quarta-feira, 31 de julho de 2024

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Nota do PT sobre Venezuela precisa ser condenada

O Globo

Declaração em favor de Maduro enfraquece as credenciais democráticas do presidente Lula

A nota da Executiva Nacional do PT sobre a eleição na Venezuela, se não for rechaçada publicamente, abala as credenciais democráticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O texto divulgado na segunda-feira reconhece Nicolás Maduro como presidente eleito e descreve o pleito de domingo como uma “jornada democrática e soberana”. Nenhuma menção às irregularidades em série durante todo o processo eleitoral nem à repressão pelas Forças do regime e milícias aos protestos pacíficos contra a fraude. A nota contraria a posição de democracias ao redor do mundo, inclusive a do próprio governo brasileiro.

Lula e o PT têm laços com os governantes da Venezuela desde os tempos de Hugo Chávez e, ao longo dos anos, não faltaram palavras de apoio. Após uma contestada eleição para uma Assembleia Constituinte em 2017, Lula pediu uma salva de palmas ao pleito. Em 2019, rechaçou a pressão internacional sobre o país vizinho: “Cada um que se meta na sua vida, e deixem o povo da Venezuela [eleger] democraticamente seus dirigentes”. De volta ao Planalto, recebeu Maduro em Brasília afirmando haver uma narrativa autoritária sendo construída sobre ele. Em seguida, disse haver mais eleições na Venezuela que no Brasil e defendeu a ideia de que o conceito de democracia é relativo. Não é.

Cristovam Buarque - Os Estados do futuro

Correio Braziliense

O mundo precisa que o G20, sob o Brasil com a presidência do Lula, adote a ideia de que a educação é a chave para enfrentar o impasse civilizatório que integrou economicamente e desintegrou socialmente a humanidade

A humanidade não é mais tema abstrato apenas de filósofos, mas ainda não é preocupação concreta dos políticos. A presidência do G20 no Brasil é a chance de os políticos despertarem para o fato de que o mundo não é mais a soma dos países. Agora, cada país é um pedaço do mundo, em um tempo não mais de abundância, mas com recursos escassos e o Estado esgotado. Com o evento Estados do Futuro, na semana passada, no Rio de Janeiro, o governo Lula deu um passo nessa direção.

O governo reuniu líderes e acadêmicos para debater como devem ser Estados e governos no futuro para enfrentarem problemas planetários, taxar os super-ricos e executar uma aliança mundial contra a fome. Temas que não eram considerados antes, quando a agenda se concentrava nos assuntos econômicos, dentro do interesse de cada país, sem considerar os limites ecológicos nem a imoralidade da desigualdade social, da pobreza e da fome.

Roberto DaMatta - Eleição é rito de passagem

O Globo

Rituais de sucessão como eleições periódicas expõem a ambiguidade dos limbos, purgatórios e viagens

Toda mudança de papéis e de espaço social é uma “passagem”, e tal movimento requer uma ritualização confirmadora. Arnold van Gennep, que estudou e cunhou essa dinâmica ritual num livro clássico (“Os ritos de passagem”, publicado em 1909 e introduzido no Brasil em 2013, com minha apresentação), dizia que todas as passagens implicam separação, marginalidade e integração.

Dessas três fases, a mais perigosa é a intermediária. Fase na qual o grupo ou a pessoa não está onde estava, mas ainda não se encontra onde deveria estar. Rituais de sucessão como eleições periódicas — essa exigência da democracia liberal — expõem a ambiguidade dos limbos, purgatórios e viagens. Na campanha eleitoral, a dramaticidade dessa etapa intermediária da sucessão exibe o seu momento crítico.

Elio Gaspari - A POF de Lewandowski

O Globo

O que falta é segurança, não é polícia

Ricardo Lewandowski entrou no Ministério da Justiça com uma boa biografia, as melhores intenções e dois planos. Um criará o Sistema Único de Segurança, centralizando informações que estão dispersas na árvore do governo. A ideia é boa, restando-lhe o teste da prática. O outro plano é redundante e politicamente tóxico. Trata-se de anabolizar a Polícia Rodoviária Federal, transformando-a numa Polícia Ostensiva Federal, ou POF.

Pretende-se mexer com uma Polícia Rodoviária que funciona, mas tem problemas passados e presentes, berços para encrencas futuras.

Chamada de Polícia Rodoviária do Flávio (Bolsonaro), ela foi usada na tentativa de atrapalhar os movimentos de eleitores nordestinos no segundo turno da eleição de 2022. A manobra falhou porque o ministro Alexandre de Moraes ameaçou prender seu diretor.

