O Estado de S. Paulo
Eis que de repente o governo Lula começou a
correr atrás do grau de investimento, selo de qualidade dos títulos públicos,
que antes não considerava mais do que desimportante “objetivo dos banqueiros da
Faria Lima e dos rentistas do Brasil”.
Em 23 de setembro, Lula enfrentou olho no olho os dirigentes das três mais importantes agências de rating (avaliação de risco), a Moody’s, a Fitch e a S&P, de modo a pressioná-los a reconhecer o Brasil como país que honra seus compromissos de dívida e que conduz suas contas com qualidade.
Nesta semana, por ocasião da assembleia anual
do Fundo Monetário Internacional, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad,
voltou a se encontrar com os dirigentes das agências de avaliação de risco. E,
ainda, avisa que o grau de investimento é meta prioritária do governo Lula –
uma novidade, porque nem por ocasião da elaboração das diretrizes de governo,
em 2022, esse objetivo foi mencionado nos documentos e nas exposições aos
eleitores.
Ora, a exigência número um para que a dívida
do Brasil passe a ter alto grau de confiabilidade é uma reviravolta nas
condições das contas públicas, hoje em situação precária. É o que pode dar
segurança ao credor de que não haverá calote, como houve no passado. Como o
ajuste com base no aumento da arrecadação já deu o que tinha de dar, não há
saída senão usar o tesourão de poda.
Outra figura de proa do PT, antes mais
identificada com a área heterodoxa do governo, o atual presidente do BNDES,
Aloizio Mercadante, também passou a fazer declarações opostas ao espírito da
desastrada Nova Matriz Econômica, do governo Dilma, com a qual já se
identificara. Mercadante passou a admitir que “o Brasil tem vulnerabilidade
fiscal importante”. Também repetiu que “conseguir grau de investimento tem de
ser meta fundamental do governo”.
Tanto Fernando Haddad como a ministra do
Planejamento, Simone Tebet, vêm anunciado que o governo prepara um pacote de
corte de despesas, a ser divulgado depois do segundo turno das eleições.
Sobre temas fiscais, até agora, o presidente
Lula tem usado outra cartilha e não passa firmeza de que concorde com Haddad,
Tebet e Mercadante. Insiste em que não são possíveis cortes em despesas sociais
e que despesa com saúde e educação não são gastos, mas investimentos. Isso
equivale a jogar cascas de frutas na rua sob a justificativa de que são
materiais biodegradáveis – e não, simplesmente, lixo orgânico.
Algum técnico em Contas Nacionais deveria
dizer ao presidente Lula que investimentos também são despesas, ainda que
destinadas a cumprir importantes objetivos nacionais, como aprimorar a educação
e a saúde.
Falta saber o que sairá de dentro desse
pacote. O risco é o de que se repita o acontecido tantas e tantas vezes: que em
meio a gritos e gemidos, a montanha dê à luz apenas a um camundongo.
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