é uma grande promessa para o Mundial de 2026.
Quem sabe surja outro Vinicius Junior, que una muito talento, alegria e uma
firme crítica ao racismo.
O presidente da Fifa,
Gianni Infantino, disse que os
clubes que tiverem torcedores com atitudes racistas durante o jogo deveriam ser
automaticamente derrotados. Acho uma decisão fora da realidade. Não
há como os clubes controlarem os torcedores. Não acredito também que isso
diminuirá a criminalidade. Penso que seria mais correto o árbitro cancelar a
partida quando houver insistência em atitudes racistas. É um assunto que
necessita ser mais bem discutido.
A formação dos jogadores precisa ser
melhorada. Não basta os técnicos terem grandes conhecimentos científicos. É
preciso ajudar os atletas em seus problemas emocionais e incentivá-los a ser
mais criativos. O conhecimento vai muito além da informação, e a sabedoria,
muito além do conhecimento. O ótimo professor é o que ensina o aluno a aprender
sozinho.
Existe hoje, muitas vezes, uma inversão no
aprendizado. As crianças necessitam se divertir com a bola, desenvolver
habilidade e a fantasia, para depois aprender a técnica, o conjunto e as regras
do jogo. Há uma tendência de acelerar o aprendizado antes que os garotos tenham
condições psicomotoras adequadas para adquirir certas habilidades.
Quando comecei a jogar no juvenil do
América-MG, com 14 anos, o técnico Biju me chamou e disse: ‘Treine bastante com
os outros, mas não se esqueça de praticar sozinho, de fazer coisas diferentes,
de desenvolver o que você gosta’. Cada um faz do seu jeito. Tive bastante ajuda
do meu companheiro de ataque, o ótimo centroavante Paulo Kleber, alguns anos
mais velho do que eu, que é também médico, mestre. Moramos no mesmo bairro e
com frequência batemos um papo sobre futebol e
medicina.
Nas escolas públicas, que deveriam ser em
tempo integral, como sonhavam Brizola e Darcy Ribeiro, os garotos teriam aulas
de esporte, educação física, aprendizados didáticos e artísticos e ensino sobre
convivência social. A consciência é coletiva. A ex-atleta Ana Moser mostrava
essas preocupações em todas suas entrevistas. Ela sonhava em formar cidadãos,
antes de serem profissionais. Não entendi a razão de ela, nomeada ministra do
Esporte, ter sido trocada em tão pouco tempo. É a força do centrão.
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