Fernando Exman - Uma parte relevante do ajuste fica para o futuro

Valor Econômico

“Reforma orçamentária” mais estrutural deve ficar para o próximo governo

A esperada reação na Esplanada dos Ministérios ao congelamento de R$ 15 bilhões nubla duas importantes discussões conduzidas por interlocutores da equipe econômica e da ala política do Palácio do Planalto.

Reconhece-se que esse valor, definido pela Junta de Execução Orçamentária com a chancela do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, deve ser insuficiente para que a almejada meta de déficit fiscal zero seja atingida ao fim de 2024. As atenções já se voltam para o relatório bimestral de avaliação de receitas e despesas que será divulgado em setembro, com um novo congelamento de recursos no radar. O cumprimento do arcabouço fiscal é visto como questão de honra por auxiliares importantes de Lula e, segundo eles, pelo próprio presidente.

Mas, em paralelo e a despeito dos alertas feitos por especialistas, já se adia para o governo seguinte o que já se chama de “reforma orçamentária” mais estrutural. Em outras palavras, a revisão dos pisos da saúde e da educação e a realização de uma reforma da Previdência.

Martin Wolf - Ingenuidade sobre Trump ameaça o futuro

Valor Econômico

Os plutocratas precisam entender que riqueza só é uma fonte de poder se estiver protegida por um Estado governado por leis

Em 1999, o falecido Boris Berezovsky almoçou com o editor e jornalistas veteranos do Financial Times. Eu já o tinha encontrado em Moscou, em várias ocasiões. Berezovsky acabara de ter um papel de destaque em convencer os que eram próximos a Boris Yeltsin a nomear Vladimir Putin para ser primeiro-ministro e seu sucessor como presidente. Putin (que Berezovsky conhecera na época em que ele foi vice-prefeito de São Petersburgo) era então chefe do FSB, o serviço de segurança da Rússia. “Por que você confiou poder a um ex-agente da KGB?”, perguntei. E sua resposta ficou na minha memória: “A Rússia agora é um país capitalista. Em países capitalistas, os capitalistas detêm o poder”.

Meu queixo caiu, metaforicamente. Berezovsky era um homem inteligente, implacável e cínico, que passou grande parte de sua vida na União Soviética. Ele também era um russo que conhecia a história brutal da Rússia. E no entanto Berezovsky parecia acreditar na baboseira marxista sobre com quem o poder ficaria na Rússia supostamente “capitalista”. Claro, ele estava errado. O poder estava nas mãos do homem no Kremlin, onde sempre esteve. Talvez eu seja muito duro com ele. Os líderes ocidentais parecem acreditar que as sanções contra os oligarcas russos podem influenciar Putin. Não tenho ideia de por quê.

Presidente da Fiesp critica Campos Neto e juros altos

Fernanda Brigatti/Folha de S. Paulo

Para presidente da federação, varejo e indústria fazem propaganda gratuita da Shein

O presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Josué Gomes da Silva, disse nesta terça (30) que faltou um José Alencar ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na discussão sobre o patamar dos juros básicos, definido a cada dois meses pelo Banco Central.

Na véspera da reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) do BC, Josué afirmou considerar que seu pai, vice de Lula nos dois primeiros mandatos, era alguém que "falava com legitimidade sobre o assunto e ele [Lula] não precisava falar" e que, na falta de uma figura para ocupar esse papel, coube ao presidente colocar o tema em discussão.

Para o presidente da Fiesp, Lula politizou de maneira equivocada as decisões do Copom.

O atual vice-presidente Geraldo Alckmin (PSD), ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, também criticou publicamente o patamar dos juros básicos.

Desde o ano passado, porém, coube principalmente a Lula esse papel, que voltava a mira ao presidente do BC, Roberto Campos Neto. Após um período de trégua, diante das reações negativas do mercado, Lula retomou, nos últimos dias, as críticas a Campos Neto.

Fábio Alves - A hora de o BC falar duro

O Estado de S. Paulo

Se o Copom não abordar amanhã o risco de elevar a Selic de novo, o dólar pode subir além de R$ 5,70

Após a disparada do dólar e a piora das expectativas inflacionárias desde a sua última reunião, o Copom não terá como escapar de abordar um tema indigesto para o governo Lula no comunicado que acompanhará a decisão hoje: uma eventual alta dos juros até o fim do ano. Se não endurecer a mensagem já nesse documento, o Banco Central corre sério risco de perder o controle do câmbio e das projeções para a inflação no horizonte relevante da política monetária. Ninguém espera que, nesta reunião, o BC mexa na taxa Selic, atualmente em 10,50%.

