domingo, 10 de novembro de 2024

Trump 2, segundo um Prêmio Nobel – Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Planos incentivam tecnologia antitrabalhador e minam bases da economia de inovação

O que esperar da economia americana sob Donald TrumpDaron Acemoglu, um dos premiados com o Nobel de Economia deste ano, deu sua opinião em uma espécie de autoentrevista no X/Twitter, neste sábado (9).

Não haverá boas notícias para os trabalhadores. As ideias trumpistas sobre inteligência artificial vão prejudicar cidadãos, consumidores (que serão manipulados, como nas redes sociais) e setores da economia, por falta de regulamentação adequada.

A desregulamentação, na linha do que pensam grandes investidores e capitalistas de risco mais imprudentes do Vale do Silício, vai incentivar a automação. "Não vai se concretizar o potencial [da IA] como tecnologia de informação que pode ajudar os trabalhadores" (Acemoglu costuma defender intervenção governamental que induza o uso de tecnologia "pró-trabalho").

Trump deve colocar gente incapaz para regulamentar assuntos como educação, saúde, negócios online, tecnologia e serviços para o consumidor. Vai assim prejudicar uma economia que depende de regulação de alto nível, não de curas milagrosas ("snake oil"), a fim de manter seu padrão de inovação.

Trump terá a sorte de ver os bons efeitos da política econômica de Joe Biden, sem o ônus que pesou sobre o democrata (contribuiu para a inflação). Quais políticas? Incentivos e dinheiros do governo para pesquisa e produção de chipstransição energética e infraestrutura (obras que vão impulsionar a indústria). Tais iniciativas também vão melhorar salários na base da pirâmide.

Impostos de importação ("tarifas") maiores sobre produtos chineses não vão trazer empregos de volta. É improvável que Trump tribute bens de países aliados (o que de resto prejudicaria o crescimento, pois afeta cadeias de fornecimento para empresas americanas).

Em boa parte graças ao Fed, a inflação diminuiu. Os benefícios da política de Biden e da ação do banco central americano serão faturados por Trump. Mas tarifas elevam preços a curto prazo; a intervenção prometida por Trump no Fed pode realimentar a inflação.

Cortes de impostos vão ajudar grandes companhias e a Bolsa. Mesmo que isso eleve investimentos, grande parte deles irá para o setor de tecnologia e automação, os quais, desregulados, serão daninhos. Trump pode favorecer suas empresas prediletas, como as de energia e petróleo.

Trump é ameaça às instituições. Não quer dizer que a democracia vá acabar em quatro anos (embora tal cenário não possa ser descartado). Quer dizer que vai enfraquecer normas democráticas, aumentar a incerteza e a arbitrariedade das políticas públicas, aprofundar a polarização e solapar ainda mais a confiança em instituições, incluindo o Departamento de Justiça, que Trump quer transformar em meio de perseguição política.

Nada disso vai causar colapso econômico imediato. Mas, a médio prazo (uns dez anos), instituições fracas, incerteza elevada e baixa confiança em tribunais, contratos e partes vão cobrar seu preço em termos de investimento e eficiência, ainda mais em uma economia baseada em tecnologia complexa e avançada.

Sem mais inovação e produtividade, salários não aumentam. Se não se investe em mais tecnologia pró-trabalhador, renda e empregos estarão ameaçados. Se instituições importam, o programa de Trump terá um custo para a economia americana. O problema é que tais efeitos vão demorar para aparecer.

4 comentários:

Anônimo disse...

Perdeu mané não amola!!
O choro é livre!!
Essa turma da esquerda não cansa com essa ladainha de narrativa esquerdista

Mais um amador disse...

" Não há respostas simples para problemas complexos. "

" Subjetividades ", especulações, apostas... e um futuro, em grande parte, ( quase ) incerto e ( quase ) indefinido.

" O futuro a Deus pertence. "

Por mais cerebrais ou " gurus " que fossem/sejam Marx ou os " Nobéis " de economia, o que podemos fazer é especular. Apontar e sugerir tendências. Isso é dizer o óbvio. Alguns acertam um pouco mais aqui; erram mais ali. E assim seguimos em meio ao indefinido.

😏😏😏

ADEMAR AMANCIO disse...

Muito boa a análise.

Anônimo disse...

Sim, excelente análise!