Correio Braziliense
Para grande parte da população, o acesso ao
trabalho, à educação, à saúde e ao lazer depende diretamente da qualidade e da
oferta do transporte público
Em 5 de outubro de 1988, o Brasil deu um
passo definitivo rumo à consolidação da democracia com a promulgação da atual
Constituição Federal, também conhecida como Constituição Cidadã, pois em suas
páginas estão inscritos os direitos civis, políticos, sociais e econômicos que
garantem uma convivência democrática e igualitária.
Completado 36 anos, esse documento histórico vem evoluindo e se firmando como um marco na garantia dos direitos fundamentais e na preservação das liberdades individuais. Exemplo disso foi a inclusão do transporte no rol dos direitos sociais previstos no seu artigo 6º, em 2015, por meio da Emenda Constitucional nº 90, reafirmando o papel do Estado em prol de uma vida digna a todos. Sua importância é inegável, servindo de base para a construção de diferentes ações públicas, como a Política Nacional de Mobilidade Urbana, que prevê a participação da sociedade civil no planejamento municipal.
No atual processo eleitoral, manifestação
pujante da democracia em nosso país, ao lado de grandes temas, como
educação, saúde e segurança, a mobilidade urbana tem sido cada vez mais
debatida entre a sociedade e os candidatos. Trata-se de um tema central,
principalmente nas médias e grandes cidades brasileiras, onde a concentração
populacional e a desigualdade social impõem desafios à locomoção dos cidadãos.
Debater o transporte e a mobilidade contribui com a construção da cidadania
plena e de uma sociedade justa.
Para grande parte da população, o acesso ao
trabalho, à educação, à saúde e ao lazer depende diretamente da qualidade e da
oferta do transporte público. O direito à cidade e o direito de se locomover
por ela com dignidade e segurança são pilares fundamentais de uma sociedade
democrática. Assim, quando falamos em mobilidade, falamos também em
cidadania.
Porém, muitos municípios ainda não têm seu
plano de mobilidade urbana, evidenciando um descompasso entre o debate
eleitoral e o planejamento democrático da cidade. Segundo dados do Ministério
das Cidades, atualizado em setembro de 2024, considerando os municípios
obrigados a elaborar o plano de mobilidade, apenas 293 declararam ter aprovado
o documento, o que representa cerca de 15% da totalidade. Em um recorte
envolvendo apenas os municípios com mais de 250 mil habitantes, temos apenas 70
planos aprovados, o que representa 60% do total, um percentual ainda
insatisfatório.
Finalizadas as eleições em muitos municípios
e ainda na oportunidade de debater com os candidatos que concorrem em segundo
turno, é fundamental colocar em prática a experiência desses 36 anos de
democracia de nossa Carta Magna e cobrar a efetiva materialização da
participação popular nos planos de mobilidade urbana, seja elaborando-os, seja
revisando-os. O fortalecimento da mobilidade urbana é também o fortalecimento
da democracia. Ao garantir o acesso aos espaços urbanos e às oportunidades de
emprego e renda, estamos promovendo uma sociedade mais inclusiva e equitativa.
A Constituição Federal, ao determinar a
função social da cidade, torna-se um instrumento de luta pela construção de uma
sociedade mais humana. Nessa linha, os planos de mobilidade urbana constituídos
a partir da participação da sociedade civil colaboram com a promoção do direito
à cidade, do desenvolvimento econômico, da inclusão social, da paz no trânsito
e dos ganhos ambientais, além de fortalecer a democracia.
O desafio que se coloca hoje é transformar os
princípios estabelecidos há 36 anos em práticas cotidianas que beneficiem toda
a população. Que os prefeitos, prefeitas, vereadores e vereadoras eleitos
possam, efetivamente, à luz da Constituição Federal, promover a participação
popular nos processos de planejamento e avaliação dos sistemas de mobilidade de
suas cidades, bem como possam aprovar ou aprimorar os tão necessários planos de
mobilidade tendo como base os princípios, diretrizes e objetivos da Política
Nacional de Mobilidade Urbana.
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