Mariliz Pereira Jorge - Lula deixou Maduro se criar

Folha de S. Paulo

Seria bom que assumisse de vez que avaliou mal o governo do país vizinho

Lula vai precisar de muito mais do que "chá de camomila" para se posicionar sobre a situação na Venezuela. Seria bom que assumisse de vez que avaliou mal o governo de Nicolás Maduro e de que o país vizinho não é "vítima de narrativa de uma antidemocracia e autoritarismo". Para começar, reconhecer que o venezuelano é protagonista dessa crise, que as eleições foram fraudadas, que o nome do que acontece no momento é golpe de Estado.

Bruno Boghossian - Maduro completa a cartela

Folha de S. Paulo

Presidente deve ampliar dependência da cartilha autocrática para ficar no poder

Nicolás Maduro já era um ditador antes de anunciar sua candidatura a um terceiro mandato na Venezuela. Ao longo das décadas, o chavismo dominou instituições de controle, eliminou limites ao poder presidencial e exerceu um mando autoritário em aliança com os militares. Com a trama armada nesta eleição, o regime vai ainda mais fundo.

O presidente venezuelano completou a cartela de critérios que definem a escolha de um governante como uma farsa. Nos preparativos, órgãos controlados pelo chavismo restringiram a competição a partir do bloqueio de candidatos de oposição competitivos e cercearam a participação de eleitores, com regras duras para o voto no exterior.

Marcos Augusto Gonçalves - Apoio de PT e Lula à farsa de Maduro é vexame histórico

Folha de S. Paulo

Partido e presidente adotam negacionismo e oportunismo ideológico que parecem com bolsonarismo de sinal trocado

A apressada e irresponsável nota de apoio do PT à farsa eleitoral venezuelana é um dos episódios mais vergonhosos da história do partido e da esquerda brasileira. Considerar que o resultado do pleito foi "democrático e soberano" é de um cinismo absoluto. Boa parte das lideranças do PT parece ver o que chama de "democracia burguesa" como um trampolim para regimes autocráticos como os da Venezuela, China Rússia –na falta da saudosa ditadura do proletariado.

A eleição foi uma trapaça desde o início, quando a principal candidata de oposição, María Corina Machado, viu-se impedida de concorrer. Bastaria essa decisão arbitrária para caracterizar o processo como não democrático.

O despautério que foi a manifestação petista contou, na grande moldura, com o endosso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva que, pelo menos como chefe de Estado do Brasil, pediu mais detalhes sobre as apurações para conceder sua bênção ao ditador. Deu, porém, declarações ensaboadas em que se esforçou para normalizar tudo e livrar a cara de Maduro.

Marco Aurélio Nogueira - Vão fechar os olhos para as fraudes de Maduro, PT se desqualifica

O Estado de S. Paulo

É difícil entender a posição do PT no que diz respeito às eleições venezuelanas e ao regime de Nicolás Maduro.

A fraude está escancarada, com as previsíveis manobras autoritárias e intransparentes, a arrogância fora-da-lei dos que se proclamam vencedores, os protestos internacionais das democracias ocidentais e de vários governos da América do Sul.

O regime venezuelano é uma ditadura, simples assim. Ele abusa de simulacros democráticos, de uma retórica "revolucionária" e de uma coreografia de apoio popular que não existe de fato. Enquanto isso, milhões de venezuelanos caem na miséria, outros tantos fogem do país, a economia naufraga, o país se converte em pária internacional.

O roteiro é o mesmo de todas as ditaduras: manipulam-se as eleições e formam-se tribunais eleitorais fiéis, abrindo caminho para que os governantes se eternizem no poder. Putin é uma referência, assim como Orbán na Hungria. É o chamado "iliberalismo" em ação, misturado com formas reacionárias de populismo.

Luiz Carlos Azedo - PT perdeu a centralidade da democracia

Correio Braziliense

Não se compreende a aposta no alinhamento de Maduro ao eixo formado por Rússia, China, Cuba, Irã, Síria, Madagascar e Coreia do Norte, além de Honduras e Nicarágua

Para quem passou pela tentativa de golpe de Estado de 8 de janeiro de 2023, quando partidários do ex-presidente Jair Bolsonaro tomaram a Praça dos Três Poderes e invadiram seus palácios com objetivo de provocar uma crise institucional e destituir o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a nota do PT reconhecendo a “vitória” eleitoral do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, revela um partido político que perdeu a noção da realidade na qual atua.

