O Estado de S. Paulo
O novo plano industrial do governo gerou receios de volta de fantasmas fiscais
O primeiro impacto do plano Nova Indústria
Brasil poderá ser um indigesto aperto das condições financeiras, apesar de o
Banco Central estar no meio de um ciclo de corte de juros, diante dos temores
de investidores e analistas de que o governo Lula irá ressuscitar os fantasmas
fiscais e parafiscais da gestão da ex-presidente Dilma Rousseff.
Um pacote de R$ 300 bilhões até 2026, sem transparência suficiente sobre como os gastos serão financiados – com aumento do crédito subsidiado –, tampouco metas concretas de avaliação da sua eficiência em termos de política pública, lançado num momento em que a política fiscal do governo Lula sofre uma grave crise de credibilidade com a ameaça de mudança da meta de déficit primário zero já no primeiro ano de vigência do novo arcabouço fiscal.
A lista de críticas ao novo plano vai longe. O “timing” do anúncio não podia ser pior, diante do aumento dos ruídos fiscais nas últimas semanas. Não à toa, na segunda-feira, após o anúncio, o dólar encerrou o pregão na maior cotação desde 31 de outubro, raspando a marca de R$ 5,00. O Ibovespa caiu 0,81%, enquanto os índices de ações nos EUA voltaram a subir para recordes históricos. E o mau humor também afetou os contratos futuros de juros no Brasil.
É muito provável que o novo plano industrial
do governo Lula deverá seguir causando ruídos e incertezas no mercado. Isso
significa aumento no prêmio de risco dos ativos brasileiros. E pode alterar o
balanço de riscos para o BC e os próximos passos da política monetária. É bom
lembrar que, na sua última reunião, em 13 de dezembro, a cotação do dólar que
serviu de referência para as projeções de inflação do Copom foi de R$ 4,90.
A não ser que o ministro da Fazenda, Fernando
Haddad, consiga em breve um acordo com os líderes do Congresso para voltar a
reonerar a folha de pagamentos e acabar – ou, mesmo, reduzir – com o Programa
Emergencial de Retomada do Setor de Eventos (Perse), não haverá alívio na
percepção do risco fiscal até a próxima reunião do Copom, nos dias 30 e 31
deste mês. O mercado ainda não precificou a mudança da meta de déficit primário
zero.
Ou seja, há espaço para correção adicional no dólar, na Bolsa e nos juros futuros. As incertezas com o novo plano industrial vão, provavelmente, manter as expectativas de inflação de 2025 (horizonte relevante da política monetária) e de 2026 bem acima da meta de inflação. Os temores do mercado sobre esse plano podem até ser infundados, mas o Copom precisa abordar essa piora do risco fiscal e parafiscal no seu próximo comunicado.
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