A nota trata Maduro como “presidente reeleito” e descarta que o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) venezuelano divulgue os dados de cada local de votação, principal cobrança da oposição e de vários países. O Itamaraty considera essa divulgação o “passo indispensável para a transparência, credibilidade e legitimidade do resultado do pleito”. O CNE garante que Maduro venceu com 51,2% dos votos, ante 44% de Edmundo González, o principal opositor. Ninguém acredita.

Vera Magalhães - Lula relativiza defesa da democracia

O Globo

Presidente atrela mandato e, pior, o Brasil a ditadura sanguinária que deixa rastro de mortes, violações de direitos e miséria

Parecia que Lula adotaria uma postura ligeiramente mais prudente em relação às eleições eivadas de evidências de fraude na Venezuela, mas o temor de que, uma vez encorajado a falar, o presidente brasileiro não conseguiria esconder o viés pró-Maduro se confirmou com as declarações dadas por ele em entrevista ontem.

Seria cômico, se não fosse lamentável e gravíssimo, que Lula decida culpar a imprensa brasileira (!) por, segundo ele, transformar na “Segunda Guerra Mundial” o que seria um processo “normal”.

Fica explícito que, quando não está em ambiente controlado, o presidente não tem nenhuma divergência em relação a seu partido, o PT, que prontamente reconheceu a vitória autoproclamada de Maduro, sem a apresentação dos boletins de urna ou de qualquer comprovação de que os números anunciados pelo cooptado Conselho Nacional Eleitoral (CNE) correspondem à realidade da população que compareceu em massa para votar.

J. B. Pontes - Qual futuro do nosso País?

A maioria do povo brasileiro desconhece a realidade do País.

Perguntados, por exemplo, sobre a Província Mineral da Serra dos Carajás, no Estado do Pará, a grande maioria confessa que nunca ouviu falar. Poucos sabem que Carajás é o maior complexo minerário do mundo, rico em ferro, manganês, cobre, níquel, ouro, bauxita, zinco, prata, cromo, estanho, tungstênio e urânio.

Nada sabem sobre a vergonhosa história da privatização – ou entrega –, em  1997, da estatal Companhia Vale do Rio Doce - CVRD, que explorava as minas do Projeto Grande Carajás, atendendo aos interesses do capital internacional. Avaliada à época em cerca de 100 bilhões, ela foi vendida por apenas 3,3 bilhões, um verdadeiro crime de lesa-pátria cometido pelo governo Fernando Henrique Cardoso. No pacote foram também incluídas as minas de ferro do Estado de Minas Gerais e toda a infra-estrutura de propriedade da CVRD, a exemplo das ferrovias.

Poesia | "Soneto do desmantelo azul", de Carlos Pena Filho

 

Música | Mariana Aydar e Jazz Sinfônica - Triste, Louca ou Má

 

terça-feira, 30 de julho de 2024

O que a mídia pensa | Editoriais/Opiniões

Brasil precisa denunciar farsa eleitoral de Maduro

O Globo

Em nenhum momento o processo na Venezuela inspirou confiança. As irregularidades foram constantes

O Brasil e as demais democracias latino-americanas não podem ser coniventes com a farsa montada por Nicolás Maduro para permanecer no poder na Venezuela, usando eleições nada transparentes, cujos resultados são contestados pela oposição. Na madrugada desta segunda-feira, quando 80% dos votos tinham sido contados, o Conselho Nacional Eleitoral (CNE), órgão controlado por Maduro, anunciou que o atual presidente foi o vencedor do pleito realizado no domingo, com 51,2% dos votos, contra 44,2% obtidos pelo candidato da oposição, o ex-embaixador Edmundo González Urrutia. Os Estados Unidos e a União Europeia mostraram preocupação com as suspeitas de irregularidades. Em pronunciamento, o presidente chileno, Gabriel Boric, expressou a opinião da comunidade internacional ao declarar que os resultados oficiais “são difíceis de acreditar”.

Maria Cristina Fernandes - O fator Kamala na reeleição de Maduro

Valor Econômico

Pretensões americana e brasileira ainda serão testadas

As seções de votação tinham fechado as portas havia 23 minutos na Venezuela quando a vice-presidente americana Kamala Harris foi ao X para fazer três afirmações: a eleição havia sido histórica, a vontade do povo venezuelano deveria ser respeitada e os EUA, “a despeito de muitos desafios”, continuariam lutando por um futuro mais democrático, próspero e seguro naquele país.

A líder da oposição, María Corina Machado, ainda não havia vindo a público para denunciar a falta de acesso aos boletins de urna e anunciar a vitória de seu candidato, Edmundo González. Seis horas depois do encerramento da votação é que o presidente do Comitê Nacional Eleitoral, Elvis Amoroso, decretaria a vitória de Nicolás Maduro.

Nada disso impediu que Kamala antecipasse um tom que, a despeito de manifestar solidariedade com a oposição, parecia de conformidade com um resultado adverso. As fronteiras americanas são responsabilidade do secretário de Segurança Interna, Alejandro Mayorkas, mas a missão dada pelo presidente Joe Biden a sua vice, de endereçar soluções para a pobreza, violência e falta de oportunidades nos países vizinhos que agravam a imigração ilegal, fez com que a vice se tornasse o principal alvo dos republicanos no tema.

Eric Posner - Processos e política não se misturam

Valor Econômico

Se há alguma lição dos julgamentos de Trump, é que processos na esfera política em um país democrático têm mais chances de prejudicar aqueles no poder do que seus oponentes

Enquanto os Estados Unidos voltam suas atenções para a eleição presidencial entre Kamala Harris e Donald Trump, os processos contra o ex-presidente praticamente ficaram esquecidos. Os democratas, porém, têm a esperança de que o papel anterior de Kamala como promotora distrital possa ajudar a refrescar as memórias e a persuadir alguns dos cruciais eleitores indecisos a optar pela promotora em vez do criminoso. Será que isso vai funcionar? Ou será que a tentativa malsucedida de assassinato contra Trump mitificará retroativamente os processos, como se fossem as estações da Via Crúcis no caminho dele para se tornar quase um mártir?

Christopher Garman - Inflação é ameaça para Lula se Trump vencer

Valor Econômico

Mais inflação nos EUA e menos crescimento lá e na China seria péssimo para pretensões do presidente brasileiro em 2026

Uma série de eventos dramáticos colocou a eleição presidencial dos EUA ainda mais no centro das atenções globais no último mês. Primeiro foi um debate desastroso para o presidente Joe Biden contra Donald Trump; depois, um atentado contra o ex-presidente; e, por último, uma mudança na candidatura democrata que está animando suas bases.

As pesquisas de opinião publicadas depois que a vice-presidente Kamala Harris se tornou a virtual candidata democrata sugerem uma disputa mais apertada. Mas, na realidade, as intenções de voto estão voltando para o patamar de antes do debate, e Trump segue com leve favoritismo. A principal preocupação do eleitor americano continua sendo a economia, devido ao choque inflacionário de 2022 e 2023 que aumentou o custo de vida - e, nesse aspecto, Trump mantém vantagem. Logo, embora muito tenha mudado, os fundamentos da eleição continuam quase iguais.

Carlos Andreazza – Se liga, Dino

O Estado de S. Paulo

O orçamento secreto já está na terceira geração

Flavio Dino tem dúvidas sobre se o orçamento secreto acabou. Mesmo o Ministério do Planejamento lhe informando que remessas via RP2 “dispensam quaisquer identificações da origem de emendamento”.

O informe a lhe expor a natureza do drible; e ele incerto ainda sobre se os parlamentares pararam de remeter fundos orçamentários opaca e autoritariamente a suas paróquias. Não haveria, eis a prudência, “a comprovação cabal do pleno cumprimento” do que o tribunal decidira em dezembro de 2022. Marcou audiência a respeito para 1.º de agosto.

Dora Kramer - Não é bem assim

Folha de S. Paulo

Projetos para 2026 dificultam aceitar caráter de prévias para eleição de 2024

Esquerda e direita prometem forte embate nas capitais e grandes cidades, apostando que quem ganhar o maior número de prefeituras neste ano estará credenciado a amealhar vitórias em 2026. Pode ser que sim, mas pode não ser bem assim.

O sucesso da referida empreitada depende de alguns fatores. Se a ideia for ligar o desempenho municipal à eleição presidencial, convém retirar os cavalos da chuva. Já no que diz respeito à conquista de maior poder do Congresso, é possível considerar essa uma boa aposta.

Alvaro Costa e Silva - espião que não gosta das urnas

Folha de S. Paulo

Facada em Bolsonaro abriu caminho para arrivismo e golpismo do delegado

Delegado da PF eleito deputado da bancada da bala, Alexandre Ramagem se aproximou de Bolsonaro em 2018, quando virou chefe da segurança do candidato a presidente depois da facada em Juiz de Fora. Um destino marcado pelo ato de Adélio e os esgares do capitão.

Logo se tornou íntimo dos Bolsonaro, em especial do filho 02, Carlos, percebendo que ali estava o caminho das pedras, a mágica que permitia aos membros do clã a compra de apartamentos em dinheiro vivo. Um arrivista de Balzac não subiria na vida com mais rapidez. Em 2019 já era assessor da Presidência. Ao nomeá-lo diretor-geral da Abin, Jair admitiu: "Grande parte do destino da nossa nação e das decisões que eu venha a tomar partirão das mãos dele". Era o plano do golpe rolando a ladeira.

Hélio Schwartsman - Maduro não largou o osso

Folha de S. Paulo

Regime pode sobreviver tornando-se mais autoritário, mas fraude escancara sua fragilidade

Como previsto, Nicolás Maduro e seus lugares-tenentes não largaram o osso. Alegam ter vencido o pleito presidencial com 51,2% dos votos, mas os sinais de fraude são volumosos. O que acontece agora?

No cenário que me parece mais provável, a oposição ensaia protestos que serão reprimidos. Por ter transformado os militares em sócios dos esquemas de extração de rendas estatais, Maduro conta com sua lealdade. Com o tempo, manifestações arrefecem, lideranças oposicionistas podem ser presas, e o bolivarianismo sobrevive operando num patamar ainda mais elevado de autoritarismo.

Joel Pinheiro da Fonseca – A tolice da esperança

Folha de S. Paulo

Brasil é impotente perante a fraude de Maduro, mas pode aprender a lição

A esperança é mesmo um veneno. Poucas horas depois de Nicolás Maduro se declarar vencedor de uma eleição roubada do início ao fim, sem nem se dar ao trabalho de publicar as atas eleitorais, já me pego torcendo para que os protestos contra seu regime que pipocam por todo o país cresçam e finalmente o destronem.

Levantes populares massivos podem forçar a renúncia do ditador? Podem. Mas, como ele tem o apoio das Forças Armadas, conta com milícias armadas paramilitares e já mostrou no passado que não tem o menor problema em matar centenas de manifestantes, não parece um desfecho provável. É apenas a esperança completamente irracional que insiste em manter viva sua pequena chama.

Luiz Carlos Azedo - Lula aguarda atas para reconhecer vitória de Maduro

Correio Braziliense

A posição do governo brasileiro, até agora, coincide com a dos Estados Unidos, do México e da Colômbia. É a mesma da Inglaterra, da União Europeia e da Organização das Nações Unidas (ONU)

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva está numa saia justa e tenta ganhar tempo para uma tomada de posição em relação à reeleição do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, diante dos indícios de que as eleições foram fraudadas. Sem divulgação das atas das seções eleitorais e/ou eventual recontagem de votos, a tendência do governo brasileiro será aguardar a evolução do processo e somente reconhecer a vitória de Maduro quando isso for inevitável para manter as relações comerciais do Brasil com o país vizinho.

Nesta segunda-feira, a nota divulgada pelo Itamaraty sinalizou nessa direção. As reportagens publicadas pela Agência Brasil sobre as eleições venezuelanas, também. O Conselho Nacional Eleitoral (CNE) da Venezuela proclamou um resultado oficial — sem nenhuma comprovação documental até agora —, segundo o qual Maduro teria recebido 51% dos votos, contra 44% de Edmundo Gonzáles. A oposição contesta esse resultado com base em cópias das atas obtidas por seus fiscais. Gonzáles teria recebido 70% dos votos.

Pedro Doria - Os democratas e os outros

O Globo

Houve fraude. Para ser mais claro: há um golpe de Estado em curso na Venezuela

O bolsonarismo separou, na direita brasileira, quem tinha convicções democráticas de quem não tinha. Não é uma afirmação justa para fazer a respeito de todos os brasileiros que votaram em Jair Bolsonaro em 2022. A maioria das pessoas não pensa muito sobre política, no máximo lida como se fosse esporte com torcida. Não é o caso de todo mundo que pensa política diariamente e compreende o processo democrático. Bolsonaro deixou claro no governo que não era democrata. Quem entendeu isso e seguiu, pois é. Esta eleição na Venezuela terá efeito similar na esquerda. Separará os que têm convicções democráticas dos que não têm.

Vamos ser claros: houve fraude. Para ser mais claro: há um golpe de Estado em curso na Venezuela. Um autogolpe sendo impetrado pelo governo Nicolás Maduro.

Merval Pereira - Simulacro de democracia

O Globo

Brasil coloca em risco sua reputação e liderança regional para apoiar um ditador que não tem a menor importância política

O presidente Lula colocou o país que governa numa situação difícil diante da comunidade internacional. Se não estivesse por lá o assessor especial Celso Amorim “buscando a verdade”, poderíamos ter uma posição diplomática mais condizente com a realidade. Como disse o presidente do Chile, o esquerdista Gabriel Boric, “é difícil de acreditar” que Maduro tenha recebido 51% dos votos de um eleitorado limitado aos cidadãos que o próprio governo autorizou a votar.

Só esta última frase já define bem a qualidade da democracia da Venezuela, que um dia Lula considerou ter eleição até demais. A de ontem foi a primeira em que, apesar dos pesares, a oposição tinha chance real de vencer, como indicavam diversas pesquisas de opinião independentes.

Na situação em que se davam as eleições, com candidatos oposicionistas proibidos de se candidatar por decisão de uma Justiça Eleitoral dominada pelo chavismo, e com milhões de eleitores no exterior impedidos por questões burocráticas de participar do pleito, o mais prudente teria sido evitar o envio de representante brasileiro, como fez o Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Poesia | Manuel Bandeira - Evocação do Recife

 

Música | Marisa Monte -Na Estrada

 

segunda-feira, 29 de julho de 2024

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Desmatamento amplia escassez de água no Brasil

O Globo

Faltam políticas eficazes para a proteção das nascentes dos rios e das reservas de água doce do país

Conhecido por concentrar 12% da água doce do mundo, incluindo dois dos maiores aquíferos do planeta (Guarani e Alter do Chão), o Brasil começa a enfrentar escassez crônica de água onde antes ela era abundante. O principal motivo é o desmatamento.

Quando chove, o solo sob as árvores funciona como uma esponja. “Cria-se uma gigantesca caixa- d’água debaixo das florestas”, escreveu em artigo recente no jornal O Estado de S. Paulo o economista Cláudio de Moura Castro. “Essa caixa vaza, lentamente, abastecendo os lençóis freáticos. Em algum lugar, esses lençóis viram nascentes que, ao longo do ano, fluem para os rios.” Sem as árvores, “a água da chuva escorre célere, pois o terreno pelado não a absorve”. As nascentes e lençóis freáticos secam aos poucos.

Fernando Gabeira - Biden, política e velhice

O Globo

Num sistema econômico que valoriza o vigor e a beleza, há forte tendência a marginalizar os velhos

A desistência de Joe Biden me fez refletir sobre a velhice. Não preciso dele; afinal, é dois anos mais novo que eu. Usaria o caso num debate sobre o tema de que participei no Museu do Amanhã. A mesa tinha um título atraente: “Quantas vidas há numa vida?”. Sugeria que podemos nos inventar muitas vezes. Comecei me distanciando um pouco do título, pois acho a velhice ativa uma exceção na sociedade moderna. Concordo com as teses básicas do melhor livro escrito sobre o tema: “A velhice”, de Simone de Beauvoir.

Num sistema econômico que valoriza o vigor e a beleza, há uma forte tendência a marginalizar os velhos. O vigor se vai com os anos, e nos tornamos fisicamente invisíveis, como se a vida fosse uma longa viagem no metrô de Londres. Biden fez bem em deixar o páreo. A campanha giraria em torno de sua idade e capacidade cognitiva. Agora, isso virou um problema de Trump.

Miguel de Almeida - O futuro que esquerda e direita mal enxergam

O Globo

Agenda brasileira permanece em sua contumaz esquizofrenia entre moderno e arcaico

Não é de estranhar que os bolsonaristas incentivem memes contra Fernando Haddad. Desde já percebem de onde surgem indícios de uma política pública alternativa à polarização — e com resultados. Estranho seria se os alvos fossem Sonia Guajajara ou Anielle Franco, com suas práticas datadas. O ótimo livro de Daron Acemoglu e Simon Johnson “Poder e progresso”, ao mergulhar na história das tecnologias e de seus reflexos sociais, escancara como a agenda brasileira permanece em sua contumaz esquizofrenia entre moderno e arcaico. Calma, o Brasil não é personagem da obra, porque nossa vocação extrativista é antes um fenômeno sociopatológico, jamais econômico. Nas páginas, encontram-se até pistas para compreender o retrocesso chamado Trump. Ou Bolsonaro, seu êmulo (até nos muitos casamentos).

Bruno Carazza - Contagem regressiva para Trump e Kamala

Valor Econômico

Em pouco mais de um mês, a eleição nos Estados Unidos virou de ponta à cabeça várias vezes. O debate presidencial de 27 de junho, seguido pelo atentado a Donald Trump em 13 de julho, a desistência de Joe Biden no dia 21 e o subsequente endosso do seu partido à vice Kamala Harris levaram a diversas mudanças nas perspectivas de vitória para republicanos e democratas.

Faltando cem dias para os americanos irem às urnas, não apenas a política, mas também a economia, os costumes, a geopolítica, a geografia e o dinheiro assumem papel determinante para definir quem será o 47º presidente da nação mais poderosa do mundo.

Alex Ribeiro - Fiscal alivia, mas dólar põe pressão no Copom

Valor Econômico

Os ruídos diminuíram depois que o presidente Lula parou de falar sobre juros

Com o mercado financeiro precificando altas de juros ainda neste ano, é grande a expectativa sobre se o Comitê de Política Monetária (Copom) vai indicar em reunião nesta semana que isso não seria preciso, pelo menos nas condições atuais - e se vai dizer que considera equilibrados os riscos negativos e positivos no seu cenário inflacionário.

Se isso ocorrer, de certa forma será um repeteco do que o comitê disse na reunião de junho: de um lado, reafirmar que os juros no patamar atual, de 10,5% ao ano, são suficientes para colocar a inflação na meta; de outro, avisar mais uma vez que está pronto para agir, se for preciso apertar mais.

Maduro é declarado vencedor na Venezuela com 51,2% dos votos

Valor Econômico / Por Agências internacionais

Segundo autoridade eleitoral do país, o candidato da oposição recebeu 44,2%; EUA pedem divulgação do relatório da apuração

Nicolás Maduro, 61 anos, foi declarado o vencedor da eleição presidencial na Venezuela realizada ontem, com 51,2% dos votos, com 80% dos votos apurados, segundo informou a autoridade eleitoral do país na madrugada desta segunda-feira (29).

O principal candidato da oposição, Edmundo González, um ex-diplomata de 74 anos, ficou com 44,2% dos votos, segundo anunciou Elvis Amoroso, presidente do Conselho Nacional Eleitoral (CNE). Ele atribuiu o atraso na divulgado dos resultados a um problema de “agressão” no processo eleitoral, mas sem entrar em detalhes. Amoroso também indicou que a taxa de participação dos venezuelanos foi de 59%.

Diogo Schelp - Vizinho precisa deixar de ser um ‘país-problema’

O Estado de S. Paulo

Os interesses brasileiros e o contexto geopolítico envolvendo a Venezuela mudaram

O teatro eleitoral venezuelano não se encerra quando as urnas são fechadas. A fase mais angustiante para os milhões de cidadãos que almejam mudança em um país castigado por 25 anos de regime chavista começa agora. A posse presidencial se dará apenas em 10 de janeiro e, até lá, há de se esperar muita contestação, intimidação e tensão política. Esse é o momento propício para o governo Lula promover uma reorientação profunda em sua política externa. A Venezuela precisa deixar de ser um “país-problema” para o Brasil.

Thomas Friedman - Um líder pequeno para o momento

New York Times / O Estado de S. Paulo

Acordo de cessar-fogo espera decisão de Netanyahu, que teme agir sem aval da extrema direita

Quando penso no discurso do primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, na quarta-feira, em uma reunião conjunta do Congresso dos EUA, a primeira coisa que me vem à mente é um famoso ditado: “Há décadas em que nada acontece, e há semanas em que décadas acontecem”. Esta é uma daquelas semanas para Israel, os Estados Unidos e o Oriente Médio. Uma década está pronta para acontecer – ou não.

Por puro acidente, a semana passada marcou a sobreposição de um conjunto de pontos de virada entre guerra ou paz que nem Tolstoi poderia imaginar. Na sequência da decisão de Biden de colocar seu país à frente de seus interesses pessoais e ceder o poder, Netanyahu – que consistentemente faz o oposto – chegou a Washington. E enfrentou duas decisões que poderiam proporcionar a Biden um enorme legado de política externa e, ao mesmo tempo, transformar o legado de Netanyahu – ou não.

André Gustavo Stumpf - A luta contra a direita

Correio Braziliense

Apareceu a novidade Kamala Harris, com seu sorriso aberto e o sopro de juventude numa eleição dividida entre dois velhos com ideias antigas. Ela representa o novo

França e Estados Unidos mantêm um curioso caso de influência política recíproca. Quando os norte-americanos proclamaram a independência das 13 colônias da Inglaterra, em 1776, seguiu-se uma guerra que durou até 1781. O governo francês auxiliou os rebeldes da América com navios de guerra, munições e soldados. A independência da antiga colônia inglesa se antecipou e assimilou os princípios políticos da repartição do poder que seriam consolidados na Revolução Francesa de 1789. Os laços entre os dois países são antigos e tradicionais, tanto que Alexis de Tocqueville, francês, escreveu, no início do século 19, seu célebre A democracia na América.